sábado, 17 de dezembro de 2011

Mulher na Polícia.


Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta

Nestes dois anos de blogueira policial num país onde inexplicavelmente ainda existe tanta corrupção, miséria, impunidade e violência revoltantes "De uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta" o que mais me surpreende é o carinho que recebo das pessoas que conseguem ler além das imperfeições e presepadas que escrevo aqui. Amigos que conseguem enxergar mais do que até eu mesma queria mostrar.

É muito frustrante não poder corresponder de uma forma mais concreta. Queria muito, muito, muito... poder te dar um longo abraço apertado. Segurar a tua mão por um instante ou só olhar as cores lá dentro dos seus olhos, e aí sim, te agradecer pessoalmente por esse carinho gostoso, por esse afago de alma, por você me permitir falar, trocar, dividir, rir e chorar contigo assim.

Infelizmente não é possível. Mas até que tem suas vantagens, porque trago uma pretensão enorme aqui no peito. A de que você me veja em cada mulher que trabalha na polícia. Que tem desafios muitas vezes bem maiores que os meus, mas que também "merece viver e amar como outra qualquer do planeta". De certa forma isso já acontece. São vários os relatos nesse sentido é só ler os comentários. A Dayne Dantas, por exemplo, viu a foto acima* e se lembrou de mim. Fofa!

Queria que neste Natal você transferisse esse carinho gostoso que tem por mim para alguma policial aí da delegacia mais próxima da sua casa. Vamos, seja corajoso (a) converse com ela e diga-lhe algo que você imagina que eu gostaria de ouvir pessoalmente de um estranho. Incentive-a como você faz comigo! Quem sabe não sou eu mesma! Ahhh, vai... Leve um cartãozinho. Um bombom. Uma rosa. Mulher é mulher independente da profissão. E depois me conta. Porque se vai funcionar eu não sei, porém no mínimo a gente vai dar boas risadas.

Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...**

* Foto de Diego Calvo, gentilmente autorizada a exibição neste blog.
**Letra de Milton Nascimento, Maria Maria.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Polícia Esporte Clube.

Duas colegas das antigas vieram de longe, pes-so-al-men-te e muito interessadas em me convidar para compor uma equipe para um certo campeonato de voleibol... Olha que coisa... Vazou que na época do curso tinha uma aluna batendo uma duplinha nas quadras da Academia e coisa e tal... Era eu, gente... e o vício da bola. (Bom, se o serviço de inteligência da polícia funciona, eu não sei, mas o da mulherada aqui é o Ó). Já fui! E elas gostaram do meu jogo! E eu sou titular no time! E a gente tá indo muito bem, obrigada! E o time sai pra comemorar! E muita gente agora aprendeu meu nome (É, eu tenho um!). Também tenho convites pra treinar atletismo, natação... Palmas para a nossa Associação de Policiais! E é isso... Encontrei a minha "tribo" na polícia!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Special Victims Unit




Fui pra casa e fiquei até altas horas refletindo histericamente naquela sentença do Jack: "uma missão que por suas características só vou poder te passar as informações minutos antes do embarque". Não só porque a ouvi diretamente do Jack Bauer mas porque a missão do dia seguinte tinha certas "características", certas "informações" e um certo "embarque"! Entendeu? Nem eu. Mas foi só isso que ele me disse, porque não podia dizer mais nada. Na minha mente, eu repassava cada palavra enfatizada por um eco que não existia na versão original, mas que tava lá na minha memória. Sei que você, caro leitor, no meu lugar poderia querer saber coisas tais como "Tá, mas pra onde eu vou?" ou "Que tipo de missão seria?", "Aceita débito automático?" ou talvez perguntaria apenas: "O que eu preciso saber?", sei lá, essas coisas normais. Mas a dúvida que mais me atormentava era: "Com que roupa eu vou?".

Preciso confessar uma coisa. Tudo bem que minha experiência nessa área especifica em que trabalho (emprestada para o setor do Jack Bauer) já está se estabelecendo na minha identidade policial. Tudo bem que sinto que o Jack já meio que conta comigo e já me passa missões com mais confiança. Tudo bem que às vezes eu tomo a frente das coisas, porque tem muito policial caindo de para-quedas nesta seção, e eles são bem mais hit parade na polícia do que eu, mas que se enrolam bastante pelas bandas de cá. E tudo bem também que este blog já vai fazer dois anos de vida (U-hu, galera!).  Mas a verdade é que na altura do campeonato eu já esperava ter marcado muitos gols mais. No entanto, ainda me sinto um bebezão desengonçado em muitas situações. Sinal de que humildade deveria ser um pré-requisito de todo candidato a uma vaga na polícia. Se eu tô de sacanagem?! De jeito nenhum! Tô falando seríssimo. E isso é engraçado porque sei que fica realmente difícil você colocar na mesma frase essas duas palavras "humildade policial".

Isso não foi uma missão foi praticamente um curso! Trabalhei com um policial que até então eu não conhecia. Vamos chamá-lo de detÉctive Elliot Stabler. Ele trabalha para um outro setor daqui da polícia que vamos chamar de Special Victims Unit (mas que nem é...) e que me pareceu ser um cara bastante dedicado. Foi uma ótima oportunidade para eu ver como ainda estou crua nessa coisa que é ser "policial de verdade". Digamos que o máximo que eu consegui até agora foi ter-que-agir-de-repente-como-uma-policial. Ai, não vou explicar isso agora, mas são coisas bem diferentes. Lamento informar, mas sinto que falta muito ainda pra eu deixar de ser "novinha". Snif.

Eliot Stabler pediu a ajuda do Jack Bauer talvez porque as suas áreas de trabalho sejam semelhantes, embora a clientela seja totalmente diferente. Ocorre que esta OM (ordem de missão) acabou caindo no meu colo. Detalhe: Nos sonhos de um agente novo na polícia, uma missão especial aparece na sua vida de forma incrível. Os grandes chefes de policia te chamam para atuar porque descobrem que só você teria condições de cumprir aquela missão eficientemente. No meu caso, foi a falta de efetivo mesmo, que nessas horas sempre se torna minha forte aliada na transposição dessa barreira enorme que é a falta de experiência. Deveria ser promovida direto para a Classe Especial já que sou especialista em tapar buracos.

E foi isso que aconteceu. Ou seja, nunca serei, né?! Pois foi só mudar o cenário operacional e eu colei as placas. Não, gente. A missão foi muito legal, toda bonitinha, compartimentada, cool! Não teve glamour como tem, normalmente, nas missões do Jack, pelo simples fato de que era tudo muito sigiloso e escondidinho. Mas tudo bem. Faz parte, porque a coisa poderia complicar caso houvesse vazamento de informações, mas no final deu tudo certo, graças a Deus.

Graças a Deus mesmo, pois  o que me deixou realmente desanimada é que na minha imaginação esse tipo de missão tinha que ser algo mais. Entende? Mais providências, mais planejamento e mais levantamentos feitos com muito mais antecedência. Ah, mas não foi assim, não. Pensei em jogar a culpa na SVU e até desenterrei posteriormente minhas apostilas da Academia pra ver se era aquilo mesmo, e se eles estavam procedendo corretamente. Mas que raio de curso de formação foi esse que eu fiz onde a única coisa escrita que tinha  sobre esse tipo de missão era uma linha solitária dizendo que essa área era da competência da "Special Victims Unit" e ponto final?

Perdoem mas estou começando a achar que esse negócio de querer ser operacional na policia é uma exposição à roubada. É meio desesperador você receber uma missão dessas e não saber nem por onde começar! Comecei imitando o Elliot... né? Ele parecia atuar uns dez tons acima, impressionantemente calmo, o que me fazia pensar que tudo estivesse sob controle (?). Ele deve ter feito esse tipo de missão um milhão de vezes. Logo, fiz mímica dele o tempo inteirinho. Tipo uma sombra dramatúrgica. Uma figuração cênica em nome de um show. Pfff. Se na minha avaliação de desempenho constasse o item "capacidade de iniciativa" eu mereceria um zero bem redondinho... O que prova que uma missão de sucesso não significa exatamente que você fez tudo bem certinho nos mínimos detalhes. Mas, talvez, signifique que você teve sorte de nada de mal ter acontecido. E um beijo para todos os policiais antigões arrogantes e embusteiros do Brasil. Tô ligada, hein!

Além disso, uma outra coisa que pegou pra mim particularmente, foi o clima carregado da missão. Tenso. O ar era muito pesado o tempo todo. A gente estava lidando com efeitos colaterais do sistema. Sabe? Tipo, coisas que não podiam terminar daquele jeito. Eu queria me comprometer com aquela causa, indenizar aquelas pessoas. Fazer alguma coisa. Sei lá o quê exatamente. O máximo que consegui foi uma simbólica despedida que se deu numa intensa e ao mesmo tempo fugaz troca de olhares entre mim e eles, que mesmo sem poder dizer nada disse tudo. Só isso. E cada um de nós seguiu o seu destino. Esse sentimento de impotência é gigante e incomoda demais. Taí uma coisa que me preocupa, oras. Será que eu deveria ter prestado concurso para o Ministério Público? Policial não pode sentir essa ternura, essas sentimentalidades, sob pena de ter seus próprios julgamentos afetados blá, blá, blá, pererê. Mas eu sinto muito.

sábado, 26 de novembro de 2011

Isso é que é agilidade.



Eu, faminta, pergunto:
"Cadê? Não tem nem uma coisinha aqui pra gente comer?"

Meu colega, que não perde uma, responde:
"Pode me chamar de Coisinha".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vai ser do meu jeito.


Certa vez, fui reprovada numa avaliação psicológica admissional porque enfatizei demais minha vontade de crescer na empresa. A política devagar e miúda daquela instituição não visava o crescimento do profissional. Queriam pessoas conformadas que durassem muito tempo no mesmo cargo. A psicóloga metódica já imaginava minha "inadequação" e, como se já tivesse feito muito, lançou ainda uma pergunta fatal só mesmo para constatar suas suspeitas. E eu caí como uma pata. Mas qualquer coisa que eu falasse diferente disso seria mentir pra ela e pra mim mesma. É claro que fiquei revoltada. Outro "forte" argumento que ela usou para me reprovar é que eu era qualificada demais para o cargo... "Ah, tá". Essas pedradas deixam suas marcas.

Mas esse mundo irônico dá muitas voltas e certos prazeres. Passei um intenso período trabalhando numa missão que envolvia diretamente advinha quem? Exatamente! Um grupo grande de diretores e gerentes da referida empresa. Claro que não! Sequer citei o nome da psicóloga em tela, até porque não tinha mais o menor propósito reconstituir os fatos agora que já passei neste concurso. M'águas passadas. Mas quem sabe o que significavam aquelas alfinetadas terapêuticas que dei na turma da área de pessoal...

Estou contando isso pra dizer que meu "perfil" continua o mesmo. E apesar de ouvir muita besteira de gente babaca que não tem a mínima noção do que está falando, trabalho e vou continuar trabalhando muito para honrar esta camisa que me veste de orgulho, embora essa atitude desagrade a muitos, como vocês devem saber. Esse é o meu jeito. Minha marca. Minha fome de crescer. Não consigo, não quero e não vou ser diferente. É esse o meu compromisso com o Brasil.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A língua dos homens.



Definitivamente, estou convencida da importância da discrição na vida da gente. Isso inclui o que dizemos por aí. Se em falar o que é preciso já há riscos como o de falar demais ou ser mal interpretado, que dirá falar quando não convém. É deveras estúpido, por exemplo, o comportamento da pessoa que acha que porque está falando em outro idioma ninguém está entendendo nada da conversa. Lamento informar-lhes, hermanos, mas sou policial, entendi exatamente o que vocês conversavam entre si e peixe argentino também morre pela boca.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Minha cara de preocupação.


Quando o homem tem esse compromisso e dedicação com o trabalho ele é um cidadão honorável, trabalhador exemplar, marido invejável e bom pai de família. Quando a mulher quer fazer o mesmo ela é egoísta.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Estilo próprio.


Tive a honra de conhecer uma grande policial com quem acredito que vou aprender bastante. Ela deve ter uns dez anos de casa e para minha sorte ela também está temporariamente "emprestada" para o setor de Jack Bauer. Jogamos no mesmo time de vôlei, mas ela é apaixonada por atletismo. Quem vê pensa que essa mulher é qualquer outra coisa: universitária, modelo, decoradora, professora, arquiteta, psicóloga, dentista... mas ninguém diria, assim, à primeira vista, que ela parece ser policial. Fala francês fluentemente e já cumpriu missão bem além das fronteiras. Pouca gente sabe, mas ela é namorada de um colega aqui da casa e ele é, com todo respeito, gato demais! Ela também não fica atrás. Eu tava reparando como ela fica bem em qualquer roupa: terninho, calça jeans, joelheiras... Tenho quase certeza de que ela lê revistas de moda italianas. Nas atividades profissionais, ela também tem um estilo fidalgo, muito pessoal com o qual simpatizo bastante. É que às vezes sinto uma pressão enorme para ser o que não sou, e ela me prova que, aqui dentro, temos lugar pra todo tipo de personalidade. Os psicólogos do psicotécnico que me perdoem, mas isso de "perfil policial" pra mim é balela, porque com esse tanto de atribuições que a minha polícia tem é impossível não haver uma área ou função onde o seu perfil se encaixe perfeitamente.

Esta mulher tem curso que eu nem sabia que existia. Você passa a placa do carro e ela te conta até a genealogia do veículo! Dá a impressão de que ela misteriosamente faz tudo parecer possível, simples e prático. Refuta opiniões contrárias citando doutrina clássica, mas de um jeito tão soft, refinado e aparentemente descompromissado que até convence. Quer saber mais? Ela tem carrão, apartamento, cabeleira preta, nariz empinadinho, humor ácido, a crítica afiada e Jack Bauer confia nessa mulherzinha vegetariana. Legal, né? E eu me divirto vendo ela toda arisca a tirar sarro nas situações aqui no dia-a-dia. Apesar de que, uma vez ela quase fez uma piada com os meus óculos escuros que fingi não ter entendido, porém  ela desconversou e retomou seu jeitinho mais formal, contido.

Aprendi uma outra coisa muito importante. Esse pessoal antigão aqui, em sua pose majestosa, não vai parar pra me dar "aula" sobre como ser uma profissional melhor. Por vários motivos. Dentre eles, o medo. Digamos que, de forma claramente voluntária, até agora, a única coisa que ela me ensinou foi como colocar um boton na lapela do terninho sem estragar o tecido, mas eu estou disposta a ouvir avidamente todas as suas histórias e conselhos. Pena que ela vive correndo e é meio fechadona... Devem ser as influências de Jack Bauer.

domingo, 2 de outubro de 2011

Próxima temporada.


A notícia de que Jack Bauer precisa de mim soou como música para os meus ouvidos. Soube que o rock'n'roll está pegando fogo na área dele, o que me deixa com um sorrisão quase cafajeste embutido. Antes dele mandar aquele documento genérico solicitando reforço de outras delegacias, Jack sondou o chefe do chefe do meu chefe (a famosa cadeia alimentar, digo de comando), sobre a possibilidade de esta Novinha aqui passar uma temporada lá com ele! É... ele falou só o meu nominho, especificamente! Entenderam? Receio que não, porque isso não é uma massagem para o Ego, mas um band aid para as minhas feridas. Trabalhar com Jack Bauer significa para muitos sair de suas zonas de conforto, o que não se aplica nem um pouco a mim. Primeiro por uma questão circunstancial, segundo por uma questão de perfil. A resposta do chefão? Óbvio que fui liberada porque pedido de Jack Bauer não se nega. Vamos combinar uma coisa? Se der tudo certo nessa nova temporada, vocês vão parar de me chamar de "Novinha", O.K.? Fui!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pra ficar esperta.



Chegou um novinho com cara de maluco transferido aqui para a minha delegacia alguns meses atrás. Um cara genuinamente muito engraçado. Fizemos amizade e ele logo ganhou minha confiança. Com o tempo acho que percebeu o que vinha acontecendo entre mim e aquela mulher que inferniza a minha vida nesta delegacia. Sendo que isso já está beirando níveis insuportáveis. Outro dia viajamos a serviço. Não acreditei que com tanta mulher na missão iriam me colocar no mesmo quarto que essa criatura. O jeito foi deixar minha bagagem lá e desaparecer do GPS dela. Cheguei de madrugada e a figurinha queria o "relatório" completo, sabe como? Onde eu estava, com quem, por que... Olha, essa mulher precisa urgentemente de um namorado e desde quando isso é problema meu? Voltemos ao Novinho Maluco. Não é que o sujeito virou amigo dela? Até aí, tudo bem... O problema é que do nada, repito com todas as letras, DO NADA, ele resolveu parar de falar comigo. Cansei de perguntar pra ele o que aconteceu. Cansei de ligar pedindo uma explicação. Até que ele me falou de uma forma muito ríspida que não quer que eu lhe dirija a palavra  (Transtorno de Personalidade Limítrofe, de Personalidade Bipolar, Psicopatia ou o quê?). Na hora me deu muita vontade de mandar os dois para o inferno conscientes de como suas passagens foram pagas. Contudo só pude dizer, reticentemente: "Ah, então tá. Tudo bem.". O que eu queria muito mesmo, era não estar nem aí pra isso. Mas meu lado piegas me obriga a confessar mediante tortura que, de noite, lá em casa, me aninhei no colinho Dele e chorei copiosamente, mergulhada em profundas lamentações, tentando sem sucesso entender por que essas coisas acontecem comigo.

domingo, 11 de setembro de 2011

Sabe com a mãe de quem você tá falando?


A minha mãe adora contar pra todo mundo onde eu trabalho. Além da indiscrição, às vezes ela ainda exagera um pouco ao tecer comentários sobre minhas atividades, habilidades, qualidades... Essa propaganda enganosamente bem intencionada tá me rendendo alguns daqueles famosos inconvenientes pedidos de favores. Veja bem... Não é que eu não queira ajudar. Esforço-me, inclusive, mas sinceramente, tem gente que não tem noção onde sobra malandragem. Houve um que pediu, pra eu tentar "quebrar' uma taxa relativa à emissão de um documento... Tá louco? Gente, isso não existe! Só se eu emitir um documento falso pra ele. Já o meu tio ficou magoadíssimo porque queria que eu pedisse um favor para o Poderoso Chefão e eu não tive coragem. Se eu tivesse essa liberdade com o "homi" eu pediria até pra mim, né? Negativo. Porque tá aí um cara pra quem eu não quero ficar devendo nada! E tem ainda uma multidão que mora longe e quer saber notícias de seus processos em andamento na cidade. Olha, se eu fosse despachante não teria tantos clientes assim.  Mas tá. Até aí tudo bem e a gente faz o que pode. Mas o cúmulo do poder que sobe à cabeça da mãe da gente é que a minha outro dia deu uma "carteirada" no trânsito! Um policial quis usar da "otoridade" pra cima dela mandando indevidamente que ela tirasse o carro do local do acidente sem a chegada do pessoal que registra a ocorrência. Ela contou que disse assim na cara dele: "Policial por policial, a minha filha é da polícia tal, o senhor quer que eu ligue pra ela? "Imagino a cara do colega. Porque ela fala e sai andando, feito Greta Garbo, com evidente certeza de que não vai precisar.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aos futuros alunos.

Dez coisas que eu queria que tivessem me falado antes de eu fazer o curso na Academia.
  1. Existe um risco de você se machucar nas aulas de defesa pessoal. Portanto, recomendo que façam aulas de artes marciais, de preferência judô, primeiro para acabar com aquele medinho de cair ou se machucar. Se você executar bem os golpes e exercícios, esse risco diminui sensivelmente. Segundo, para poder dedicar mais tempo a outras matérias, porque o curso tem uma carga teórica muito pesada. Os melhores parceiros são aqueles que têm experiência em artes marciais. Eles vão te ensinar muito durante as aulas. Lembrando que o peso corporal de cada um tem que ser mais ou menos igual. Cena inesquecível que acontece em quase todo curso é aquela em que o aluno cai de mal jeito e desloca o ombro;
  2. Pratique longas corridas (seis, oito e dez km) inclusive durante o curso. Vale a pena investir na corrida porque se você estiver bem fisicamente será uma nota dez garantida. Faça-o  durante a semana, antes ou depois do período diário de aulas do curso. A gente acha que perde tempo correndo enquanto deveria estar estudando. Besteira! Correr faz bem até para a mente e combate o stress;
  3. Recomendo o estudo de outros idiomas. Porque na Academia você preenche uma espécie de currículo que é o teu primeiro cartão de visitas na Casa. A habilidade em falar outro idioma pode te abrir muitas portas e excelentes oportunidades aqui na polícia;
  4. Cuidado com as piadinhas, cantadas inoportunas e comentários ácidos. Pode parecer exagero da minha parte, mas as paredes da academia têm ouvidos. E já vi, por exemplo, aluno ser severamente repreendido e consequentemente prejudicado porque fez uma piada politicamente incorreta com as colegas de curso;
  5. As perguntas durante as ministrações são bastante incentivadas. Nota-se que os professores gostam dos alunos bem dispostos e colaboradores. Mas cuidado, porque se sua pergunta tiver outra motivação diferente de aprendizado isso será percebido facilmente, porque os professores dão a mesma aula em várias turmas. Me refiro a perguntas sarcásticas, ou aquelas que tentam encurralar o professor ou colocar em cheque seus conhecimentos. Não é uma boa estratégia tentar se promover em detrimento de quem tá ali pra te ensinar. Até porque o professor normalmente é um policial da ativa com quem você pode trabalhar amanhã;
  6. Não precisa esconder que você foi militar ou teve experiência em outra polícia ou tem alguma habilidade especial (tipo artes marciais, esportes, profissões: é professor de ed. física, fisioterapeuta, médico, etc.). Mas faça isso com humildade, discrição e se for oportuno. Por outro lado dizer que ficou com alguém ou que é parente de alguém importante dentro ou fora da "firma", não é uma boa ideia;
  7. Perguntas pessoais aos colegas podem ser mal interpretadas. Existe uma paranóia enorme entre os alunos na Academia no sentido de haver policiais ou até mesmo bandidos infiltrados no meio da turma. Será? Perguntei para uma colega, na fila do restaurante, sobre namorados e ela não gostou. Tempos depois do curso pude entender o motivo. Ela não tinha namorado, mas namorada;
  8. Meninas, aprendam a fugir elegantemente de situações de assédio. Elas virão em todas as áreas, e de todas as direções possíveis. Se você se estressar toda vez que ouvir uma piadinha ou cantada, você vai passar o curso inteiro exausta, se é que vai ter energia para chegar ao final. PORÉM, se a situação estiver realmente te prejudicando, escreva! Não estou me referindo apenas ao assédio sexual. Sei de um professor que nunca mais deu aulas na Academia por ter feito um comentário racista, por exemplo;
  9. A média nas notas de avaliações teóricas costumam ser altíssimas, agora o divisor de águas mesmo é a parte prática, onde a variação de médias é maior. Portanto, vale muito a pena treinar tiro de precisão principalmente com a pistola. Se você conseguir a arma e o calibre exatamente iguais aos utilizados na Academia, ótimo, mas o mais importante é aprender os fundamentos, visada, empunhadura, respiração. E isso vocês aprendem com qualquer pistola. A minha nota na prova de tiro me colocou lá em cima na classificação geral da turma;
  10. Seja sempre parceiro dos colegas, professores, funcionários. Esteja sempre disponível para ajudar aqueles que têm mais dificuldades nesta ou naquela disciplina. Quem foi o melhor corredor, nadador, atirador ou a maior nota em determinada prova, ninguém vai lembrar depois de um tempo. Agora, as cenas mais marcantes e mais bonitas do curso são aquelas em que um está ajudando o outro a superar algum obstáculo do caminho. São esses os momentos que se eternizam na memória da gente. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O vestiário masculino.


Imagine trabalhar num ambiente onde a proporção é de dez homens para uma mulher. Imagine muita testosterona, músculos e tatuagens expostas para quem quiser apreciar. Soa como a versão feminina daquela promessa das dez virgens para um mártir. Mas não. Não é.

Ter o passe livre para o vestiário masculino é uma prerrogativa que você recebe como um prêmio. Significa que você foi aceita pelo grupo e agora eles não vão implicar tanto por ter uma mulher na equipe. Você vai comer com eles, vai viajar com eles, vai participar das conversas deles, vai saber o que eles pensam e como se comportam. Você será tratada, na maioria das vezes, como se fosse um deles! Eu achei que isso era tudo o que eu queria. Mas não. Não é.

O reallity show no mundo dos machos humanóides não é nada romântico. Mas a gente sempre pode tentar ver as coisas como uma experiência antropológica. Vou tentar não generalizar porque, acreditem, há exceções.  Mas o que você espera encontrar por trás daqueles músculos, e braços e pernas malhados e barriga de tanquinho é muita saúde pra dar, no mínimo. Mas não. Não é.

A fuga da realidade, da decepção com Deus e o mundo, das dores familiares, da carreira policial desestruturada, da inabilidade para lidar com os seus próprios problemas existenciais levam o guerreiro a se entregar a uma vida dissoluta de mentiras. Os ternos e gravatas alinhados, as roupas operacionais e equipamentos táticos, o armamento e distintivos são praticamente irresistíveis à maioria das fêmeas da espécie, que encontram nisso sinais de poder, proteção, estabilidade. Mas não. Não é.

O índice de policiais que consomem anabolizantes, álcool, viagra, remédios para dormir, para pressão, para depressão é impressionantemente assustador. Você pensa que, pela lógica, a maioria das causas das mortes de policiais é a rua, o confronto com bandidos. Mas não. Não é.

O sistema esconde da esposa as reiteradas traições do marido; Esconde na avaliação de desempenho a péssima produção do antigão que não quer nada com nada e não faz porcaria nenhuma o dia todo e todo dia; O parceiro não entrega que a viatura capotou porque o policial condutor estava alcoolizado; O PM libera o policial surpreendido com o traveco dentro da viatura policial e a família nunca vai saber; A remoção ex-offício não é por interesse da administração coisa nenhuma, mas porque o herói está endividado e precisa desgraçadamente da ajuda de custo... Sei que parece simples criticar tudo, jogar os outros na fogueira e se revoltar contra o sistema nessas horas. Mas não. Não é.

Olha lá! Ele não é feliz.
Sempre diz que é do tipo cara valente, 
Mas veja só, a gente sabe...
Esse humor é coisa de um rapaz
Que sem ter proteção
Foi se esconder atrás
Da cara de vilão.
Então, não faz assim rapaz.
Não bota esse cartaz.
A gente não cai não...
Ele não é de nada.
Essa cara amarrada
É só um jeito de viver nesse mundo de mágoas".
(Maria Rita, Cara Valente) 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O corporativismo na polícia.


Minha colega e grande amiga de outra cidade, por quem morro de saudades, via mensagens de celular:

Ela: Amiga, que tá fazendo?
Eu: Tô comendo besteira, quer?
Ela: Ai, não. Tô muito gorda.
Eu: Não tá, amiga, vc tá linda!
Ela: Boba.
Eu: Linda...

domingo, 14 de agosto de 2011

Honestamente.


Encontrei uma grande amiga da faculdade um dia desses. Bonita, estudiosa, inteligente, de uma família de classe média lá na minha cidade. Ela comentou que eu sumi e coisa e tal e justifiquei, dizendo que tinha passando no concurso da polícia e que tava morando noutra cidade. E ela me contou com um ar tão suave de resignação que tinha acabado de preencher uma ficha de emprego em um hipermercado, para trabalhar num cargo privativo de quem, igual a ela, tinha esquentado banco por longos anos naquela faculdade e para ganhar sabe quanto? Menos do que ela pagava de mensalidade no curso universitário! A vida pós formatura não era nada do que pensávamos. Caí num estado de meditação comparativa profundamente doloroso e acordei assustada porém muito agradecida, porque, me diz, aonde que na iniciativa privada eu, honestamente, com essa cara de estagiária e sem nenhum parente ou amigo influente, receberia o contra-cheque que um novato recebe aqui?

sábado, 30 de julho de 2011

Orgulho e preconceito.


Já teve a sensação de que tinha alguém te seguindo? No meu caso, tinha mesmo. Ainda na fase do concurso, eles foram ao meu trabalho anterior e entrevistaram meu chefe sem explicar o motivo de tantas perguntas. Esse meu chefe antigo disse que respondeu tudo bonitinho, mas sem entender nada. As vizinhas da mamãe também contaram pra ela sobre umas perguntas que eles fizeram. E isso é tudo o que sei sob a investigação social feita a meu respeito. Mas imagino que jogaram meu nome em todos os sistemas de informação possíveis e foram aos lugares básicos e óbvios para se fazer algum levantamento sobre a vida de uma pessoa. E como não encontraram nada negativo, se deram por satisfeitos. Minha mãe ainda conta essa história com muito orgulho.

Não vou negar que foi meio constrangedor à época em que soube dessas visitas. Ninguém se sente à vontade com o Estado revirando sua vida particular, mas faz parte do concurso policial, então muita calma nessa hora. Inclusive defendo a investigação social com unhas vermelhas e dentes cerrados. É que para entender a polícia você precisa perceber que nada aqui é assim, tão cartesianamente simples. Há quem jure que o crime organizado tem seus tentáculos em lugares que a gente nem imagina. Portanto, a contra-inteligência da polícia trabalha para mim. Só acho que deveriam fazer o mesmo no Congresso, por exemplo.

Por outro lado, há também muita lenda sobre o tema. É claro que não vão derrubar um candidato por conta de um cheque que voltou... Não obstante, observe que, num planeta muito distante, um agente que passou no concurso para o cargo de delegado teve uma triste surpresa ao constatar que a seu lado havia um outro aluno, ex-presidiário condenado por tráfico de drogas, sub júdice, que havia sido preso por ele mesmo (o aluno conseguira se matricular na academia graças a uma decisão judicial liminar).  Gozado, não é? Eu não acho. Sei lá como terminou essa história, mas sei que se o ex-bandido entrou em exercício, é um delegado que dispensa informantes.

Já este outro caso, parece coisa do FBI ou da Gestapo... mas não, é uma outra lenda da famosa polícia de Marte. Um já aluno da academia que se chamava mais ou menos Mohamed Ali, ou Mohamed Laden, uma coisa assim, chamou a atenção por ser um estrangeiro naturalizado marciano. Como a lei daquele planeta não preconizava que o candidato deveria ser marciano nato para ser policial, não havia motivo legal para desligá-lo do certame. Contudo, é claro que deram um pente fino no rapaz e vendo que ele não tinha piolho e nem uma lendeazinha sequer, este ser de outro planeta presta serviço até hoje num setor onde ele é especialista nato.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vinícius.


Uma mulher tem que ter alguma coisa além da beleza
Qualquer coisa feliz
Qualquer coisa que ri
Qualquer coisa que sente saudade

Um pedaço de amor derramado
Uma beleza ...
Que vem da tristeza
Que faz um homem que como eu sonhar

Tem que saber amar
saber sofrer pelo seu amor
E ser só perdão

domingo, 17 de julho de 2011

Embuste.


Primeiro dia de curso. Mais de 70 policiais de uma outra polícia, aguardando a "Instrutora Novinha". Quando entrei, a turma inteira se colocou em pé automaticamente (Hein?! Foi.) Eu, fingindo a maior naturalidade do mundo, pedi a todos que se sentassem, enquanto me dirigia ao microfone. O xerife (espécie de líder dos alunos) perguntou se eu precisava de alguma coisa. Respondi que tava tudo tranquilo. Mentira, porque eu estava nervosa. Agradeci a gentileza, me apresentei à turma como agente de polícia, falei onde trabalhava, coisa e tal, e omiti o tempo de casa (óbvio, porque isso depõe contra minha pessoa). Então comecei a explicar como seria o curso e falei sobre  regrinhas e outras generalidades das aulas. Incrível assistir nos olhos deles o fascínio que uma mulher reflete em situações de comando (Ui!). Já estava até me sentindo bem mais à vontade. Sabe quando a pessoa está adorando ouvir o som da própria voz? Vai dando corda pra novinho, vai.

Calma. Isso não foi um trote, você não está no blog errado, eu não delirei na broca e este não é um daqueles posts onde no final o autor diz que acordou de um sonho. Ocorre que, mais uma vez eu estava no lugar certo na hora certa. Se é que alguém já notou que só me dou bem aqui por ironia do destino, né? O fato é que um delegado nosso foi convidado a ministrar um curso para outra polícia, sobre cujo tema ele já publicou dois livros. Quanto a mim, guardo uma vaga lembrança de ter tido tal matéria na Academia. Para tanto, ele precisava de alguém que o auxiliasse nas instruções. Tipo: preparar apostilas, pegar e-mail dos alunos, distribuir material, operar datashow, dar os avisos, enfim, fazer todas essas coisinhas por amor à ciência, à integração fraternal entre as polícias e à paz mundial. Tá, eu me empolguei. Voltando. Quem vocês acham que eles iriam mandar? A Novinha! Certa a resposta!!! Porque como vocês já sabem, eu, na qualidade de policial, sou uma ótima secretária. Com todo o respeito à honrosa profissão, sim, eu devo ter mó cara de secretária meiga e compreensiva. Sendo que, no papel, eu era "monitora" (me engana, que eu gosto) e para os alunos fui apresentada como "ins-tru-to-ra"... Percebeu o salto meteórico na evolução da minha carreira?

Mas esse episódio Forrest Gump não terminou por aí. O curso tinha uma parte operacional muito legal que o delegado não tinha o menor interesse em ministrar. Então ele convidou um outro agente que demonstrava maior afinidade com a coisa para conduzir essa parte da instrução. Pelo fato de eu já estar por ali, acabei sendo catapultada pra ajudar o outro instrutor, entendeu a manobra? Aí, sim. Pasma, reconheço que nessa urgência irresponsável com que se resolvem as coisas na polícia, no melhor estilo "NHS" que em sânscrito significa "na hora sai",  a gente treinou direitinho os passinhos e  fizemos altos exercícios com os aluninhos. E eu lá... corrigindo a execução e performance de cada um: "Não. Não pode fazer assim porque senão acontece isso, olha...". Era eu, toda cheia de razão... e muito embuste, claro.

E é com certo constrangimento que vou assumir o risco de acabar de vez com o que ainda resta da credibilidade altamente duvidosa deste blog pretinho básico, pois vou contar que no encerramento do curso, ganhei dos alunos uma plaquinha de agradecimento "pelos excelentes ensinamentos compartilhados"! Não digo isso com orgulho, porque você, inteligentemente, deve estar se perguntando: "Mascomassim, Novinha?!" Pois é. Eu sei. Uma barbaridade...  E, tem mais. Por ser instrutora (no feminino) ainda ganhei flores... Por isso digo àqueles que bondosamente leram até aqui que a partir de hoje não acredito mais em certificados, homenagens e essas baboseiras todas que as pessoas adoram pendurar na parede. Acredite você, se quiser. Mas uma coisa é certa, um imbecil homenageado é algo dantesco.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sou uma pamonha.


Se eu for me estressar toda vez que ouvir uma provocação, cantada ou piada infame... não vou escrever sobre outro assunto neste blog. Meu chefe me disse que não vai me mandar para uma missão, na qual já estou envolvida até o pescoço, "porque quer um homem lá". Só me explica por que esse infeliz não me deixou trabalhando com o Jack Bauer, já que aqui eu sou uma inútil, imprestável? É lógico que eu poderia mover um processo contra ele, porque isso já está passando dos limites! Mas pra quê? Pra ele alegar que tem o poder discricionário da Administração e inventar um milhão de mentiras pra me ferrar no estágio probatório? Deixa... enquanto ele vem com o milho eu tô indo com a pamonha.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A estrada.


Você não sabe
O quanto eu caminhei
Pra chegar até aqui

Percorri milhas e milhas
Antes de dormir
Eu nem cochilei
Os mais belos montes
Escalei
Nas noites escuras
De frio chorei, ei , ei
Agents conducting mock arrest exercise
A vida ensina
E o tempo traz o tom
Pra nascer uma canção
Com a fé do dia a dia
Encontro a solução
Meu caminho só meu Pai
Pode mudar
Ps.: A Estrada é uma música do Cidade Negra que ofereço como trilha sonora pra embalar o sono de muitos futuros novinhos que sonham estar aqui. Alguns deles estão se organizando para criar um clubinho chamado "A Confraria". Aguardem!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Saí mais cedo.

Por e-mail:


Eu disse:
Amor...
Somos melhores juntos, né?
http://www.youtube.com/watch?v=tkRPovwO4ag
Te amo!

Ele respondeu:
Que romântico!!!! Obrigado! É bom saber que vc está e quer estar sempre do meu lado... mesmo com todas as dificuldades do dia-a-dia! Bonita a música desse cara não? Parece com você! Vem logo pro nosso cantinho... Bj!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Qual é o músculo mais forte do corpo?


Eu, na minha, tentando fazer o meu trabalho, e o tiozinho me pergunta numa sala cheia de gente - "Então você é a policial que tá trabalhando aqui agora?"

Eu - "Sim, sou eu. Novinha. Muito prazer".

O tiozinho, me olha como se eu fosse um pedaço de carne no açougue e dispara essa - "Mas... com esse bracinho aí você acha mesmo que garante? He, he, he..."

Eu até pensei um pouco, em consideração aos cabelos grisalhos dele, mas há muito eu esperava uma oportunidade de usar essa magnífica frase de filme: "E quanta força o senhor acha necessária para puxar o gatilho dessa pistola aqui?"

sábado, 18 de junho de 2011

Eu faço questão.

Sou da opinião que quando não é fácil pode ser bem mais proveitoso. Sou daquelas que sorvem o cálice até o final e não me importo se um fio de vinho tinto me escorre pelo canto da boca. É da vida e eu não reclamo. E tudo o que escrevo é inteiro, mesmo que pelas metades. Minha fonte de inspiração e energia é a única coisa que merece o termo "autosustentável" neste mundo. Então já estou no lucro, apesar de que ainda não encontrei o que estou procurando. De qualquer forma, para onde Deus me levar eu vou feliz, mesmo que chorando, porque minha guerra é outra e meus sonhos se renovam com o nascer do sol. Daí que, no final, quando tudo aqui acabar, vou dizer estas palavras: "Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé".

terça-feira, 31 de maio de 2011

Por muito pouco.

Ele diz que eu sou ingênua demais pra perceber determinados tipos de coisa. Não sei. Mas reconheço que nunca estive brincando tão perto de um penhasco como naquela missão com o Jack Bauer. É aqui que a gente separa as meninas das mulheres. Isso eu sei.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tenho pavor.


MSN. Não aguento conversar no MSN, pois não consigo falar com várias pessoas ao mesmo tempo. Eu sei que posso ficar escondidinha lá, mas considero meio falsidade entrar no modo "invisível"... e também detesto imaginar que aquela demora nas respostas da pessoa que está conversando comigo é porque ela está de trololó com mais uma dúzia de gente. E quando alguém "...está digitando uma resposta" e apaga? Isso acaba comigo. Porque sou infantil e fico doente querendo saber o que tinha naquela maledeta frase que fez com que o interlocutor a apagasse. Além disso, não é o meio de comunicação mais seguro, né? Já que até um escoteiro tem acesso a conversações alheias no MSN. Ah, mas é uma pena, pois do contrário minha conta telefônica seria bem menor.

Reunião do sindicato. Será que eu posso pelo menos tentar explicar?! As reuniões do meu sindicato são o caos chupando manga (péssimo trocadilho, mas faz sentido). Sem representatividade, sem liderança e sem inteligência, os profissionais (se é que podemos chamá-los assim) que se metem a nos "unir" não são o que deveríamos chamar de os melhores espécimes da linhagem. Simplesmente, não consigo confiar neles. Queria tanto. A impressão que dá é que nada do que eles tentaram fazer na polícia deu certo, sei lá por quê, então, o jeito foi pleitear uma vaga na diretoria do sindicato, o que já lhes dá direito a um celular full time e de uso ilimitado. Ih, ó... me poupe! Você não sabe mas sou politizada, sim. Demais da conta. E saiba que até a minha alienação é mais sincera que esse engajamento impróprio. E é isso. Não tenho culpa se meu sindicato é patético e se meus líderes sindicais em nada me inspiram.

Carro kinder ovo, chá, unhas desenhadas, fazer declaração de imposto de renda, novela, dar carteirada e não entrar, SBT, e-mails repassados, fila, piercing no dente, filmes de guerra, suco artificial, decoração artificial, colega policial artificial e tudo o mais que seja artificial. Gente que fala pelos cotovelos. Policial frustrado que vive de passado. Posso abrir um parêntese? Me persegue esse tipo. Entra na viatura reclamando da meteorologia e volta maldizendo o trânsito. Absolutamente tudo pra ele está errado e ele vai repetir no seu ouvido como um mantra "Isso vai dar m.". Mas pior que esse é aquele metido a supersafo. Esse é o purgatório. É uma tortura sem fim o sujeito que jura que sabe tudo e que faz e acontece. Você fala uma arte marcial, ele diz que essa não presta e te indica outra na qual ele, por acaso, te conta que é graduado. Você elogia o desempenho do Zé e o chato faz questão de mostrar algum ponto onde o Zé errou. Você traz a informação e ele alega que já sabia e que "não é bem assim", mas daí repete tudo do jeitinho que você acabou de falar! Ele sabe todas as matérias policiais e conhece todos os cursos e treinamentos. Critica todos os manuais, todas as técnicas, todos os livros, todos os filmes. Contesta a doutrina policial francesa, a israelense a americana etc. apenas pelo prazer de contestar e nada mais. Sabe aquele colega que fez uma ponta numa operação badalada e espalha o feito pra todo mundo? Ou o sujeito que esbarrou num grupo tático bacana e diz que já trabalhou com eles? É o que chamo de "policial figurante". E ainda se acha o máximo ao desdenhar dizendo: "Vai aplicar essa téicnica lá na faviela patuvê". Só de pensar meu estômago embrulha. E nem se eu acreditasse em reencarnação esse infeliz me convenceria desse currículo todo que ele arrota ter. Ahtelascá!!! Fecha parênteses!

Discurso de quem cita a mãe que chora no caixão do policial como argumento final. As máximas do Capitão Nascimento: "nunca serão", "pede pra sair", "pega um, pega geral"... Gente, já deu! Juro... que pode ser a Presidenta ali na minha frente, ou o maravilhoso Wagner Moura - o próprio - que se vier com essa droga dessa retórica de novo eu me levanto na hora e vou embora. O cúmulo da combinação infeliz: bermuda surfistinha, pochete, mocassim e um policial armado bebendo e discutindo a questão do desarmamento. É de muito, muito, muito mal gosto. É totalmente cafona! Escrivã alegrinha cheia de sentimentalidades levando cafezinho para o delegadozinho e oferecendo tudo no diminutivo para o chefinho. Pff! Depois reclama...

Ah, já ia me esquecendo! Odeio ter que voltar pra delegacia por puro capricho do meu chefe que não pode me ver feliz. Uma brutalidade porque eu tava numa operação com Jack Bauer... lembram? Mas não vou chorar, pois acabei de receber um elogio escrito pelo chefe do chefe do meu chefe em referência à minha participação naquela operação. Será que é por isso que hoje eu estou assim mais-que-in-su-por-tá-vel?

Chefe... será que eu já posso enlouquecer ou devo apenas sorrir... ou ou ou ou
Não sei mais o que eu tenho que fazer pra você admitir
Que você me adora
Que me acha fo.fa
Não espere eu ir embora pra perceber!

(Letrinha da música da Pitty, com sutis adaptações).

domingo, 15 de maio de 2011

Independência feminina.


Eu, mega agradecida, mando um torpedo para o celular dele:
"Amor, o que seria de mim sem você?"
E ele responde:
"Uma Policial (...) livre, leve e solta".

domingo, 1 de maio de 2011

Vaidade.

Puxa, gente, que chato isso...
SAIU UMA FOTO MINHA NO JORNAL!!!
Sim! Sim! Siiiiiiim!!! Tra-ba-lhan-do!!!
Ahhh, moleque!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Preso diz cada uma.

Gente, o que é a polícia no imaginário coletivo? Acho que a resposta a essa pergunta daria uma belíssima tese de doutorado. Acho, não, tenho certeza. Senão, raciocina comigo. Operação lotada de vícios de amadorismo e incorreções sensacionalistas, mas graças a um preso a considerei digna de relato. O coitado não aguentou a curiosidade e perguntou como foi que a gente entrou na casa dele se nem o cachorro latiu. E eu que, em meio à tensão, ansiedade e o estresse normal da coisa toda, nem tinha lá notado a presença do pobre vira-latas, apenas ri, tipo sarcasticamente. Meio tirando onda, sabe como é? E apesar de notar alguma sinceridade na pergunta divertidíssima dele (eu achei), meus colegas não estavam com cara de quem iria convidar o preso a puxar uma cadeira e trocar ideias sobre "entrada em edificações". Pausa. Por favor, tenham em mente que fui treinada pra considerar o preso como a coisa mais perigosa do mundo. Então mantive a postura hamletiana de quem diz "Baby, há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa supor a tua vã filosofia". Daí para a maldita arrogância dramática que assola o mundo policial é um pulinho. No entanto, não se dando por satisfeito aquele cara-de-pau de marca maior ainda me larga essa, na maior elegância: "Pois eu sou é fã demais da Polícia (...), cara, vocês parecem uns ninjas!". O jeito foi sair de perto.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sou feita de saudades.


Uma colega distante, uma nova amizade e uma resposta:
Segunda-feira, 4 de Abril de 2011 1:30

"...Poxa fiquei muito feliz e me senti honrada, quando li seu e-mail, enchi o olho de lágrima enquanto lia, e dei um suspiro quando acabou e pensei, 'caraca, ela confia em mim', e isso é o máximo... hoje em dia... você sabe, é muito díficil, você encontrar alguém com quem possa contar, confiar, sorrir e chorar, ser você mesma... e sinto que isso acontece com a gente... então muito obrigada por ter escrito pra mim e pelo que escreveu... pelo desabafo... pela confiança... pela sinceridade... e por deixar eu ser assim presente na sua vida! Amiga... esses pesadelos... estão te deixando triste, né? Isso é ruim... tenta dormir assim tranquilinha... em paz, pensa em coisas boas, momentos felizes da sua vida e ora bastante... mas claro pode ser pela sua 'operacionalidade', mas é também por isso, pelos pesadelos, que você perde o sono ás vezes na madrugada? Espero que isso passe logo e que tenha bons sonhos e acorde e durma feliz sempre... E então... liguei pra você.., porque li aquela mensagem... e deu aquele aperto no peito... a vontade de chorar... de abraçar você... aí pensei... ah, vou ligar pra ela... pra conversar um pouquinho... mas lembra: quando eu tiver incomodando me avisa... E principalmente, quando bater a saudade, a vontade de conversar ou de apenas dizer 'oi... tô com saudade...' me liga, tá!?..."

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mensagem pra você.


Eu vejo ruínas quando olho pra você, sabia? Vejo um lar destruído. Ouço um choro triste. Vejo muitos pratos e copos quebrados e espalhados pelo chão.  Eu vejo uma menina com uma obsessão por agradar você. Vejo-a sendo desaprovada e, especialmente, ouço a palavra "sonsa" sendo repetida de várias formas e maneiras. Eu vejo você entrando numa kombi branca do trabalho cheia de mulheres e vejo você humilhando publicamente a tua família. E entendo porque alguém pode odiar tanto música sertaneja e cheiro de cerveja sem o menor constrangimento. Eu vejo um prato de arroz misturado com gema de ovo. Era um jantar amarelo, gostoso e divertido até o momento em que vejo o jantar da menina voando e se chocando contra a parede da cozinha. Babaca!

Eu vejo você performático fazendo saltos ornamentais no rio. Vejo que você é um dos melhores amigos daquele padre e que você lidera, escreve livros, conta piadas tão bem e tem um monte de amigos. Vejo que você será sempre o super-herói dessa menina porque você bateu tanto no maldito pedófilo que este poderia ter sido dado como morto. Sinto um cheiro de material escolar novo. Vejo você entrando pela porta principal da casa fazendo chuva de notas de dinheiro de verdade! Vejo você fazendo carinho no cabelo da menina, vejo você lutando karatê, nadando, cuidando da sua coleção de discos do Roberto Carlos e vejo que a sua letra, sua pele e seu cabelo são tão bonitos.

Eu vejo uma menina pequena dormindo agarrada ao seu blazer enquanto você cuida das suas urgências irresponsáveis. Tenho tanta pena dessa menininha bem magoada com você. Vejo uma noiva perturbada pensando se ela deve ou não entrar na igreja contigo. Eu vejo uma menina brava, dizendo pra mãe que elas não precisam de nada que venha de você! Eu ouvi ela dizendo que quer que você morra! Mas é claro que ela precisa de você, seu idiota!!! Como é que você não percebe isso?

Domingo você disse que queria ter sido policial na mesma polícia que eu. Você pede pra ver a minha arma. Eu entrego a minha arma nas tuas mãos. Você me faz umas perguntas técnicas e admira as respostas. Você chama o teu filho pra ver a minha arma e explica cerimonialmente o trabalho que eu faço para ele. Você me respeita e eu penso que você... Cara, você nem sabe se eu sou feliz! Você vê o meu filho pela primeira vez e eu já não sei direito o que você pensa. Você me confunde e eu não sei como eu deveria agir. Acho que armaram essa pra mim. Acho que fui atingida! Que droga! E porque essa porcaria dói tanto se você não significa nada pra mim? Você era algo que eu já tinha extirpado da minha lista, da minha vida! Se você me é tão desnecessário porque eu preferia mil vezes ter tomado um tiro?

Eu vejo uma mulher sóbria e dissimulada. Só eu e Deus vemos o quanto ela é frágil. Honestamente? Ela nunca vai entender e não encontra nenhuma justificativa. Nada justifica... entendeu? Nada, nadinha! Ela morre de cansaço, e desânimo, e fraqueza. Há muito tempo ela não tem esperanças no que concerne a você. E agora ela começa a chorar, porque apesar da frieza e indiferença que ela herdou de você, sim, senhor, mais uma vez ela foi atingida.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma mula-sem-cabeça.


O assento ao meu lado estava vazio, então aproveitei pra retirar o casaquinho e o cinto tático. Admito que odeio esse peso todo de equipamentos os quais na verdade a gente raramente precisa usar. E pra achar um terninho cuja parte de cima cubra toda aquela tralha na cintura, é uma novela! Já retirei logo o carregador e guardei em separado para não ser chamada a atenção pela tripulação por causa da arma municiada. Nossa equipe desembarcou no local de destino e fizemos tudo certinho! Para mim a operação foi algo dantesco, porém tranquila - sorte minha - porque quando retornei para a aeronave, feliz da vida, voltando pra casa com aquela euforia toda de dever cumprido, advinha... Cadê a droga do carregador??? No bol-so!!!Senhoras e senhores, percebi que trabalhei o dia inteiro com a arma no coldre completamente limpa, ou seja, zero carregador na arma e zero munição na câmara. Será que dá para imaginar o tamanho do estrago se alguém percebe? Não, não dá. Ah, sim, também notei a falta de um outro equipamento: a porcaria da minha cabeça que não sei onde anda!

domingo, 20 de março de 2011

Papéis.


- Mamãe, sonhei com você essa noite!
- Ah é??? Sonhou o que?
- Que tinha dois bandidos querendo entrar aqui em casa e você prendeu eles!
- Nossa, filho!!! A mamãe prendeu dois bandidos sozinha? E o papai, fez o que?
- Nada, mamãe, porque ele tava dormindo.

Ps.: É oficial que papai voltou a dormir na cama da mamãe, mas ele nem sonha que quando brigaram a mamãe queria virar "caveira". E nem precisa saber, precisa?

sábado, 12 de março de 2011

Por isso.


Bem amigos da rede blog, não é à toa que eu tenho minhas reservas no trato com a imprensa. Nada pessoal, mas a gente que sabe e vê muito mais coisa do que é publicado nos jornais às vezes dá boas risadas das versões passadas para o coitado do telespectador brasileiro. Ou não. Uma colega minha, por exemplo, acaba de se ferrar de verde e amarelo por conta de um jornalista babaca. Deu mole e acabou entregando que era policial e que estava trabalhando. Ele insistiu horrores pra que a moça lhe concedesse uma entrevista. Imagina... Óbvio que não, né! Todavia, não satisfeito e com dorzinha de cotovelo, o jornalista resolveu sacanear. O que pra imprensa inescrupulosa é super fácil. Resultado: tudo indica que ela vai responder na Corregedoria por causa de uma foto! Arrego, hein... Ai, meu blog!!!

terça-feira, 1 de março de 2011

Para aqueles dias.


Se o Papa fosse mulher já teria canonizado a pessoa que inventou o composto "cloridrato de papaverina + dipirona sódica + extrato fluído de Àtropa belladona Linné". Um milagre da medicina que alívia cólicas menstruais. Louvado seja.

Leia a bula. Leia a Bíblia.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Escrivão novinho que se deu bem.


Querida amiga "Novinha",
(por e-mail)

Primeiramente agradeço pela mensagem enviada e peço desculpas pela demora em fazer contato, tentei algumas vezes por telefone mas não tive êxito. Amiga, estou super bem. Como deves saber, fui nomeado para um cargo de chefia quando retornei para "cá". Trabalho no setor "Charlie". Estou tentando fazer um bom trabalho. Estou muito feliz com essa função. A família está super bem, as meninas estão crescendo muito rápido. Estou terminando uma reforma no apartamento, ufa......rs. Gostaria muito de conversar pessoalmente ou então por telefone. Considero vc uma pessoa muito especial. No momento difícil que eu estava longe, vc fez o possível para me ajudar. Não retornei para "aquele outro setor" mas Deus sabe o que faz. Quando vieres aqui na "minha área" venhas tomar um cafezinho conosco. Meus telefones: "2222-2222" - serviço - "5555-5555" - casa (desativado momentaneamente devido à obra) e "8888-8888". Beijão.

Ps.: O que está entre aspas foi adaptado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sangue novo, suor e lágrimas.


O Guerreiro é divertido, engraçado, irônico e acessível. É muito querido pelo pessoal aqui e tem me ajudado bastante nessa nova equipe. Meio que me adotou e só me chama de "moleca"... Eu não me importo e a gente conversa horas e horas. Ele sabe muita coisa sobre polícia.  Conhece a cidade e as manhas da vagabundagem. Digamos que tenha feito doutorado na "Harvard" policial: as ruas. Ele me explica coisas sobre o fogo, a terra, a água e o ar. Em troca eu o alimento com o meu sangue novo e ele acha graça nesse meu orgulho de ser policial.

Queria abrir a janela a fim de deixar a brisa entrar, mas ainda respiro por aparelhos. Meu coração não sai da UTI. Recolho as poucas verdades que me restam a fim de protegê-las de mim mesma. Não obstante, transpirar é um ato involuntário e o Guerreiro certamente sente o cheiro da carência que transpiro.  Tenho pesadelos com demônios. Poderia discorrer melhor sobre o que tudo isso significa, mas tá ficando tarde e eu preciso voltar. Porque por mais idiota que possa parecer, a melhor parte do meu dia é voltar pra casa com a esperança de que meu amor esteja lá, dizendo que toda essa tempestade passou.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Grampo.


A pobre vítima do "grampo" é uma leitora que me pergunta via comentário não publicado no blog: "Vc tá bem?"

Respondo, comentando no blog dela (não publicado): "Tô, por que?"

Vítima: "Nada, só para saber mesmo, é que deu a impressão de que você estava meio tristinha. Ainda bem que não está!! :)"

Eu: "Não... : ) Tô só um pouco cansada. Estou no banco de trás de uma viatura olhando para a entrada de um prédio e aguardando uma situação acontecer... A gente tá ouvindo música (tem um colega no banco da frente olhando uns papéis...). E daqui a pouco vou ter que entrar dentro do prédio... eu acho. Tem dois colegas meus lá dentro. Mas tá tranquilo. : ) Só uma leve dorzinha de cabeça... deve ser o cansaço e também porque acordei muito cedo hoje. Tô com o sono muito atrasado. : ) E você tá bem?"

Vítima: "Caraaaaaaaaaaaaaaca nao acredito!!!!!!!!!!! Que lindo isso, meus olhos até brilharam agora!!!! Como vc me conta isso assim, na maior tranquilidade, isso pra mim é o ápice!! Achei que estava em sua casa! Então não vou mais te incomodar, tá bom? Quando chegar em casa, descansa bastante, um bjo e cuidado aí pelo amor de Deus PAI!!"

Eu: "Tá bom, linda... A gente se fala... Eu vou parar porque a minha cabeça está piorando e eu tô ficando com vontade de fazer xixi..."

* A publicação desse diálogo foi feita com a devida autorização prévia da Vítima do Grampo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Para Isabella, a belíssima pistola que anda comigo.


Querida parceira, lamento informar, mas hoje você não vai. Isso não é um evento profissional. Pelo menos não é para ser. Sei que não parece, mas mulheres policiais também têm vida particular. Mira bem... percebeu que você está sobrando? Então, por gentileza, abaixa essa pontaria bélico-coercitiva. Hoje você vai ficar aí.

Já sei, já sei. Não precisa disparar para os quatro cantos do mundo que você só quer me proteger. Não pense que eu saio por aí dando tiros no escuro. Apenas acho que não se cultiva um relacionamento armada até os dentes. Essa noite tudo o que eu quero é ter a chance de me sentir protegida nos braços dele. Você diz que ele não tem braços de aço, nem de polímero, mas você não tem nada que analisar o calibre dos braços dele, Bella! Dá licença? Será que eu posso ter um pouquinho de privacidade e ser uma mulher normal alguma vez na vida? Não quero que você fique aparecendo na frente dele assim, à queima roupa. Tudo tem seu tempo.

Tenho notado que seu alvo agora é andar por aí se exibindo, chamando a atenção de todo mundo. Toda suburbana, insinuante, em polvorosa. Que é isso? Você é fogo, hein. Barra-pesada! Foi por isso que meu tio notou que naquela bolsa de mulher havia algo mais e foi mexer contigo pelas minhas costas. Onde já civil?! Pois fique sabendo que a sua sorte foi que ele não efetuou nenhum disparo, porque aí sim, seria o fim da nossa amizade, já que eu estaria provavelmente procurando outro emprego. Não quero ficar brigando com as pessoas por tua causa, Bella. E você complica demais as coisas tem hora.

Não sei por que você mudou de comportamento assim, de uma hora para outra. Nunca duvidei que poderia contar sempre contigo. Lembra na Academia como a minha mão suava e doía por eu te apertar tanto na hora da tensão? Formávamos uma dupla perfeita, inseparável! Chegaram a dizer que nossa relação era baseada no que Freud chamou de inveja do pênis. Era o caramba! Porque inveja foi o que eles sentiram depois daquela nossa importantíssima performance na prova de tiro. E inveja é mais letal que arma de fogo, sabia? Mas agora você anda passando dos limites, Bella não vou permitir que você interfira tanto na minha vida desse jeito. Chega, amiga. Tem momentos em que eu preciso ficar sozinha. E francamente. Me irrita essa sua mania de fazer tanto barulho só pra aparecer. Você anda muito esquentadinha, soltando fumaça pelos orifícios. Exigindo que eu esteja sempre em ponto de bala. Fica fria, Bella, porque resolvido está. Hoje, eu não vou te levar.

Não, você também não vai dormir comigo essa noite. Esqueceu aquele dia que a faxineira deu de cara contigo debaixo do meu travesseiro no dia seguinte? Você assusta as pessoas, Bella. Se enxerga... Não, minha linda, você não é feia. Você é a rainha da bateria, dos artefatos, dos argumentos! É a ultima ratio. Mas você não se ajusta, Bella. Pra começar, o meu vestido é curto. É justo. E justiça seja feita: é muito digno. Hoje, você não cabe nem na minha bolsa, amiga. Coldreia! Isso já está virando uma relação doentia.  Deixa ele me dar segurança essa noite, tá bom? Você bem sabe o que isso representa para mim.

Não, Bella, hoje, definitivamente, não é dia de calça jeans. Não vou trocar de roupa só pra te levar na canela. Não embaça o alvo, por favor! E não vá pensando que vou deixar você me esperando no carro. De jeito nenhum! Não quero te perder! Rouba-se carro todos os dias nessa cidade, sabia? Todo santo d... Se bem que, né? Pensando melhor, vou levar um casaquinho. Sempre sonho que estou desarmada na hora em que mais preciso de você... Guerra é guerra 24 horas por dia e não vou dar uma gatilhada dessas para o azar. Sendo eu uma mulher policial, ora essa, é melhor ele entender que você é a minha grande parceira. Você já faz parte do meu charme, do meu mistério. Pode vir comigo, parceira.Vem. Ele não é desses que têm medinho do perigo.

Ps.: Espero não estar Irritanto Fernanda Young (linda!!!) com esse texto que foi inspirado no estilo dela de escrever.