quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Special Victims Unit




Fui pra casa e fiquei até altas horas refletindo histericamente naquela sentença do Jack: "uma missão que por suas características só vou poder te passar as informações minutos antes do embarque". Não só porque a ouvi diretamente do Jack Bauer mas porque a missão do dia seguinte tinha certas "características", certas "informações" e um certo "embarque"! Entendeu? Nem eu. Mas foi só isso que ele me disse, porque não podia dizer mais nada. Na minha mente, eu repassava cada palavra enfatizada por um eco que não existia na versão original, mas que tava lá na minha memória. Sei que você, caro leitor, no meu lugar poderia querer saber coisas tais como "Tá, mas pra onde eu vou?" ou "Que tipo de missão seria?", "Aceita débito automático?" ou talvez perguntaria apenas: "O que eu preciso saber?", sei lá, essas coisas normais. Mas a dúvida que mais me atormentava era: "Com que roupa eu vou?".

Preciso confessar uma coisa. Tudo bem que minha experiência nessa área especifica em que trabalho (emprestada para o setor do Jack Bauer) já está se estabelecendo na minha identidade policial. Tudo bem que sinto que o Jack já meio que conta comigo e já me passa missões com mais confiança. Tudo bem que às vezes eu tomo a frente das coisas, porque tem muito policial caindo de para-quedas nesta seção, e eles são bem mais hit parade na polícia do que eu, mas que se enrolam bastante pelas bandas de cá. E tudo bem também que este blog já vai fazer dois anos de vida (U-hu, galera!).  Mas a verdade é que na altura do campeonato eu já esperava ter marcado muitos gols mais. No entanto, ainda me sinto um bebezão desengonçado em muitas situações. Sinal de que humildade deveria ser um pré-requisito de todo candidato a uma vaga na polícia. Se eu tô de sacanagem?! De jeito nenhum! Tô falando seríssimo. E isso é engraçado porque sei que fica realmente difícil você colocar na mesma frase essas duas palavras "humildade policial".

Isso não foi uma missão foi praticamente um curso! Trabalhei com um policial que até então eu não conhecia. Vamos chamá-lo de detÉctive Elliot Stabler. Ele trabalha para um outro setor daqui da polícia que vamos chamar de Special Victims Unit (mas que nem é...) e que me pareceu ser um cara bastante dedicado. Foi uma ótima oportunidade para eu ver como ainda estou crua nessa coisa que é ser "policial de verdade". Digamos que o máximo que eu consegui até agora foi ter-que-agir-de-repente-como-uma-policial. Ai, não vou explicar isso agora, mas são coisas bem diferentes. Lamento informar, mas sinto que falta muito ainda pra eu deixar de ser "novinha". Snif.

Eliot Stabler pediu a ajuda do Jack Bauer talvez porque as suas áreas de trabalho sejam semelhantes, embora a clientela seja totalmente diferente. Ocorre que esta OM (ordem de missão) acabou caindo no meu colo. Detalhe: Nos sonhos de um agente novo na polícia, uma missão especial aparece na sua vida de forma incrível. Os grandes chefes de policia te chamam para atuar porque descobrem que só você teria condições de cumprir aquela missão eficientemente. No meu caso, foi a falta de efetivo mesmo, que nessas horas sempre se torna minha forte aliada na transposição dessa barreira enorme que é a falta de experiência. Deveria ser promovida direto para a Classe Especial já que sou especialista em tapar buracos.

E foi isso que aconteceu. Ou seja, nunca serei, né?! Pois foi só mudar o cenário operacional e eu colei as placas. Não, gente. A missão foi muito legal, toda bonitinha, compartimentada, cool! Não teve glamour como tem, normalmente, nas missões do Jack, pelo simples fato de que era tudo muito sigiloso e escondidinho. Mas tudo bem. Faz parte, porque a coisa poderia complicar caso houvesse vazamento de informações, mas no final deu tudo certo, graças a Deus.

Graças a Deus mesmo, pois  o que me deixou realmente desanimada é que na minha imaginação esse tipo de missão tinha que ser algo mais. Entende? Mais providências, mais planejamento e mais levantamentos feitos com muito mais antecedência. Ah, mas não foi assim, não. Pensei em jogar a culpa na SVU e até desenterrei posteriormente minhas apostilas da Academia pra ver se era aquilo mesmo, e se eles estavam procedendo corretamente. Mas que raio de curso de formação foi esse que eu fiz onde a única coisa escrita que tinha  sobre esse tipo de missão era uma linha solitária dizendo que essa área era da competência da "Special Victims Unit" e ponto final?

Perdoem mas estou começando a achar que esse negócio de querer ser operacional na policia é uma exposição à roubada. É meio desesperador você receber uma missão dessas e não saber nem por onde começar! Comecei imitando o Elliot... né? Ele parecia atuar uns dez tons acima, impressionantemente calmo, o que me fazia pensar que tudo estivesse sob controle (?). Ele deve ter feito esse tipo de missão um milhão de vezes. Logo, fiz mímica dele o tempo inteirinho. Tipo uma sombra dramatúrgica. Uma figuração cênica em nome de um show. Pfff. Se na minha avaliação de desempenho constasse o item "capacidade de iniciativa" eu mereceria um zero bem redondinho... O que prova que uma missão de sucesso não significa exatamente que você fez tudo bem certinho nos mínimos detalhes. Mas, talvez, signifique que você teve sorte de nada de mal ter acontecido. E um beijo para todos os policiais antigões arrogantes e embusteiros do Brasil. Tô ligada, hein!

Além disso, uma outra coisa que pegou pra mim particularmente, foi o clima carregado da missão. Tenso. O ar era muito pesado o tempo todo. A gente estava lidando com efeitos colaterais do sistema. Sabe? Tipo, coisas que não podiam terminar daquele jeito. Eu queria me comprometer com aquela causa, indenizar aquelas pessoas. Fazer alguma coisa. Sei lá o quê exatamente. O máximo que consegui foi uma simbólica despedida que se deu numa intensa e ao mesmo tempo fugaz troca de olhares entre mim e eles, que mesmo sem poder dizer nada disse tudo. Só isso. E cada um de nós seguiu o seu destino. Esse sentimento de impotência é gigante e incomoda demais. Taí uma coisa que me preocupa, oras. Será que eu deveria ter prestado concurso para o Ministério Público? Policial não pode sentir essa ternura, essas sentimentalidades, sob pena de ter seus próprios julgamentos afetados blá, blá, blá, pererê. Mas eu sinto muito.

sábado, 26 de novembro de 2011

Isso é que é agilidade.



Eu, faminta, pergunto:
"Cadê? Não tem nem uma coisinha aqui pra gente comer?"

Meu colega, que não perde uma, responde:
"Pode me chamar de Coisinha".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vai ser do meu jeito.


Certa vez, fui reprovada numa avaliação psicológica admissional porque enfatizei demais minha vontade de crescer na empresa. A política devagar e miúda daquela instituição não visava o crescimento do profissional. Queriam pessoas conformadas que durassem muito tempo no mesmo cargo. A psicóloga metódica já imaginava minha "inadequação" e, como se já tivesse feito muito, lançou ainda uma pergunta fatal só mesmo para constatar suas suspeitas. E eu caí como uma pata. Mas qualquer coisa que eu falasse diferente disso seria mentir pra ela e pra mim mesma. É claro que fiquei revoltada. Outro "forte" argumento que ela usou para me reprovar é que eu era qualificada demais para o cargo... "Ah, tá". Essas pedradas deixam suas marcas.

Mas esse mundo irônico dá muitas voltas e certos prazeres. Passei um intenso período trabalhando numa missão que envolvia diretamente advinha quem? Exatamente! Um grupo grande de diretores e gerentes da referida empresa. Claro que não! Sequer citei o nome da psicóloga em tela, até porque não tinha mais o menor propósito reconstituir os fatos agora que já passei neste concurso. M'águas passadas. Mas quem sabe o que significavam aquelas alfinetadas terapêuticas que dei na turma da área de pessoal...

Estou contando isso pra dizer que meu "perfil" continua o mesmo. E apesar de ouvir muita besteira de gente babaca que não tem a mínima noção do que está falando, trabalho e vou continuar trabalhando muito para honrar esta camisa que me veste de orgulho, embora essa atitude desagrade a muitos, como vocês devem saber. Esse é o meu jeito. Minha marca. Minha fome de crescer. Não consigo, não quero e não vou ser diferente. É esse o meu compromisso com o Brasil.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A língua dos homens.



Definitivamente, estou convencida da importância da discrição na vida da gente. Isso inclui o que dizemos por aí. Se em falar o que é preciso já há riscos como o de falar demais ou ser mal interpretado, que dirá falar quando não convém. É deveras estúpido, por exemplo, o comportamento da pessoa que acha que porque está falando em outro idioma ninguém está entendendo nada da conversa. Lamento informar-lhes, hermanos, mas sou policial, entendi exatamente o que vocês conversavam entre si e peixe argentino também morre pela boca.