domingo, 31 de agosto de 2014

Gabinetite.


Parafraseando Che Guevara, se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros, senão, você é um burocrata de gabinete policial.

Devo ter presenciado um delegado nessa situação constrangedora umas duas ou três vezes desde que cheguei na polícia: ele não tinha ~ ideia alguma ~ sobre o que dizer a respeito do documento à sua frente. É a síndrome da gabinetite em fase aguda. Você tentando explicar a experiência de uma montanha russa para o cara que só tinha visto isso na TV.

Com aquela cara de quem tá lendo "A Fenomenologia do Espírito" de Hegel,  ele disse algo como "olha, eu vou analisar com mais calma o que temos aqui... e qualquer coisa te chamo pra gente conversar, ok?". Deu vontade de apoiar a mão no ombro dele, pra demonstrar uma certa compaixão, mas simplesmente saí.

Fico pensando, que frieza é essa que acompanha um burocrata policial, né? Foi essa a impressão que trouxe dele. A operação começou e terminou pra ele ali. Ele não sabe nada sobre as luzes do comboio e sobre o barulho das sirenes abrindo o trânsito caótico da cidade. E eu também voltei para o papel. Feliz, porque mesmo não estando lotada em um setor operacional, eventualmente a gente é chamada a participar de operações policiais. Ainda bem!