terça-feira, 29 de junho de 2010

Teatro dos Vampiros.



Cena 1 - O sangue nosso de cada dia
(Abrem-se as cortinas). Comento com alguém de fora da polícia o fato de em determinado Estado morrer quase um policial por dia. E ele me responde, assim, numa boa, sem querer me ofender:
- Morre, sabe por quê?
- Por quê? Perguntei (Burra!).
- Porque ninguém aguenta mais pagar um "cafezinho" pra eles todo dia. (Ele sai de cena)
Cena 2 - O hálito do diabo
(Pouca luz. Monólogo) - Claro que sei que ele existe, mas sempre soube dele como um ser asqueroso, insultuoso. O corruptor é aquele que tenta te corromper, subornar, comprar. Santa ingenuidade, porque ele foi extremamente sutil. Encostou em mim, com tanta leveza, como quem não quer nada. Senti um perfume intensamente atrativo e envolvente no começo da conversa, mas depois a náusea me veio à garganta. Insídia, coisa podre no ar. Ele se apresenta com vários nomes falsos. Disse a mim que se chamava "Opportunity", porque em Inglês soa ainda melhor. E eu merecia uma oportunidade! Sua lógica mostrou-se tão verdade. Por que pareci tão fácil assim aos olhos dele? Que imagem esquisita é essa que se diz minha e me trai? Ele quase me ganhou. Chegou a tocar no meu rosto e aproveitou-se disso para passar a mão na minha cabeça! Abusado. Conseguiu me fazer sentir tanta pena de mim mesma. (Sobe a música*). "Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou só sei do que não gosto. E nesses dias tão estranhos fica a poeira se escondendo pelos cantos. Esse é o nosso mundo. O que é demais nunca é o bastante e a primeira vez é sempre a última chance..." Com todo respeito aos seus cabelos brancos: Vai pro inferno, mentiroso! (Mas que porca miséria! Perdi um flagrante! )

Cena 3 - O exorcista
Depois de expor em seu blog uma grande decepção com a descoberta de um colega corrupto, o Sargento Lago da PMESP conclui: "A Bíblia, livro sagrado dos cristãos, diz que: 'o diabo veio para matar, roubar e destruir'. Compete à polícia o papel de impedi-lo". (Fechem as cortinas!)
*Letra da música Teatro dos Vampiros - Legião Urbana.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Batom calibre 12.





Coloquei vários cartuchos reservas nos bolsos da calça e ignorei o fato de já ter guardado um batom num deles. Porque sabe, eu preciso do meu batom e ainda não existe porta-batom operacional. E quase alimentei uma espingarda 12 advinha com quê? Perguntemo-nos: "Como foi que essa mulher passou no psicotécnico?" Respondo: Sei lá... Talvez o psicotécnico seja mais direcionado a eliminar quem apresente tendência para fazer o contrário, algo como disparar um cartucho de 12 na boca pra retocar a maquiagem, entendeu? Já disse que adoro atirar em treinamento, mas essas armas não combinam com nada que eu uso. É o fim. Portanto, posso te garantir que, embora elas me contem sobre seu poder de sedução, pra mim, portá-las não é nenhum requinte de vaidade.
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Caros leitores, não sabia o que fazer com os selinhos que eu ganhava e acabei guardando tudo na página "Tentativas de suborno" que fica no rodapé da barra de links aqui à direita. Portanto:
  • considerando a incrível marca de 30 postagens num blog de uma mulher policial anônima. O que é uma coisa que tem absolutamente tudo pra dar errado...
  • considerando a chegada de mais de 171 seguidores na categoria "Informantes".
  • e considerando que "uma mão molha a outra"... Calma gente, falaremos sobre corrupção na próxima postagem. rs rs rs É só uma maneira bem humorada de prepará-los para esse assunto tenebroso. Podem pegar os selinhos à vontade, porque juro que não é pegadinha e garanto que não haverá represálias.
Verifique, por favor, se você não é um dos contemplados!!!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Garoto nervoso.


Sabe o fim do mundo? Então, lá tem uma escola. Sabe quando tipo ninguém quer cumprir alguma missão? Mandam algum novinho, né? Eu, no caso. "Mas eu vou so-zi-nha?" Resposta: "Você fala super bem em público, não vai ter dificuldades". É, eu falo super bem em público e não vou ter dificuldades. Foi assim que me convenceram a proferir uma palestra sobre drogas numa escola pública de periferia. E eis que, quando tudo ia muito bem, obrigada, um aluno do sexto ano levanta a mão e me nocauteia com essa pergunta espetacular: "Mas, tia por que a polícia bate na pessoa que usa drogas?" Conclusão: droga é isso, gente - um moleque de onze anos que sabe mais da vida do que eu.
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Queridos leitores: O jeitinho que encontrei pra sair dessa saia justa está na resposta dada ao comentário da minha querida amiga Bia (95º deste post). Um beijinho e muito obrigada a todos por terem vindo!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sr. e Sra. Má Reputação

Às 10 horas em ponto eu chegava toda produzida ao local indicado, conforme combinamos. Um hotel vinte estrelas nesta cidade. Pensei em telefonar, mas ele já estava fazendo o check in na recepção. De relevante, notei sim, a aliança que brilhava na mão esquerda desse colega policial assinando a ficha, mas não percebi mais ninguém conhecido na cena. Ótimo! Fico imaginando onde aprendi a correr esses riscos que parecem saltar na minha frente. Deixa. Tomamos o elevador. Como ele tava lindo! Que transformação! O surfista penteado e barbeado. Aquele cheiro macio e cremoso pós-barba. E mesmo sem olhar eu sabia onde estavam os olhos dele, por óbvio. Um silêncio que dava pra ouvir a respiração do outro e ele masca um chiclete de menta. Eu só encarava o chão, castamente, e contraía os músculos mandibulares de forma quase involuntária: queria um chiclete... e outra metáfora. Penúltimo andar. A porta do elevador se abriu. Corredor vazio de doer. Ele convidou, "vamos?". E agora? Acabou me convencendo de que ele sabia o que estava fazendo e permiti que ele me conduzisse por caminhos diferentes. Rotas de fuga. Não vou entrar em detalhes, mas posso garantir que aproveitamos bem o tempo para fazermos tudo o que aquela urgência exigia de nós... na piscina, na cobertura, nos restaurantes vazios, na sala de ginástica, na garagem, nas escadas de emergência, nos elevadores, etc. Não é exagero. Não podia imaginar que havia tantos detalhes interessantes num hotel! Saímos de lá juntos, três dias depois, exaustos devido às noites mal dormidas... E assim temos mais uma segurança de dignitários para o meu currículo. Dessa vez fiquei na equipe fixa do hotel. Trabalho, sim, vocês estavam pensando o quê? É assim mesmo que funciona: Uma very important person de fora, que tenha direito à nossa segurança, chega à uma cidade e é escoltada pela equipe móvel. Segue para um hotel bem legal. Claro que antes dela chegar uma equipe já fez todo o plano de segurança e levantamentos de inteligência, outra equipe já fez a varredura eletrônica (contra espionagem, escutas, captação de imagens) e anti-bombas na suíte VIP e adjacências. É sério! Daí a equipe de segurança fixa passa a se responsabilizar pela segurança do dignitário naquele hotel e a gente vai se revezando na porta da suíte VIP enquanto ele estiver na cidade. No meu turno, eu sou a responsável pela vida, pela segurança física e até moral da autoridade que descansa. É importante estar preparada para qualquer situação. Me senti tão profissional! E quase pude ouvir meu pai a dizer: "Filha, pode ser ótimo como experiência, mas péssimo pra reputação". Vida irônica.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um super, máster elogio.

Um caminhão-pipa à frente vazando água na rua seguido de um carro de passeio pequeno. Tudo parando por causa do quebra-molas. Norah Jones de carona no som... Um dia tão lindo... Nada a ver com esse óleo na pista e carro patinando! Ai, meu Deus! Os olhinhos dele acompanhando tudo... Vai bater!! E záz!!! Sem controle o carro desliza pra esquerda. Nosso Pai!!! E antes que colidisse com um veículo em sentido contrário, o carro encontrou pista seca e respondeu ao volante. Volta pra via da direita, transpondo a lombada devagar. Está tudo bem... Graças ao bom Deus! Foi quando ouviu o filhote dizer, espantado e cheio de orgulho: "Mamãe, ainda bem que você é policial, né?".
  • Mandar o carro para a oficina - R$ 5.000,00
  • Cirurgia plástica para consertar o corte na testa - R$ 4.000,00
  • Psicólogo infantil para terapia pós-traumática - R$ 3.000,00
  • Um elogio desses vindo do filho de uma policial - Não-tem-pre-ço e nem vai constar nos assentamentos funcionais.