sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Dica nº 4 - Faça bem feito.

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"A qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão"
- Lema do COT -

Se você já entendeu que é prioritário cuidar de seu bem-estar físico e mental e que você precisa levar sempre muito a sério a sua segurança, acho que agora podemos pensar em fazer um  bom trabalho profissional.

Qualquer um sabe que não tá fácil ser polícia nesse sistema deteriorado em que vivemos no Brasil. Portanto, se você quiser "desculpas" pra não trabalhar eu poderia te apresentar várias, amigo. Só tem um porém, não vale reclamar depois da falta de oportunidades, tá?

Na sua formatura, você jurou que cumpriria suas funções com probidade e denodo, isso se aplica àquelas situações em que ninguém está olhando, certo? Mas alguém pode estar te observando, viu, para o bem ou para o mal. É meio chato ficar usando exemplos pessoais num texto como esse, mas prometi que as "dicas" seriam baseadas em fatos reais... Então desculpem se soa pedante demais, mas já disse anteriormente que estou muito satisfeita em estar trabalhando nesta Unidade em que estou lotada atualmente, mas não foi me escondendo das operações que eu consegui um convite pra vir pra cá, foi porque me viram trabalhando duro e chefiando a operação mais importante da minha vida, até então. E pra ser escolhida como chefe naquela "missão mais importante da minha vida", foi preciso mostrar serviço em muitas outras missões para as quais ninguém queria ir. Assim, se você não é desses que apenas aguardam atrás da moita a chegada da aposentadoria, preste atenção nas dicas da Tia Novinha.

Primeiro: seja voluntário.

Quando entra na polícia, a grande maioria das pessoas não sabe ainda qual é o seu lugar. Outra parte, acha que sabe, mas mudará de opinião à medida em que vai conhecendo diferentes atividades policiais. Portanto, experimente missões em todas as oportunidades possíveis, principalmente naquelas operações para as quais ninguém quer ir. Não desperdice essas chances de descobrir onde você se enquadra melhor. Onde suas habilidades pessoais são mais úteis, mais valorizadas. Além disso, é trabalhando que você vai aprender a lidar com o risco, a ter controle emocional e a manter o foco para resolver problemas. Também é na prática que você vai aprender a ajustar bem e a calibrar o peso do equipamento e da responsabilidade que consegue levar em cada tipo de operação. Vai aprender que é preciso livrar-se do que é desnecessário. Então, aproveite! Claro que vai ser dureza, mas é no calor do nervosismo e da tensão que você vai ser forjado. A espada só é aperfeiçoada após sofrer muitas marretadas. E dói muito!

Segundo: disciplina na veia. 

Ser disciplinado exige insistência, porque não é de um dia para o outro que uma prática se torna um hábito. Faça o procedimento da forma correta, mesmo que todos estejam fazendo errado, sabemos que no trabalho policial, pessoas podem perder a vida se você descumprir uma simples regra de segurança, inclusive no trânsito, então se esforce para trabalhar sempre "no padrão". Insista nas repetições, até fazer com que os procedimentos corretos entrem na "massa do sangue", na memória muscular, e sejam cumpridos de forma quase automática!  Seja organizado com as suas anotações. Memorize informações importantes! Encontre seus equipamentos até de olhos fechados! Procure respeitar a doutrina! Admito que sou meio obcecada por doutrina, porque doutrina é um conjunto de princípios que já foram testados, comprovados, utilizados por vários grupos policiais em diferentes partes do globo terrestre, amigos. É sabedoria adquirida na experiência e nos erros dos outros! Então respeite a doutrina adotada na sua Unidade.  

Terceiro: obedeça a hierarquia. 

Poucas pessoas hoje em dia querem liderar na atividade policial, porque é difícil. Cada colega tem sua opinião e muitas vezes as pessoas criticam sem dó as coordenadas dadas pelo chefe seja ele agente, escrivão, delegado ou administrativo. Das vezes em que chefiei operações, senti como o ser humano é egoísta e como é solitário liderar. Muitas vezes não dá tempo de ficar justificando para cada colega, porque vamos fazer assim ou assado. E muitas vezes vão questionar mesmo depois de todas as explicações já terem sido dadas. Então, procure colaborar com a chefia. É muito desagradável ver um colega questionando sem motivo, só pra testar o chefe, pra irritá-lo, colocá-lo em situação difícil perante os colegas. Claro que dar sugestões, questionar é saudável, lúcido e lícito, mas tem que ter bom senso. Demonstre profissionalismo, lealdade.  Faça o seu melhor! Dê sinais de que você quer muito que a operação dê resultados positivos e que você está comprometido em não deixar que nada de errado aconteça!

Quarto: pense no seu parceiro.

Por mais cansado que você esteja, pense em quem ainda não está liberado para ir pra casa descansar. Se possível, ajude o colega a terminar o serviço dele, também, pra fecharem juntos a missão. Ele também tem família em casa esperando o seu retorno. Vá com ele entregar os equipamentos e viaturas acautelados. Ajude o escrivão na contagem e organização do material apreendido. Quando todo mundo já estiver louco pra terminar, pergunte ao chefe se ele precisa de mais alguma coisa. Seja o primeiro a chegar e o último a sair. Saia do WhatsApp e vá render o colega que ainda não foi almoçar. Ofereça-se para dirigir um pouco em longos deslocamentos. Vai buscar café? Pergunte ao grupo se alguém precisa que você traga alguma coisa.

E reflitam, pois, pra você, hoje, aqui, tudo isso pode não ser nada demais, mas pra quem está há horas em pé, com fome, cansado, com sono... é esse tipo de atitude que marca pra sempre nossa memória afetiva.

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. Amiga, se não tá fácil para os novinhos (homens) que chegam ávidos por um lugar ao sol, pra você, que é mulher, vai ser duas, três vezes mais difícil a depender dos acessórios (filho pequeno, beleza física, marido ciumento etc.). É muito comum as pessoas partirem do princípio de que você não vai dar conta! Então, prepare-se pra ter de provar isso uma, duas, três vezes até que eles se convençam, e se mudar de equipe vai começar tudo do zero novamente! Além disso, saiba que se um colega do sexo masculino errar, vão dizer que "tudo bem", que "isso acontece", mas se você errar, as más línguas vão dizer que é porque você é mulher, e que mulher não nasceu pra esse tipo de atividade. Desse jeito, amiga! E mesmo se você fez tudo certinho e se deu bem, vão achar algum defeito ou algum motivo pra desmerecer sua vitória. Já disseram que eu "consegui" uma boa viagem, porque tava tendo um caso com o chefe. Já disseram que eu só recebia convite pra fazer curso fora por causa das minhas pernas... "Mas, Novinha, por que isso é assim?" Eu. Não. Sei. Outra coisa: desculpem entrar nesse assunto polêmico mas, se você quer mesmo ser levada a sério no mundo policial não se apoie em muletas de gênero. "Que isso, Novinha?" São aquelas artimanhas, do tipo chantagem emocional, para garantir um tratamento especial (tipo aliviar a sua carga, sua escala, etc.) na distribuição do serviço porque você é mulher. Olha aqui pra mim: esse tipo de estratégia é o campeão número 1 em arrecadar a antipatia da equipe e se isso acontecer, amiga. Já era! Espere a próxima lotação, porque eles não perdoam, mesmo.

Pra fechar, deixo com vocês o exemplo da Coronel Cynthiane da PMDF, primeira mulher a comandar uma tropa de elite, nada mais, nada menos que o Batalhão de Choque do Distrito Federal. Ela raspou o cabelo e ficou cinco meses na mata com um grupo de alunos do curso de operações especiais do BOPE. Casada com um policial civil, tinha um filho de 3 anos que se assustou quando a viu chegar em casa careca. Cynthiane garante que não houve qualquer regalia ou diferencial durante o curso em relação aos demais colegas. Leia o que ela tem a dizer:

"Quando me formei como PM, os tempos eram outros. As mulheres trabalhavam em grupos separados dos homens. Depois que fiz curso de pós-graduação, assumi a responsabilidade por áreas de ensino da polícia. Resolvi conhecer um dos vários cursos realizados no Bope e o primeiro que fiz foi para me especializar na segurança de autoridades. Eu estava em ótima forma física e o comandante do Bope me convidou para ficar. Não tinha ideia do que me esperava. Acho que foi muito mais difícil para eles, homens, entenderem que eu estava passando por todas as etapas e conseguindo ir adiante, do que para mim. (...) Ainda há preconceito. Ouço comentários de que não acreditam que eu concluí o curso, que não sou capaz. Mas os homens me respeitam, nunca tive caso de insubordinação. Ainda quero mais. Todo mundo sabe que meu sonho é comandar o BOPE (...) A minha chegada ao comando mostra que uma mulher pode qualquer coisa, basta querer, ter preparo psicológico e persistência".

Aí... é disso que eu tô falando!