segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sobrou pra mim.

A última vez que o fascínio apareceu junto com esse sentimento de impotência eu quase tomei uma punição. Querer acertar é um desejo, não é uma garantia de que tudo vai dar certo. Na hora da decisão é você sozinho e uma angústia que gruda no seu pescoço a te sufocar e  a urgência! Sem treinamento, sem parâmetros, sem modelos, sem alguém que me puxe pelo braço nessas horas e diga “vem comigo que eu sei o caminho!”. Falta ar. Me sinto perdida, tateando, esmurrando no escuro e não encontro a saída. Por isso esse curso significou tanto pra mim.

Que bom pra você que foi trabalhar em áreas inóspitas e aprendeu a fazer de tudo um pouquinho. Muita gente fala isso e estufa o peito “Minha primeira lotação foi no Infeeeeerno, moleque”. Mas sabe que pra mim isso não quer dizer muita coisa? Hum rum, eu sei. É legal fazer clínica geral porque você tem a visão do todo e coisa e tal. Super-master-cool, mas nem levanto as sobrancelhas. Eu admiro mesmo é quem tem pedigree. O Clínica Geral sabe de tudo um pouco, mas sabe quase tudo mal. Concorda? E quando ele não consegue resolver o teu problema ele vai te olhar de forma mais oficial e vai te mandar para o especialista. E eu quero mesmo é resolver o problema. Chega de dúvidas! Eu quero é ter respostas. Quero ter certezas. Quero ter um nome, cujo sobrenome seja minha especialidade. Entendeu? Tipo assim: “Sabe a Márcia da Homicídios?”, ou “Me liga com a Carol da Entorpecentes”. Desculpa tá, mas eu quero ser o Romário que fica na banheira, mata a bola nos peitos, bate pro gol e pronto, está resolvido. Quero fazer vários cursos e  vários gols  na mesma área. Grande área.

Falando assim, dou a impressão de que tenho a vastidão da minha carreira policial toda seriamente traçada, né? Esta sou eu, mentindo pra mim mesma. Porque eu tô é batendo cabeça e atirando pra tudo quanto é lado. Desesperada. Flertando com várias delegacias ao mesmo tempo. Inquieta, me infiltro onde deixam a porta aberta. Sou tipo mulher que se apaixonou pelo amante. Devia estar cuidando da minha “casa”, trabalhando direitinho com aquele meu chefe amargo, que ouve "Yesterday" com Tom Jones. Mas vivo pulando as cercas dessa monotonia geométrica atrás de aventuras. É por isso que gosto de trabalhar com o Jack Bauer. Porque a porta lá sempre se abre milagrosa e irresistivelmente pra mim.

Meu nome não estava na lista de matriculados, obviamente. Porque esse curso é para esses caras que já têm nome na praça. Só que na sexta-feira, o bam-bam-bam de determinada região deu pra trás, sendo que o curso começaria na segunda-feira da semana seguinte. Ligou para o Jack e avisou que não viria porque tal e que não tinha ninguém pra indicar para a vaga dele no curso (Tente achar um servidor público em sua seção numa sexta-feira à tarde. Alguns até “esquecem” o casaco majestoso na cadeira pra dizer que estão na área...) Sem saber de nada eu entro na sala aproveitando a porta aberta pra dizer alguma coisa do serviço que achava que poderia ser importante. O Jack, que já havia feito sinal pra eu entrar com aquele jeito autoritário dele, após colocar o fone no gancho, perguntou sério, como quem não vê nada de cínico nisso: “Quer fazer o curso dos Franceses?”