quinta-feira, 28 de abril de 2011

Preso diz cada uma.

Gente, o que é a polícia no imaginário coletivo? Acho que a resposta a essa pergunta daria uma belíssima tese de doutorado. Acho, não, tenho certeza. Senão, raciocina comigo. Operação lotada de vícios de amadorismo e incorreções sensacionalistas, mas graças a um preso a considerei digna de relato. O coitado não aguentou a curiosidade e perguntou como foi que a gente entrou na casa dele se nem o cachorro latiu. E eu que, em meio à tensão, ansiedade e o estresse normal da coisa toda, nem tinha lá notado a presença do pobre vira-latas, apenas ri, tipo sarcasticamente. Meio tirando onda, sabe como é? E apesar de notar alguma sinceridade na pergunta divertidíssima dele (eu achei), meus colegas não estavam com cara de quem iria convidar o preso a puxar uma cadeira e trocar ideias sobre "entrada em edificações". Pausa. Por favor, tenham em mente que fui treinada pra considerar o preso como a coisa mais perigosa do mundo. Então mantive a postura hamletiana de quem diz "Baby, há mais mistérios entre o céu e a terra do que possa supor a tua vã filosofia". Daí para a maldita arrogância dramática que assola o mundo policial é um pulinho. No entanto, não se dando por satisfeito aquele cara-de-pau de marca maior ainda me larga essa, na maior elegância: "Pois eu sou é fã demais da Polícia (...), cara, vocês parecem uns ninjas!". O jeito foi sair de perto.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sou feita de saudades.


Uma colega distante, uma nova amizade e uma resposta:
Segunda-feira, 4 de Abril de 2011 1:30

"...Poxa fiquei muito feliz e me senti honrada, quando li seu e-mail, enchi o olho de lágrima enquanto lia, e dei um suspiro quando acabou e pensei, 'caraca, ela confia em mim', e isso é o máximo... hoje em dia... você sabe, é muito díficil, você encontrar alguém com quem possa contar, confiar, sorrir e chorar, ser você mesma... e sinto que isso acontece com a gente... então muito obrigada por ter escrito pra mim e pelo que escreveu... pelo desabafo... pela confiança... pela sinceridade... e por deixar eu ser assim presente na sua vida! Amiga... esses pesadelos... estão te deixando triste, né? Isso é ruim... tenta dormir assim tranquilinha... em paz, pensa em coisas boas, momentos felizes da sua vida e ora bastante... mas claro pode ser pela sua 'operacionalidade', mas é também por isso, pelos pesadelos, que você perde o sono ás vezes na madrugada? Espero que isso passe logo e que tenha bons sonhos e acorde e durma feliz sempre... E então... liguei pra você.., porque li aquela mensagem... e deu aquele aperto no peito... a vontade de chorar... de abraçar você... aí pensei... ah, vou ligar pra ela... pra conversar um pouquinho... mas lembra: quando eu tiver incomodando me avisa... E principalmente, quando bater a saudade, a vontade de conversar ou de apenas dizer 'oi... tô com saudade...' me liga, tá!?..."

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mensagem pra você.


Eu vejo ruínas quando olho pra você, sabia? Vejo um lar destruído. Ouço um choro triste. Vejo muitos pratos e copos quebrados e espalhados pelo chão.  Eu vejo uma menina com uma obsessão por agradar você. Vejo-a sendo desaprovada e, especialmente, ouço a palavra "sonsa" sendo repetida de várias formas e maneiras. Eu vejo você entrando numa kombi branca do trabalho cheia de mulheres e vejo você humilhando publicamente a tua família. E entendo porque alguém pode odiar tanto música sertaneja e cheiro de cerveja sem o menor constrangimento. Eu vejo um prato de arroz misturado com gema de ovo. Era um jantar amarelo, gostoso e divertido até o momento em que vejo o jantar da menina voando e se chocando contra a parede da cozinha. Babaca!

Eu vejo você performático fazendo saltos ornamentais no rio. Vejo que você é um dos melhores amigos daquele padre e que você lidera, escreve livros, conta piadas tão bem e tem um monte de amigos. Vejo que você será sempre o super-herói dessa menina porque você bateu tanto no maldito pedófilo que este poderia ter sido dado como morto. Sinto um cheiro de material escolar novo. Vejo você entrando pela porta principal da casa fazendo chuva de notas de dinheiro de verdade! Vejo você fazendo carinho no cabelo da menina, vejo você lutando karatê, nadando, cuidando da sua coleção de discos do Roberto Carlos e vejo que a sua letra, sua pele e seu cabelo são tão bonitos.

Eu vejo uma menina pequena dormindo agarrada ao seu blazer enquanto você cuida das suas urgências irresponsáveis. Tenho tanta pena dessa menininha bem magoada com você. Vejo uma noiva perturbada pensando se ela deve ou não entrar na igreja contigo. Eu vejo uma menina brava, dizendo pra mãe que elas não precisam de nada que venha de você! Eu ouvi ela dizendo que quer que você morra! Mas é claro que ela precisa de você, seu idiota!!! Como é que você não percebe isso?

Domingo você disse que queria ter sido policial na mesma polícia que eu. Você pede pra ver a minha arma. Eu entrego a minha arma nas tuas mãos. Você me faz umas perguntas técnicas e admira as respostas. Você chama o teu filho pra ver a minha arma e explica cerimonialmente o trabalho que eu faço para ele. Você me respeita e eu penso que você... Cara, você nem sabe se eu sou feliz! Você vê o meu filho pela primeira vez e eu já não sei direito o que você pensa. Você me confunde e eu não sei como eu deveria agir. Acho que armaram essa pra mim. Acho que fui atingida! Que droga! E porque essa porcaria dói tanto se você não significa nada pra mim? Você era algo que eu já tinha extirpado da minha lista, da minha vida! Se você me é tão desnecessário porque eu preferia mil vezes ter tomado um tiro?

Eu vejo uma mulher sóbria e dissimulada. Só eu e Deus vemos o quanto ela é frágil. Honestamente? Ela nunca vai entender e não encontra nenhuma justificativa. Nada justifica... entendeu? Nada, nadinha! Ela morre de cansaço, e desânimo, e fraqueza. Há muito tempo ela não tem esperanças no que concerne a você. E agora ela começa a chorar, porque apesar da frieza e indiferença que ela herdou de você, sim, senhor, mais uma vez ela foi atingida.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma mula-sem-cabeça.


O assento ao meu lado estava vazio, então aproveitei pra retirar o casaquinho e o cinto tático. Admito que odeio esse peso todo de equipamentos os quais na verdade a gente raramente precisa usar. E pra achar um terninho cuja parte de cima cubra toda aquela tralha na cintura, é uma novela! Já retirei logo o carregador e guardei em separado para não ser chamada a atenção pela tripulação por causa da arma municiada. Nossa equipe desembarcou no local de destino e fizemos tudo certinho! Para mim a operação foi algo dantesco, porém tranquila - sorte minha - porque quando retornei para a aeronave, feliz da vida, voltando pra casa com aquela euforia toda de dever cumprido, advinha... Cadê a droga do carregador??? No bol-so!!!Senhoras e senhores, percebi que trabalhei o dia inteiro com a arma no coldre completamente limpa, ou seja, zero carregador na arma e zero munição na câmara. Será que dá para imaginar o tamanho do estrago se alguém percebe? Não, não dá. Ah, sim, também notei a falta de um outro equipamento: a porcaria da minha cabeça que não sei onde anda!