domingo, 30 de dezembro de 2012

Voltar pra casa.


Todo mundo sabe que não pode misturar trabalho e vida pessoal, mas às vezes isso simplesmente não funciona. Acredite em mim, tudo o que qualquer policial quer é voltar pra sua casa no final da missão Tive sede do beijo deles todos os dias e todas as noites. No entanto, me parece humanamente impossível você passar tantos dias profundamente submerso naquela violenta pressão lá no fundo do mar que, ao voltar, sua respiração simplesmente não se adapta de imediato às condições normais(?) do ar da superfície. É como se não tivesse acabado. Acho que é isso o que está acontecendo comigo. Sonho to-do-san-to-dia que ainda estou lá e acordo com todos os sintomas de quem ainda não voltou.  Tento camuflar esse desajuste, mas a natureza humana é implacável e as pessoas parecem notar. Querem conversar... E eu queria tanto expressar exatamente como é esse mergulho, mas ninguém ao meu redor parece entender, o que me deixa um pouco irritada, frustrada. Como se tivessem mexido nas minhas coisas enquanto estive fora.

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Vida longa!


Foto: Portal da Academia Nacional de Polícia

Depois de ter assistido à cobertura completa da formatura dos novos Agentes e Papiloscopistas de Polícia Federal no Blog da Regina, parabenizo efusivamente a todos os Novinhos Federais que demonstraram seu valor no certame policial mais disputado do Brasil, que ora chega ao fim (finalmente, né!?!).
 
Nas palavras do Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, o Delegado de Polícia Federal José Mariano Beltrame, presente à solenidade de formatura, a profissão policial é "Uma profissão fantástica! Que pode promover lágrimas, mas também pode promover sorrisos. (Pode) Fazer em uma ação com que uma população inteira se orgulhe de ser brasileira..."
 
Tanto isso é verdade que um desses alunos já me fez chorar (e muito) num misto de orgulho, vibração, alegria e esperança nessa nova geração de policiais. Infelizmente não sei seu nome... muito menos se era do curso de agente ou de papiloscopista. O que sei é que um dos alunos que se formou no último dia 14 na ANP, entrou com um recurso junto ao setor competente naquela casa de ensino questionando a sua nota numa das provas de tiro. Até aí nada de novo, haja vista que o curso de formação da PF ainda é uma mera fase do concurso público, além disso a classificação geral dos alunos define a ordem de preferência na escolha da lotação. Mas o que este aluno pleiteava era a alteração de sua nota PARA MENOS.  Isso porque na hora da digitação, algum servidor da ANP equivocou-se digitando o valor para mais...
 
Assim, neste terceiro aniversário do Blog Mulher na Polícia, the Oscar goes to esse Novinho que como tantos outros policiais anônimos estão aí brigando para fazer um trabalho honesto, limpo e de qualidade na polícia brasileira. Mandou muito bem, garoto!!!
 
Quanto a você, querido leitor, mais uma vez o meu agradecimento pelo brilho todo especial que você confere ao Mulher na Polícia e uma surpresinha de aniversário! Quero falar com você! Deixa seu e-mail e número de telefone (fixo e sem identificador de chamadas - olha a sacanagem, hein!) no comentário. Prometo que não publico e que vou telefonar para os três primeiros leitores que deixarem seu número aqui pra mim.
; )
 
Muito obrigada! Você é o(a) melhor leitor(a) que qualquer blogueiro(a) poderia ter.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Processo terapêutico antioxidante.

Ainda não é um novo slogan oficial, mas é preciso redobrar a cautela. Vim cumprir uma missão num local longe pra caramba de onde moro! Não conheço o chefe direito; o cenário é totalmente diferente do que estou habituada a trabalhar; tem uns colegas esquisitos aqui... Redobrar a cautela é preciso.

Em determinada altura desta missão eu tinha um alvo bem pertinho. Uma oportunidade de ouro, e concluo: "É agora ou nunca!" (exploro essa frase desde meus sete anos de idade). Mas aqui na polícia existe um negócio chamado hierarquia, então, com todo cuidado do mundo, falei com o meu chefe nesta missão, outro Agente de Polícia antigão, que achou melhor eu conversar com o Delegado Papa Fígado. "Certo", eu disse. O colega não me conhece, não vai colocar a mão no fogo, por mim, né? Tudo bem!  Porém, o Delegado Papa Fígado, não estava na área, e seu substituto era o Delegado Ponta Mínima.  Falei com este, expliquei tudo direitinho e disse pra ficar tranquilo que eu tinha tudo sob controle. O delegado me pareceu super light, nem questionou nada. "Vai com Deus" foi o que ele me disse e eu fui com Deus e os anjos!
 
Uma semana depois eu retornava àquela base, satisfeitíssima. Contudo, já na entrada do inferno um colega avisou. "Novinha, você tá f." (Perdão. Eu detesto e evito expressões inadequadas, mas foi o que ele disse). Uepa!!! Que foi que eu fiz? Pensei e perguntei: "Tô f. por que?" O colega respondeu: "porque o  Delegado Ponta Mínima não segurou a tua bronca. Disse que não sabia de nada! E o Delegado Papa Fígado quer o seu fígado com sal e pimenta-do-reino no prato dele hoje! Ele quer falar com você agora"! Agora? Fígado cru não é tóxico?
 
Deixe ver se entendi... fui, fiz, aconteci, tirei ótimas fotografias, curti muito o Nirvana Policial e voltei sem problema algum, como eu disse que seria. Não fiz nada, absolutamente nada ilegal, tampouco imoral!  A manobra era arriscada, não nego, por isso pedi permissão aos meus superiores. Vou responder bronca por quê, então? Ocorre que, para o Delegado Papa Fígado o espírito empreendedor é arriscado demais, é isso? Mas eu jurava que ele era super aventureiro. Aquela lotação dele é pra quem é muito aventureiro e empreendedor. Né, não? Me enganei... Quando chegou e soube onde eu tinha ido, gritou de dentro do gabinete: "quem autorizou essa manobra maluca???". Pra você ver onde realmente mora o perigo, fiquei sabendo que, neste momento, o Delegado Ponta Mínima, ouvindo os berros do chefe, recuou dizendo que sabia da manobra,  mas porque eu apenas havia "comunicado" que a realizaria. Ou seja, o covarde negou que houvesse autorizado verbalmente o procedimento.
 
Meu fígado é tão saudável, porque eu o entregaria de bandeja pra um delegado? Sou egoísta? Não. Mas, em princípio, só vão tirar meus órgãos depois que eu morrer. Esse foi o combinado. Por isso conversei demoradamente com o Agente que era meu chefe naquela missão pra que eu pudesse pelo menos entender aquela freak-histeria do Fígado. E ele não só me explicou direitinho o que eu precisava saber (há focos de um processo terapêutico antioxidante pós-greve acontecendo no órgão, Loreal), como também me orientou sobre como me defender. Ótimo! Então é assim que funciona? Maravilha. Daí liguei para o Roger Murtagh, em quem realmente confio, e falei exatamente o que aconteceu. Ele me deu um puxãozinho de orelha porque de fato era muito arriscado. Mas disse que o Ponta Mínima era um "Descentende de Profissional do Sexo" (Chato isso, pois o que essa senhora teria a ver com essa situação, né?). Aproveitei esse momento e disse pra ele o que estava pensando em fazer. E o Roger concordou, porque era a única saída.
 
Gente! Se eu disse que dava pra ir, era porque realmente dava pra ir, oras. Eu garanti que tinha condições de fazer e fiz. Porém, o Papa Fígado ficou estranhamente procurando qualquer coisinha que pudesse justificar seu animus puniendi. No entanto, para a frustração dele, o único erro que cometi foi ter confiado em alguém que eu não conhecia e não ter exigido uma autorização por escrito. Coisa de novinho inexperiente, mesmo. Fala logo! Mas falando no idioma da região, esse Delegado Ponta Mínima "cutucou a onça com a vara curta". Olha... definitivamente eu vim pra ajudar, mas não-me-pro-vo-ca... porque juro que não tenho o menor interesse em me indispor com delegado lotado há décadas no inferno do mundo (isso não é problema meu), portanto, tento resolver tudo pelo social, da forma mais ética e tranquila possível,  mas se eu tiver que chegar ao ponto de "escrever" aí eu vou arrebentar com o seu sistema. Vou dar as costas e voltar pra casa dançando o moonwalk sem olhar pra trás.  Foi o que fiz.
 
Ao entrar no confortável e intimidador gabinete do Papa Fígado, fui mansa, com toda a humildade do mundo e antes de qualquer coisa já cheguei pedindo desculpas pelo transtorno que causei. E o fogo do inferno nos olhos caramelados dele? Eu, hein... Mas antes que ele me respondesse, deixei o meu relatório na frente dele e fiquei de cabeça baixa. Ele tava vermelho de raiva quando começou a ler. Então passei a observar cada minúcia de suas feições diante do FMEA (Failure Mode and Effect Analysis). Alguns instantes depois ele se mostrava visivelmente incomodado com o nó da própria gravata. Eu? Nada! Fiquei caladinha e quietinha no meu canto o tempo todo. Mais alguns instantes e ele começou a respirar fundo. Parecia pensativo a procurar uma tangente. Depois coçou o nariz, limpou a garganta, recuou no encosto da cadeira e, então, ao terminar de ler o documento seu semblante já era outro. Olhou pra mim por cima dos óculos, e apenas disse, "Tudo bem, Novinha, eu entendo que você não foi devidamente orientada e por isso eu vou mandar arquivar esse documento, mas da próxima vez...". Sei, agora você quer arquivar, né??? Bonito esse seu "espírito de porco corpo"! Você não vai me punir porque sabe que vou levar seu substituto farisaico junto, né? Pensei, enquanto ele proferia seu discurso redundante sobre a reiteração de seus valores medíocres. Respondi: "Sim senhor, chefe, parece que houve um sério mal entendido, né?". Ele disse pausadamente: "É, eu vou resolver isso aqui, e você já pode ir, tá?". "Obrigada, se o senhor precisar de mais alguma coisa eu tô à sua disposição". Apertei a mão direita dele e, de esquerda, apresentei-lhe outra cópia do relatório, dizendo: "Só assina esse recibo aqui pra mim, por favor?". Momento em que ele me olhou no fundo dos olhos por alguns eternos segundos. Ele tinha acabado de receber uma inesperada granada sem pino. E agora eu já o encarava na mesma proporção. "Claro!", ele respondeu ameaçando um sorriso cínico.  Assinou o documento e me entregou.