segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mulheres de preto.




Decidi que quero fazer um curso de operações especiais. Um curso pauleira desses do COT, do BOPE, do CORE, sei lá, qualquer um serve. Me disseram que esses cursos trabalham bem a parte emocional da pessoa, a resistência psicológica e física. Decidi que quero ser caveira! Porque caveira que é caveira de verdade nunca se rende. É disso que eu preciso, porque estou cansada. Quero ter um coração bombado, daqueles que nunca se entregam e nunca te traem. Um coração endurecido feito pedra pra nunca mais me apaixonar por homem nenhum nesse mundo.

É bem verdade que sempre critiquei esses cursos onde o aluno apanha e é humilhado pelos instrutores. Palhaçada isso de raspar a cabeça. Dizer que "o que não me mata me fortalece" sempre me pareceu propaganda ideológica do sistema. Nunca gostei de Nietzsche. Agora mudei de ideia. Quero fazer um curso da-que-les onde o pau quebra, onde rola solta a pancadaria. Dignidade pra quê, né? Como se pudesse existir algo pior do que acordar de madrugada e não poder sentir você dormindo ao meu lado. Eu quero apanhar na cara e sentir gosto de sangue na boca, se isso me ajudar a esquecer seu gosto de vez. É o caso clássico de levar uma surra pra deixar de ser otária. E de pensar que eu me achava inteligente quando você ria das minhas piadas sarcásticas, irônicas. Descobri que a piada era eu... Meu coração é traiçoeiro e mais uma vez conseguiu me expor ao ridículo. Entenda, coração, que se é pra sofrer quero sofrer bonito. Por que não? Preto sempre me caiu muito bem. Faca na caveira!

Quando eu era pequena e sentia dor de cabeça eu deitava no colo da minha mãe e ela colocava uma das mãos sobre os meus olhos e fazia uma oração pra Deus. Aí era só esperar um pouquinho que a dor passava. Não sei o que houve, mas hoje o colo dela não me cabe mais. E nada do que ela me fala resolve coisa nenhuma. Agora perdi o teu colo também. Você sempre soube aliviar as minhas dores. Preciso fazer um curso onde eu experimente outros tipos de dor pra esquecer esta. Quero apanhar até perder a consciência, quero apagar. Até esquecer que você me chamava de "florzinha". Quero apagar da memória o timbre grave da tua voz cantarolando neste apartamento. Eu tô cansada demais. Quero apagar agora! Nenhuma ralação em treinamento deve ser pior do que pensar que acreditei que você me amava. Não pode ser pior do que você ligar pra sua melhor amiga às duas horas da manhã dizendo que você está sentindo uma dor insuportável ao respirar e ela mandar você dormir porque precisa acordar cedo no dia seguinte.  Hoje chorei no único ombro que me apareceu. Aquela que me persegue aqui na delegacia foi quem se esforçou pra me consolar quando explodi em lágrimas de desespero. E eu que jurei que essa mulher jamais me veria chorar. Não deu pra segurar! Ela percebeu, me chamou e perguntou. Não soube o que responder, mas ela já entendeu tudo. A que nível eu cheguei?  É por isso que eu digo que esse sofrimentozinho de treinamento é "fichinha" perto da falta que me faz a tua perna jogada em cima de mim e os sons que você fazia quando me amava, e me invadia, e me acalmava. Quero apagar agora, porque não suporto mais isso.

Eu tento, mas esse final de semana foi crítico. Liguei pra um grande amigo e pedi pra ele sair comigo. É uns quinze, vinte anos mais velho que eu e me conhece desde meus onze anos. É meu confidente, contei tudo pra ele. Olha... a minha carência afetiva pareceu-me tão preocupante que mesmo que nunca-antes-na-história-deste-país eu tivesse sentido qualquer sinal de atração física por ele, a gente quase ficou no sábado! Inacreditável, mas se ele me desse um único sinal de que estava a fim de se aproveitar da situação acho que eu teria deixado rolar. Porque eu tava muito afim e com muita raiva, mesmo. Medo. Nunca fui de ficar pra afogar as mágoas. Acho muito fraco esse tipo de mulher. Já sei que estou a perigo e que preciso me proteger... Maldito feromônio! Escuta aqui, mas escuta bem, vou raspar a cabeça e pintar a cara de preto. Quero ser caveira!

No domingo, implorei ajuda a uma grande amiga de adolescência que adoro e que testemunhou a nossa história desde o início. Nós duas até namoramos os mesmos caras (não ao mesmo tempo, claro, né!). Tanto é que ela tá casada com o meu primeiro namorado.  Saímos pra conversar. Eu tinha certeza que se alguém nesse mundo poderia me ajudar a passar melhor por isso era ela que me conhece, talvez, até melhor que eu mesma. A gente pediu suco de abacaxi com hortelã. Zero açúcar, zero álcool e zero calmante até o momento. Quando ela tocou com habilidade cirúrgica no ponto nevrálgico da minha dor eu me calei. Senti que a coisa seria mesmo sem anestesia. Me lembrei qua a única vez que vi minha mãe de porre foi por causa do meu pai. E me senti íntima de todos os bêbados e noiados que já desprezei pela vida afora. Me deu vontade de abraçar a cada um e dizer "eu te entendo, meu amigo". Não consegui dizer nada, não consegui chorar não consegui olhar pra ela, não consegui esboçar nenhuma reação. Colei as placas! Travei nas quatro rodas... E ela foi super amorosa comigo, mas não adiantou nada porque eu não consegui deixar que ela me ajudasse.  Tava doendo demais. Ela entendeu que precisava encerrar a "sessão" (Hum rum... ela é psicóloga). Antes de ela descer do carro, a gente se despediu, ela me abraçou, tadinha, e chorou comigo. Eu vim embora. E essa porcaria dessa dor veio no carro comigo.

Meu pai vai soltar foguetes quando souber. Você não era o tipo de cara que ele sonhou pra mim. Nosso relacionamento faz parte dos motivos pelos quais ele se decepcionou com a família. Não quero nem ver o meu pai. Ele vai jogar na minha cara toda a indiferença com que reagi quando ele se separarou da minha mãe. Fui rasa nesse dia como quem diz "eu te avisei, pai, a culpa é só sua". À época isso me parecia tão verdade, hoje eu já nem sei mais. Ele vai me perguntar onde foi que a "dona da verdade" a "expert" em vida a dois falhou. E essa é a pergunta mais difícil de toda a minha vida. E eu vou ter que reconhecer que eu não sou diferente dele. Que nenhum de nós dois sabe manter um relacionamento e que tenho mais do meu pai em mim do que eu gostaria de ter. "Tá bom, pai, você venceu e a princesinha aqui falhou". Somos dois fracassados e ainda não tenho ideia de como vou explicar isso para o "Pequeno Terroristazinho" quando ele me perguntar.

Meu chefe perguntou se eu precisava de umas folgas. Mas folga pra quê? Pra ir chorar em casa? Já tenho a madrugada toda pra chorar. Mas bem que ele poderia me mandar para os confins da Amazônia pra eu fazer um curso de sobreviência na selva! Sei que sou 100% operações urbanas (tradução: desculpa gente, mas não gosto de roça, não gosto de cobra, não gosto de inseto e evito pisar em cidade onde não tem Mac Donald's). Mas agora quero fazer um curso de sobrevivência na selva. Onde eu não possa encontrar nenhum papel contendo a sua letrinha executiva. Não acho ambiente pra mim. Não consigo respirar, porque doi. Esse bando de caveira de preto, careca e bombado deve ter algum segredo. Deve ter algum sentido maior em tomar porrada, passar fome, frio e medo até a exaustão, até conhecer o seu limite e apagar. Deve ser um alívio apagar. Não quero sentir mais nada, só um pouco de alívio. Quero esquecer o jeito como você promovia os pratos que preparava para que eu resolvesse comer nem que fosse só um pouquinho. Quero me empanturrar de  raízes amargas. Quero aprender a sobreviver sozinha. Porque amarga é a falta violenta que sinto da sua barba, de te puxar impaciente pela gravata, da sua força apertando o meu braço. Me faz mal essa vontade ardente de escalar o teu corpo e de desaparecer do mundo embaixo de você. Mas agora é comigo. Eu vou sobreviver sem você, pode apostar. Vou raspar a cabeça e pintar a cara de preto. Combina demais comigo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Duelo de titãns.

- "O senhor é o policial que vai embarcar armado?" Detalhe: Todo mundo na fila ouvindo à porta da aeronave.
- "Sim, obrigado por perguntar". Respondeu o policial, ironicamente.
- "O senhor conhece a legislação sobre o tema?". Insistiu o comandante indiscreto.
- "Conheço, claro". E a fila aguardando...
- "A sua arma já está desmuniciada?" Todo mundo olhando para o policial.
- "Está municiada, mas não está carregada".
- "Como assim? O que isso significa?"
- "Significa que eu entendo de armas e o senhor de aeronave. Passar bem".

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Precisão.

Fiz uma besteira enorme, enorme, enorme de grande. Um verdadeiro fiasco que não sei se classifico como humorístico ou dramático.  E por muito, muito, muito pouco eu não respondi a uma bronca daquelas que poderiam ter-me custado o emprego. Essa foi por um triz... Ainda não adquiri essa habilidade para dosar com exatidão a medida de energia necessária pra cumprir uma missão como convém. Exagero quando não é preciso e deixo a desejar na hora em que realmente tenho que agir com energia.  Pelo menos é o que ouço dizerem, ora num sentido ("Pô, Novinha, deixa o moleque"; "Calma moça, também não precisa apelar"); Ora noutro ("Novinha, você me parece ainda muito tímida"; "Novinha, aquela sua postura demonstrou submissão. Não pode!"),  E por aí vai... Resultado: Sei não. Será que estou exagerando?  Não sei precisar. Contudo, esse incidente não vai constar na minha ficha pessoal. Estúpida e livre, ganhei uma segunda chance e mais que um aviso urgente: o poder machuca.
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Tá, mas eu vim por outro motivo. Após deliciosos 15 dias de hospedagem e regalias lá no Blog da Priscila a gente encerra a festa com um texto inédito. Meus agradecimentos à Pri e aos queridos amigos que nos visitaram lá e se divertiram com as nossas brincadeiras. Priscila, minha linda, você só se esqueceu de responder àquela pergunta que te fiz por email: "Que palavras a gente usa pra agradecer nessas horas?" E para o querido leitor tenho outra pergunta: Qual é a diferença entre uma mulher normal com TPM e uma mulher policial também com TPM? Te respondo no Blog da Pri.