domingo, 30 de dezembro de 2012

Voltar pra casa.


Todo mundo sabe que não pode misturar trabalho e vida pessoal, mas às vezes isso simplesmente não funciona. Acredite em mim, tudo o que qualquer policial quer é voltar pra sua casa no final da missão Tive sede do beijo deles todos os dias e todas as noites. No entanto, me parece humanamente impossível você passar tantos dias profundamente submerso naquela violenta pressão lá no fundo do mar que, ao voltar, sua respiração simplesmente não se adapta de imediato às condições normais(?) do ar da superfície. É como se não tivesse acabado. Acho que é isso o que está acontecendo comigo. Sonho to-do-san-to-dia que ainda estou lá e acordo com todos os sintomas de quem ainda não voltou.  Tento camuflar esse desajuste, mas a natureza humana é implacável e as pessoas parecem notar. Querem conversar... E eu queria tanto expressar exatamente como é esse mergulho, mas ninguém ao meu redor parece entender, o que me deixa um pouco irritada, frustrada. Como se tivessem mexido nas minhas coisas enquanto estive fora.

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Vida longa!


Foto: Portal da Academia Nacional de Polícia

Depois de ter assistido à cobertura completa da formatura dos novos Agentes e Papiloscopistas de Polícia Federal no Blog da Regina, parabenizo efusivamente a todos os Novinhos Federais que demonstraram seu valor no certame policial mais disputado do Brasil, que ora chega ao fim (finalmente, né!?!).
 
Nas palavras do Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, o Delegado de Polícia Federal José Mariano Beltrame, presente à solenidade de formatura, a profissão policial é "Uma profissão fantástica! Que pode promover lágrimas, mas também pode promover sorrisos. (Pode) Fazer em uma ação com que uma população inteira se orgulhe de ser brasileira..."
 
Tanto isso é verdade que um desses alunos já me fez chorar (e muito) num misto de orgulho, vibração, alegria e esperança nessa nova geração de policiais. Infelizmente não sei seu nome... muito menos se era do curso de agente ou de papiloscopista. O que sei é que um dos alunos que se formou no último dia 14 na ANP, entrou com um recurso junto ao setor competente naquela casa de ensino questionando a sua nota numa das provas de tiro. Até aí nada de novo, haja vista que o curso de formação da PF ainda é uma mera fase do concurso público, além disso a classificação geral dos alunos define a ordem de preferência na escolha da lotação. Mas o que este aluno pleiteava era a alteração de sua nota PARA MENOS.  Isso porque na hora da digitação, algum servidor da ANP equivocou-se digitando o valor para mais...
 
Assim, neste terceiro aniversário do Blog Mulher na Polícia, the Oscar goes to esse Novinho que como tantos outros policiais anônimos estão aí brigando para fazer um trabalho honesto, limpo e de qualidade na polícia brasileira. Mandou muito bem, garoto!!!
 
Quanto a você, querido leitor, mais uma vez o meu agradecimento pelo brilho todo especial que você confere ao Mulher na Polícia e uma surpresinha de aniversário! Quero falar com você! Deixa seu e-mail e número de telefone (fixo e sem identificador de chamadas - olha a sacanagem, hein!) no comentário. Prometo que não publico e que vou telefonar para os três primeiros leitores que deixarem seu número aqui pra mim.
; )
 
Muito obrigada! Você é o(a) melhor leitor(a) que qualquer blogueiro(a) poderia ter.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Processo terapêutico antioxidante.

Ainda não é um novo slogan oficial, mas é preciso redobrar a cautela. Vim cumprir uma missão num local longe pra caramba de onde moro! Não conheço o chefe direito; o cenário é totalmente diferente do que estou habituada a trabalhar; tem uns colegas esquisitos aqui... Redobrar a cautela é preciso.

Em determinada altura desta missão eu tinha um alvo bem pertinho. Uma oportunidade de ouro, e concluo: "É agora ou nunca!" (exploro essa frase desde meus sete anos de idade). Mas aqui na polícia existe um negócio chamado hierarquia, então, com todo cuidado do mundo, falei com o meu chefe nesta missão, outro Agente de Polícia antigão, que achou melhor eu conversar com o Delegado Papa Fígado. "Certo", eu disse. O colega não me conhece, não vai colocar a mão no fogo, por mim, né? Tudo bem!  Porém, o Delegado Papa Fígado, não estava na área, e seu substituto era o Delegado Ponta Mínima.  Falei com este, expliquei tudo direitinho e disse pra ficar tranquilo que eu tinha tudo sob controle. O delegado me pareceu super light, nem questionou nada. "Vai com Deus" foi o que ele me disse e eu fui com Deus e os anjos!
 
Uma semana depois eu retornava àquela base, satisfeitíssima. Contudo, já na entrada do inferno um colega avisou. "Novinha, você tá f." (Perdão. Eu detesto e evito expressões inadequadas, mas foi o que ele disse). Uepa!!! Que foi que eu fiz? Pensei e perguntei: "Tô f. por que?" O colega respondeu: "porque o  Delegado Ponta Mínima não segurou a tua bronca. Disse que não sabia de nada! E o Delegado Papa Fígado quer o seu fígado com sal e pimenta-do-reino no prato dele hoje! Ele quer falar com você agora"! Agora? Fígado cru não é tóxico?
 
Deixe ver se entendi... fui, fiz, aconteci, tirei ótimas fotografias, curti muito o Nirvana Policial e voltei sem problema algum, como eu disse que seria. Não fiz nada, absolutamente nada ilegal, tampouco imoral!  A manobra era arriscada, não nego, por isso pedi permissão aos meus superiores. Vou responder bronca por quê, então? Ocorre que, para o Delegado Papa Fígado o espírito empreendedor é arriscado demais, é isso? Mas eu jurava que ele era super aventureiro. Aquela lotação dele é pra quem é muito aventureiro e empreendedor. Né, não? Me enganei... Quando chegou e soube onde eu tinha ido, gritou de dentro do gabinete: "quem autorizou essa manobra maluca???". Pra você ver onde realmente mora o perigo, fiquei sabendo que, neste momento, o Delegado Ponta Mínima, ouvindo os berros do chefe, recuou dizendo que sabia da manobra,  mas porque eu apenas havia "comunicado" que a realizaria. Ou seja, o covarde negou que houvesse autorizado verbalmente o procedimento.
 
Meu fígado é tão saudável, porque eu o entregaria de bandeja pra um delegado? Sou egoísta? Não. Mas, em princípio, só vão tirar meus órgãos depois que eu morrer. Esse foi o combinado. Por isso conversei demoradamente com o Agente que era meu chefe naquela missão pra que eu pudesse pelo menos entender aquela freak-histeria do Fígado. E ele não só me explicou direitinho o que eu precisava saber (há focos de um processo terapêutico antioxidante pós-greve acontecendo no órgão, Loreal), como também me orientou sobre como me defender. Ótimo! Então é assim que funciona? Maravilha. Daí liguei para o Roger Murtagh, em quem realmente confio, e falei exatamente o que aconteceu. Ele me deu um puxãozinho de orelha porque de fato era muito arriscado. Mas disse que o Ponta Mínima era um "Descentende de Profissional do Sexo" (Chato isso, pois o que essa senhora teria a ver com essa situação, né?). Aproveitei esse momento e disse pra ele o que estava pensando em fazer. E o Roger concordou, porque era a única saída.
 
Gente! Se eu disse que dava pra ir, era porque realmente dava pra ir, oras. Eu garanti que tinha condições de fazer e fiz. Porém, o Papa Fígado ficou estranhamente procurando qualquer coisinha que pudesse justificar seu animus puniendi. No entanto, para a frustração dele, o único erro que cometi foi ter confiado em alguém que eu não conhecia e não ter exigido uma autorização por escrito. Coisa de novinho inexperiente, mesmo. Fala logo! Mas falando no idioma da região, esse Delegado Ponta Mínima "cutucou a onça com a vara curta". Olha... definitivamente eu vim pra ajudar, mas não-me-pro-vo-ca... porque juro que não tenho o menor interesse em me indispor com delegado lotado há décadas no inferno do mundo (isso não é problema meu), portanto, tento resolver tudo pelo social, da forma mais ética e tranquila possível,  mas se eu tiver que chegar ao ponto de "escrever" aí eu vou arrebentar com o seu sistema. Vou dar as costas e voltar pra casa dançando o moonwalk sem olhar pra trás.  Foi o que fiz.
 
Ao entrar no confortável e intimidador gabinete do Papa Fígado, fui mansa, com toda a humildade do mundo e antes de qualquer coisa já cheguei pedindo desculpas pelo transtorno que causei. E o fogo do inferno nos olhos caramelados dele? Eu, hein... Mas antes que ele me respondesse, deixei o meu relatório na frente dele e fiquei de cabeça baixa. Ele tava vermelho de raiva quando começou a ler. Então passei a observar cada minúcia de suas feições diante do FMEA (Failure Mode and Effect Analysis). Alguns instantes depois ele se mostrava visivelmente incomodado com o nó da própria gravata. Eu? Nada! Fiquei caladinha e quietinha no meu canto o tempo todo. Mais alguns instantes e ele começou a respirar fundo. Parecia pensativo a procurar uma tangente. Depois coçou o nariz, limpou a garganta, recuou no encosto da cadeira e, então, ao terminar de ler o documento seu semblante já era outro. Olhou pra mim por cima dos óculos, e apenas disse, "Tudo bem, Novinha, eu entendo que você não foi devidamente orientada e por isso eu vou mandar arquivar esse documento, mas da próxima vez...". Sei, agora você quer arquivar, né??? Bonito esse seu "espírito de porco corpo"! Você não vai me punir porque sabe que vou levar seu substituto farisaico junto, né? Pensei, enquanto ele proferia seu discurso redundante sobre a reiteração de seus valores medíocres. Respondi: "Sim senhor, chefe, parece que houve um sério mal entendido, né?". Ele disse pausadamente: "É, eu vou resolver isso aqui, e você já pode ir, tá?". "Obrigada, se o senhor precisar de mais alguma coisa eu tô à sua disposição". Apertei a mão direita dele e, de esquerda, apresentei-lhe outra cópia do relatório, dizendo: "Só assina esse recibo aqui pra mim, por favor?". Momento em que ele me olhou no fundo dos olhos por alguns eternos segundos. Ele tinha acabado de receber uma inesperada granada sem pino. E agora eu já o encarava na mesma proporção. "Claro!", ele respondeu ameaçando um sorriso cínico.  Assinou o documento e me entregou.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mamãe se achando.


Indiozinho apontando pra TV, enquanto passava um programa que retrata a vida de quatro mulheres policiais: "Olha lá a mamãe!".

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Estado de carência.


Ando cheia de uma tal espécie de carência que até o cãozinho fofo que pulou nas minhas pernas hoje de manhã sentiu pena de me deixar correr sozinha os 6 km e me acompanhou ida e volta. Cachorro pega essas coisas no faro. E eu tentando vender o contrário.

Pra ser sincera, não tem sido nada fácil ver meus vínculos afetivos se perdendo na distância de morar longe da minha família e dos meus amigos antigos. Me sinto como uma foto guardada, da qual só se lembram quando alguém a encontra fortuitamente. Já fiz terapia pra entender essa minha dor de ausências. No início a psicóloga elogiou minhas respostas honestas (honestamente? Com a grana que eu tava gastando eu mentiria pra ela pra que, né?!). A psicóloga queria ser minha amiga. Devo despertar sentimentos maternais nas pessoas, porque ela achava que deveria cuidar de mim e me dar broncas. Um dia, na terapia ela me deu uma bronca terrível, até aí tudo bem porque eu mereci, mas ficou visivelmente sensibilizada quando desatei a chorar. Sentiu pena de me deixar chorar sozinha. Cobri o rosto com as mãos quando ela puxou sua cadeira pra perto da minha, tentou me abraçar, mas eu não queria abraço. Psicóloga é psicóloga; amiga é amiga; mãe é mãe. Mesmo assim, me dobrei como quem se contorce de dor e vergonha da mãe e chorei no colo dela como se fosse minha amiga. Resultado: não pude mais. Achei maldade não cooperar e acabei dando as respostas que a psicóloga queria ouvir pra ela ficar feliz e eu receber alta logo.
 
No estado de carência, a aproximação de alguém desperta sentimentos confusos e variados. Já passou por isso de querer um colo pra escapar de uma dor intensa, mas sua família e seus amigos estão longe e você se deixa chorar no primeiro colo que aparece? "Ora, Novinha, isso é normal". Pois então tome cuidado, porque muitas vezes só vai aparecer cachorro pra te dar colo, eles pegam essas coisas no faro. Aí você vai levar bronca, vai chorar muito e ainda vai pagar caro por isso.

sábado, 10 de novembro de 2012

Briefing.

Uma coisa eu preciso admitir: difícil imaginar como se fazia planejamento operacional há 15 anos atrás quando ainda não existia a tecnologia que temos hoje. Adoro essas missões onde a gente tem que pensar, planejar, calcular, visualizar  e, claro, executar! Vou pegar um café.
 
 
 


Ps.: Andei, ou melhor, voei... no helicóptero da Polícia!!!
 

domingo, 4 de novembro de 2012

Só por uma noite.

 
 
 
Conseguimos cumprir a missão naquela cidade logo pela manhã, mas só poderíamos voltar pra casa no dia seguinte. É o meu trabalho... fazer o quê? Turismo, oras! Meu parceiro, me levou pra conhecer os pontos interessantes da região. Eu gosto de conhecer lugares diferentes e gosto mais ainda de fazer essas coisas de oportunidade única. Olhamos a agenda cultural e ainda conseguimos comprar ingressos para um show imperdível! Perfeitooooo - pensei - Hoje vou sem stress, sem arma, sem carteira... e sem noção, pois só por uma noite eu quero esquecer que sou policial. Quero ter 17 anos de novo e sair pra me divertir, espairecer, respirar, ser uma pessoa normal (eu disse isso alto?). Fui.

Inesquecível perceber como o mundo é grande aqui longe de casa. E essa música é muito irada e essa cidade é muito irada... E 17 é uma idade muito irada... Veja bem... não há argumentos racionais. Apenas curti até não poder mais, voltei para o hotel e apaguei.
 
Dia seguinte. Café da manhã regional, check out, despedidas... Vambora! Porém, chegando no que vou chamar de portão de saída da cidade, me lembrei que tinha esquecido uma outra coisa: a Isabella (minha pistola) tinha ficado no hotel. Pânico! Voltamos imediatamente para buscá-la... No caminho eu calculando a minha estupidez e o tamanho da punição referente: "Será que isso dá inquérito? Posso alegar incapacidade civil ou inimputabilidade penal? Afinal, ontem eu tinha 17 anos e hoje não é o dia do meu aniversário..." Sei lá, sabe.
 
Pedi a chave, disfarçando a ansiedade e subi correndo. Quando abri a porta, fui direto ao ponto. E essa sapequina tava lá bonitinha, no lugarzinho onde a deixei. Toda brava, olhando séria e reto dentro dos meus olhos tão felizes e aliviados por vê-la novamente. Eh, Isabella. Ciumenta, traquina e vingativa!  Ela fica fosca e gelada de raiva quando saio sozinha.

sábado, 27 de outubro de 2012

Certeza.


 

 
 



Essa foi "A" missão do século!!! E eu acho horrível essa expressão "A-nãoseiquelá do século", mas deu vontade de revelar, em neon, a minha fome de êxtase, como se escrevesse a frase em algum ponto do ar à minha frente.

Tão perto, não importando a distância
Não poderia ser muito mais vindo do coração
 
Incrível, mas parece que agora eu finalmente peguei o jeito desse serviço aqui. Já consigo "prever" algumas coisas, já tenho acertado melhor o local onde ficar, o quê, como e quando fazer. Estou aprendendo muito, muito, muito com Roger Murtaugh! E estamos conseguindo nos entender muito bem. Sério. Eu vejo que ele sabe fazer o trabalho. Sabe muito! E tem conseguido ganhar a confiança do pessoal lá em cima. Porque aqui, saber fazer é até fácil, difícil é convencer os críticos disso. 
 
Sempre confiando em quem nós somos
E nada mais importa
 
Olha, digamos que com Jack Bauer eu fiz o Basic I, II e III. Com Roger Murtaugh eu posso dizer que estou cursando o Intermediate I. Ou seja, outro patamar, ok? (Eu sei que fico insuportavelmente chata  quando estoy... felics, mas vale a pena porque escrevo muito mais rápido). Ocorre que meu chefe me deu uma missão especial dentro dessa missão especial. Traduzindo: ele tem oito agentes, mas dentre essas oito opções, ele preferiu passar a missão pra mim! E então fui vibrando no último volume.
 
Nunca havia me exposto dessa forma
A vida é nossa, nós vivemos do nosso jeito
 
Me senti honrada demais pelo chefe ter confiado a mim esse trabalho. Com certeza foi uma das mais delicadas que já enfrentamos! Me senti super confiante e segura na operação e valeu a pena cada minuto. Me senti privilegiada porque foi uma oportunidade muito interessante. Ah, se eu pudesse contar para meus colegas da faculdade sobre essa missão e sobre tudo o que ouvi e vi nos bastidores daquilo que foi transmitido por tantos meios de comunicação deste país.
 
Todas essas palavras eu não apenas digo
E nada mais importa.
 
Me senti valorizada demais porque as pessoas me respeitaram de uma forma que nem eu mesma sequer imaginava que poderia acontecer. Elas não me falaram nada, especificamente, nesse sentido, apenas me trataram de uma forma que eu juro que não esperava. Deus sabe fazer supresas!
 
Acredite, eu procuro e encontro isso em você
Todos os dias tens algo novo pra nós
 
Me diverti! 
 
Mente aberta para novos pontos de vista
E nada mais importa
 
E quando tudo terminou e muito bem, percebi que meu chefe ficou vi-si-vel-men-te muito orgulhoso e satisfeito com o meu trabalho. E eu contei tudo pra ele com tanta emoção (preciso de terapia?) e com tanta felicidade (estoy loka?). E ele achando que eu ficaria chateada por ter que trabalhar na folga (Soy loka por ti, América! Soy loka por ti, amore!). Nesse caso, as orientações do sindicato fazem tanto sentido quando as pérolas da Marta Suplicy. 
 
Nunca me importei pelo que eles fazem
Tô nem aí para o que eles sabem
Mas eu sei.
 
Disse várias vezes a ele que pode contar comigo sempre que alguma coisa assim aparecer (sou dessas oferecidas). E ele ainda me agradeceu, com aquele sorriso experiente de certeza no rosto.
 
Tão perto, não importando a distância
Não poderia ser muito mais vindo do coração
 
Ainda estou aqui processando as informações. Pensando na grandeza dessas possibilidades e em como é importante você trabalhar naquilo em que tem prazer (soy piegas, pero soy feliz). Não tenho dúvidas. É certeza que estou no lugar certo.

Sempre confiando em quem nós somos
E nada mais importa

PS. 1 - O que está centralizado é a minha tradução da música Nothing Else Matters do Metálica.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Muito chão pela frente.


Meu boot par-ceiro em cima da máquina de lavar roupas esperando pra ser limpo. Mas não se iludam com esse jeito domesticado dele. Isso é inquieto igual à dona.

sábado, 13 de outubro de 2012

Incoerências.

 
 
Quando a bomba caiu no meu colo eu parei, com o auxílio da prudência, e tentei tomar a decisão mais acertada para a equipe: liguei imediatamente para o colega. Achei que estava sendo tipo muito parceira. Mas não sei exatamente que parte de "Olha, você errou, vamos tentar resolver isso juntos?" que meu colega antigão não entendeu. Porque primeiro ele não me levou a sério. Depois demonstrou claramente que não gostou da minha atitude.
 
Tá, mas o que é que você tem a ver com o erro do seu colega, Novinha, se você não é chefe dele? Vou pular a parte de que num trabalho em equipe se um erra todos são prejudicados e não vou nem comentar que a imagem que ele passa da polícia reflete na imagem de cada um dos colegas. O problema é que o erro dele interferiu diretamente no meu trabalho. E aqui não é permitido errar, lembram? Digamos que o colega tenha acendido o pavio ontem e a bomba só vai explodir hoje, no meu colinho, após assumir o serviço, entenderam?

Foi assim que eu passei a ficar com um pé atrás quando um colega enche a boca pra dizer que nunca respondeu a uma bronca na polícia. Eu nunca respondi PD (processo disciplinar) na minha jovem, porém intensa, carreirinha policial, mas bem que merecia ter respondido. Merecer talvez seja uma palavra exagerada, mas digamos que se as normas fossem aplicadas rigorosamente eu já teria enfrentado alguns dissabores.
 
Para a nossa sorte, um colega saiu pra resolver o problema e, pela Graça de Deus Pai, conseguiu "cortar o pavio da bomba" que estava dentro do porta-malas de um carro, antes que alguém se machucasse. Mas furo é furo e minha pergunta era se seria necessário/sensato, deixar algo registrado sobre o ocorrido, caso houvesse alguma consequência de ordem administrativa, por exemplo, por isso quis conversar com o colega. Acho que qualquer pessoa com um mínimo de senso de responsabilidade entenderia a minha preocupação.
 
Posso falar? Eu acho extremamente sexy quando um homem encrencado assume os próprios erros. Isso mexe involuntariamente com meus hormônios que entendem que aquele é um macho Alfa-Alfa da espécie humana. O Provedor!! O Protetor!! O Potente!! Com "P" maiúsculo! É bem esse o tipo de cara que me faria virar o pescoço magneticamente pra olhar de novo de forma mais demorada. Que me levaria a morder a parte interna dos lábios ao sentir aquela dor vazia no interior do útero contraído reflexamente. Caso eu não fosse comprometida, seria a perfeita ocasião para virar a cabeça completos 180 graus!

No entanto, meu colega antigão me pareceu neuroticamente transtornado com a possível repercussão do erro cometido em sua ficha impecável e, igual a uma garotinha mimada que dá birra pra não tomar banho, literalmente me ameaçou, dizendo mais ou menos assim "olha, registra o que você quiser, mas se eu for, dou um jeito de te levar comigo". 
 
Quem seria tão idiota de arriscar o próprio pescoço por um colega desses? Eu. Eu resolvi não escrever nada a respeito no livro de ocorrências do plantão. Calma pessoal, continuo monitorando a situação. Eu mesma fiz e refiz todos os cálculos. Se Deus quiser vai dar tudo certo. O que me incomoda é esse gosto amargo da decepção, o qual tento temperar com algum aprendizado.
 
Não se deve julgar um policial pelo número de punições que ele levou. Primeiro porque, como você já deve ter notado, acontece de inocentes pagarem pelos pecadores.  Segundo que quem assume que já errou alguma vez, pode ter lá seus defeitos, mas pelo menos não vai precisar vender a alma pra não sujar o currículo.
 
É desses policiais de laboratório que eu tenho medo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Quer me matar do coração?


 
Recebi pessoalmente a indicação de um blog escrito por uma mulher policial anônima: o meu!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sintomas.




Em um jantar de casais, discuti, não-sei-pra-quê, com um amigo meu. Um professor de História que foi meu namorado. Ele criticou, por mera indução semiológica, a ação de um policial militar noticiada na TV. Contestei veementemente a teoria dele e quando dei por mim já estava bastante alterada questionando o seu espectro limitado marcado ridiculamente por inclinações negacionistas, histéricas e apedeutas. Mas na verdade eu estava brigando era comigo mesma. Eu não me aguento mais! Ele não deve ter entendido nada, coitado. Achou que ainda estava falando com aquela universitária que trabalhava com meninos de rua. Sabe, a gente pode até voltar pra casa um dia, mas não volta como era antes. Volta diferente. A atividade policial (inclusive a Academia) às vezes mexe com certas coisas dentro da gente... É como um corte profundo que fica latejando inflamado por um bom tempo. Se alguém encosta você grita! Grita porque dói, porque irrita, porque sim, oras... Eu sei lá por que... Eu sei que tenho que tentar equilibrar as coisas, e não está sendo fácil. Num momento você tem que ser sensível pra aceitar as mãozinhas do seu filho fazendo carinho no seu cabelo. E daqui a pouco tem que se endurecer para não ouvir o choro de uma mãe que está vendo o filho dela ser preso pela polícia. É complicado fazer essa transição.
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Mundo pequeno.



Parece uma coleção de pins, mas é mais. É tradição, em eventos policiais, a gente trocar essas coisinhas. É uma coleção de histórias, registros, lembranças, contatos, amigos. Começando da esquerda pra direita, de cima para baixo:

A - INTERNACIONAIS

1 - Polícia Federal da Austrália;
2 - Serviço de Segurança Diplomática - EUA
3 - Serviço Secreto - EUA
4 - Polícia Montada - Canadá
5 - Polícia Federal - Argentina

B - FEDERAIS

6 - Presidência da República Federativa do Brasil
7 - Secretaria Nacional de Segurança Pública - MJ
8 - Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal
9 - Academia Nacional de Polícia
10 - Segurança da Câmara dos Deputados

C - ESTADUAIS
11 - GATE - Polícia Militar do Estado de São Paulo
12 - Curso de Segurança de Dignitários da Polícia Civil do Distrito Federal
13 - ROTA - Polícia Militar do Estado de São Paulo
14 - Polícia Militar do Estado de São Paulo
15 - Polícia Civil do Estado de Sergipe
16 - Departamento de Polícia Judiciária da Capital - Polícia Civil do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Chateadíssima.

Encontro um abrigo pra fazer uma troca rápida de carregador, fecho a arma já carregada, aponto para o alvo enquanto corro para o próximo abrigo. E o quê??? Metade da minha pistola simplesmente cai no chão. Peguei a parte que caiu (ferrolho) coloco na arma de novo, mas a arma não segura... "Que porcaria é essa???" Armeiro: "quebrou a mola do retém do ferrolho". Sorte que era treinamento, né, senhor fabricante. EU EXIJO UMA EXPLICAÇÃO!!!

Ilustração: Charlie.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Delicadeza violenta.


Parece um convite ao abuso de autoridade, mas é apenas um aviso pra pensar antes de agir. Eu era a única policial naquele salão, se não estava enganada. Ouvi a menina dizendo "não" com todas as letras mas o cara simplesmente não ouvia. Tem coisa que nunca muda. Muda o cenário, os personagens, mas o enredo é o mesmo. Me identifiquei formalmente como policial e perguntei qual era a situação. Eu já sabia o que estava acontecendo, mas era meio como uma autorização verbal expressa pra poder agir. "O senhor, por gentileza, vai ficar lá fora", disse a ele. Da mesma forma que o sujeito ignorava a voz dela, ignorou também a minha. Lembrei-me de um professor da Academia que falava que se o policial der a carteirada, ele tem que entrar. Penso que o princípio se aplica, da mesma forma, à ordem policial dada. Se você deu uma ordem ela terá que ser cumprida. Que droga! Agora eu teria que ir até o fim.

Aprendi com o Guerreiro algumas técnicas para serem utilizadas em situações em que você não pode fazer muito "barulho". Não pode sacar arma, não pode gritar, não pode fazer barraco, nem fazer beicinho, mas tem que agir. Eles chamam de ataque aos pontos de pressão, eu chamo de "delicadeza violenta", o pessoal dos Direitos Humanos chamam de tortura. Era a hora de usá-las. As pessoas começaram a perceber que alguma coisa estava acontecendo. A menina saiu logo de perto. Insisti na ordem dada. Ele retrucou que não podia sair e que ficaria lá até o final, por determinação do "dono da casa" e blá, blá, blá e pererê e coisa e tal... Eu sabia que ele estava mentindo. Como se não bastasse, o cara começou a ficar agressivo. Não chegava a ser uma agressividade violenta, era mais uma coisa de zombaria. Aquele professor podia ter avisado que cada segundo de resistência torna o dever de agir mais árido e mais difícil de suportar.

Não tirava o meu corpo da frente dele, fazendo com que ele fosse recuando de pouquinho em pouquinho. Podia ter feito aquela posição de águia do Karatê Kid, né? Não podia deixá-lo ganhar espaço. No mínimo ele deve ter pensado "Essa mulherzinha deve ser louca". É, eu sei. Foi loucura mesmo, burrice minha, porque ele poderia ter me machucado... Antes de dar o primeiro passo eu deveria ter pedido reforço da equipe que estava no terreo. Mas existe "risco zero" em alguma operação policial? Existe "risco zero" de se machucar em algum tipo de relacionamento? Existe "risco zero" na vida? Já ouviu falar que "O homem é o lobo do homem. Somos naturalmente violentos", ou que "A mão que afaga é a mesma que apedreja"? Portanto, "Ele poderia ter te machucado" é uma das frases mais inúteis na Polícia.

Nessa hora eu só queria ser um pugilista enorme. Ter pelo menos o triplo do meu peso e uns trinta centímetros a mais de altura. Queria ser um "armário" negão do Harlem. Aposto que a história seria outra. Tentava se esquivar de mim e eu me colocando na frente dele. Ninguém aparecia para ajudar! Minha solidão era tanta que não me deixava tirar os olhos de cima dele nem por um instantezinho sequer. Ele teria que sair dali, nem que fosse hipnotizado (Uma cobra "naja" não é lá um bicho "peso-pesado", e come até um boi! Ah não essa é outra cobra, né?). 

O braço dele não era lá tão musculoso, pressionei o local certinho porque ele contraiu o corpo de dor. Ninguém viu isso porque eu estava de costas para o público. Apertava o braço dele toda vez que ele empacava. Sim, eu estava literalmente tentando, sozinha, tirar ele no braço! Percebi que nos aproximávamos da porta. Eu acho que ele se sentia tão ridículo sendo acuado por uma mulher, não exatamente pela mulher em si, mas pelas pessoas que deveriam no mínimo estar adorando aquela queda de braço.

Eu tremia nervosamente e o coração já não batia, esmurrava. Falei bem baixinho, quase sem mexer os lábios. Não sei se implorando ou apenas sussurrando: "você vai ter que sair porque eu estou mandando você sair". Notável que nem a minha retória é robusta. Mas entenda que na minha cabeça não era eu que estava ordenando, era a POLÍCIA. Ele tinha que me obedecer! Até porque eu não tinha a menor vontade de levar ninguém preso para a delegacia naquele dia. Ainda bem que o "dono da casa" que na verdade era uma repartição pública, não viu nada, estava em outro ambiente. Tenho certeza de que só pelo fato de eu ser policial ele tomaria as dores do sujeito. Não saberia o que fazer nesse caso. Apertei novamente o braço dele no mesmo ponto sensível. O braço dele já estava todo vermelho porque eu já tinha apertado o lugar errado uma dúzia de vezes, daí finalmente ele disse exasperado: "Tira essa mão de mim!". Eu já queria tirar o omoplata dele do lugar. Retruquei: "Eu tiro se você sair". Eu deveria estar vermelha de raiva. Ele falou por último: "Tira a mão que eu saio". Ele já estava vermelho de raiva. Soltei o braço dele, dando-lhe pelo menos uma saída honrosa. Ele disse no sufoco: "Agora eu saio" se virou e saiu. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Mas falem de mim.

Na polícia existe um arquivo onde fica registrado o seu conceito perante a instituição, a sua "ficha" ou a sua "pasta", acho que o termo correto é "assentamentos funcionais". É lá que guardam o seu termo de posse, seus dados pessoais, certificados, seus elogios, promoções e punições. Seu histórico. Mas isso é só uma formalidade. Eu acho que ninguém consulta essa porcaria quando precisa recrutar alguém para uma missão especial, como é feito nos filmes policiais. No máximo eles pedem um nada consta seu na Inteligência e pronto. Imagino. Mas acho que o que realmente conta aqui dentro é o que é falado a seu respeito nos corredores. Sério. Tem histórias de policiais aqui dentro que eu já ouvi várias vezes contadas por pessoas diferentes, em lugares bem diferentes. São as lendas. E pode acreditar, seu perfil interna corporis, digamos assim, começa a ser formado na Academia (cara... vai por mim, que eu sei o que estou falando). Isso me traz um certo pavor, porque não é um método muito confiável. Se é que existe algum método confiável de avaliar pessoas, né? As pessoas só contam os fatos sem narrar as circunstâncias, os motivos... Mas o Agente Roger Mutagh respeita muito essa análise que os colegas fazem uns dos outros. Pelo que entendi, foi devido ao meu conceito perante meus colegas que eu vim parar aqui (por indicação do chefe é que não foi...). Curiosa, descobri que foi um colega lá do setor do Jack Bauer, que sugeriu meu nome numa dessas conversas informais pra fechar os escolhidos desta equipe onde sou a única mulherzinha (Operação Branca de Neve e os sete anões). É lógico que eu fui tirar essa história a limpo com o Roger e ele confirmou dizendo que o colega avaliou assim o meu trabalho: "ela gosta muito e sabe fazer direitinho". Imagina "Ele" (meu amor) ouvindo isso a meu respeito. É melhor eu explicar, logo. "Amor, olha, não é nada disso que você tá pensando. O que meu colega quis dizer é que tem muita mulher que gosta, mas não sabe fazer, eu concordo com ele e digo mais, a maioria das que não gostam é justamente porque não sabem fazer, entendeu?". Não. Ok, porque essa realmente não seria uma explicação convincente. Não estou reclamando, confesso que gostei de ouvir isso e mais ainda de estar aqui. Mas vocês vão concordar comigo que uma frase dessas dita fora do seu contexto... aumentaria consideravemente a minha popularidade aqui dentro! Certeza!

Ps.: Senhores, tem texto novo na "Confraria"

terça-feira, 21 de agosto de 2012

É claro que o sol vai voltar amanhã.



Tem dias que portas e janelas estão fechadas e é só escuridão.  E eu torço para que essas canções depressivas, de melodia ruim, que só falam de um fim iminente, parem logo de tocar. Hoje, ele sorriu pra mim depois de um longo e frio período de inverno. Um sorriso macio de quase primavera, como há muito tempo eu não via no rosto dele. Riu sem tirar os olhos dos meus e eu não queria desviar o olhar pra não perder nem um segundinho daquele momento iluminado. Amei saber que consegui fazê-lo rir daquele jeito de novo pra mim. Mesmo que Ele tenha rido de mim. Nenhuma dor ou tristeza pode ser maior que um sorriso desses. Estamos vencendo essa depressão. Nossa. Eu tinha me esquecido de como era bonito o sorriso dele.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tá fácil pra ninguém não.



Falei pra vocês que aqui no meu setor umazinha errada anulava todas as certas, lembram? Mas depois, quando dei aquele balão espetacular na imprensa (e tem gente que ainda me chama de modesta), acabei achando aquela frase um tanto quanto exagerada. A má notícia é que infelizmente eu não estava exagerando. Um colega meu, aqui da equipe do Agente Roger Murtagh, o Dunga, acaba de ser dispensado. "Dispensado" é um eufemismo porque ele sequer teve a chance de exercer seu direito de defesa. Mal teve tempo de se despedir da equipe. Calma. Ele continua sendo policial, só não vai mais continuar trabalhando nesta equipe. Motivo: levou um balão espetacular de um jornalista... E porque eu deveria estar preocupada, né? Só porque não quero ser a próxima? Porque não quero ser devolvida para Aquela Delegacia? Ou simplesmente porque estou sentindo um cheiro de batata assando? Que nada... Tanto é que já reuni conteúdo para umas cinco páginas de estudo deste caso, apontando (para mim mesma, claro) falhas que poderiam ter dado causa a este erro e levantando possíveis posturas preventivas. Vou até sugerir a compra de novos equipamentos. Faltou, por exemplo, uma bola de cristal porque meu colega não tinha como advinhar o que iria acontecer. Seria muito proveitoso, também, colocar um cesto grande para os policiais deixarem do lado de fora todos os seus problemas pessoais enquanto estiverem em serviço (o Dunga tinha tido recentemente um considerável trauma familiar. Que ninguém considerou). Ah, e não poderia faltar também super óculos visão raio-xis! É claro que o Dunga não pisou na bola porque quis, né gente, ele foi enganado pelas aparências, ou circunstâncias. É, mas desde quando policial pode ser enganado? Sabe qual é o problema? Durante o probatório todo mundo conclui que não pode confiar em você porque você não sabe nada; depois do probatório eles também não vão confiar em você porque você não sabe tudo.

Créditos: essa é outra tirinha do Charlie. Thanks Charlie!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Supremacia do interesse público.



Sabe quando há uma situação e você passa batido? Sabe quando você fica dias e dias ruminando frases que você poderia ter dito naquela ocasião? Sabe quando você decide não fazer alguma coisa quando poderia ou deveria ter feito? Sabe, né. Pois é, mas dessa vez não teve nada disso. Tudo dando errado e meu sangue já tava quente enquanto meu colega permanecia imóvel lá no fundão com cara de samambaia. "Quer saber?" Pensei. "Dane-se o plano A, o plano B e o plano C"! (será que tínhamos um plano "C"?). Era eu quem estava mais próxima da porta, então fui... Só uma perguntinha irritante: existe uso da força sem protestinhos indignados? Claro que não, mas juro que agi no estrito cumprimento do dever legal e viva o fim do probatório! Pane sanada, tomei a primeira escadaria de emergência que encontrei no prédio. Era isso ou voar pela janela... Desci desvairadamente os quatro andares e consegui chegar à garagem onde a área estava "limpa". Controlei a respiração, arrumei o cabelo, fingi que nem era comigo e ainda dei um sorrisinho para o vigilante gatinho (marketing profissional). Embarquei no carro do Imortal  e não falei palavra, como se toda aquela excitação alucinada fosse coisa de rotina. Na hora é puro êxtase, depooooois você começa a pensar: "nossa, e se der algum problema... e se isso, e se aquilo..." Até agora ninguém comentou nada. Acho que é um bom sinal. Pelo que ouvi na hora, os repórteres que presenciaram os fatos concluíram que eu era alguma funcionária abusada da casa anfitriã. Existe julgamento precipitado da imprensa? Porque eu não disse isso! Tá vendo porque é bom sempre ter uma mulher na equipe? A gente tem cara de tudo, menos de polícia.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Salmo Ponto Quarenta.

Vivemos esperando
Dias melhores
Dias de paz, dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás

Coloquei toda minha esperança no Senhor; ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro. Ele me tirou de um poço de destruição, de um atoleiro de lama; pôs os meus pés sobre uma rocha e firmou-me num local seguro. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino de louvor ao nosso Deus. Muitos verão isso e temerão, e confiarão no Senhor.

Vivemos esperando
O dia em que
Seremos melhores
(Melhores! Melhores!)
Melhores no amor
Melhores na dor
Melhores em tudo

Como é feliz o homem que põe no Senhor a sua confiança, e não vai atrás dos orgulhosos, dos que se afastam para seguir deuses falsos! Senhor meu Deus! Quantas maravilhas tens feito! Não se pode relatar os planos que preparaste para nós! Eu queria proclamá-los e anunciá-los, mas são por demais numerosos!

Vivemos esperando
O dia em que seremos
Para sempre
Vivemos esperando
  Dias melhores prá sempre
Dias melhores prá sempre

Sacrifício e oferta não pediste, mas abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado, não exigiste. Então eu disse: Aqui estou! No livro está escrito a meu respeito. Tenho grande alegria em fazer a tua vontade, ó meu Deus; a tua lei está no fundo do meu coração. Eu proclamo as novas de justiça na grande assembléia; como sabes, Senhor, não fecho os meus lábios. Não oculto no coração a tua justiça; falo da tua fidelidade e da tua salvação. Não escondo da grande assembléia a tua fidelidade e a tua verdade. Não me negues a tua misericórdia,

Vivemos esperando
Dias melhores
(Melhores! Melhores!)
Dias de paz
Dias a mais
Dias que não deixaremos
Para trás

Senhor; que o teu amor e a tua verdade sempre me protejam. Pois incontáveis problemas me cercam e as minhas culpas me alcançaram, e já não consigo ver. Mais numerosos são que os cabelos da minha cabeça, e o meu coração perdeu o ânimo. Agrada-te, Senhor, em libertar-me; Apressa-te, Senhor, a ajudar-me. Sejam humilhados e frustrados todos os que procuram tirar-me a vida; retrocedam desprezados os que desejam a minha ruína. Fiquem chocados com a sua própria desgraça os que zombam de mim. Mas regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te buscam; digam sempre aqueles que amam a tua salvação: "Grande é o Senhor! " Quanto a mim, sou pobre e necessitado, mas o Senhor preocupa-se comigo. Tu és o meu socorro e o meu libertador; meu Deus, não te demores!



Dias melhores
Prá sempre...
Prá sempre!
Sempre! Sempre! Sempre!...


Ps.: Escrito por um guerreiro, Davi, e pelo Jota Quest.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mulher na Polícia? Pode isso Arnaldo?

Caríssimos leitores, essa tirinha veio, com a devida autorização, do Blog do Charlie. Um dos meus blogs policiais favoritos. O autor é um Escrivão  muito talentoso da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Ele escreve diariamente, desde abril de 2011 e pelo jeito, nunca perde o Humor.

domingo, 15 de julho de 2012

Outros fatores.


Meus piores momentos na Academia não tiveram nada a ver com o curso de formação em si. Eram fatores externos que vez ou outra me atormentavam. Engraçado que a última coisa com o que você se preocupa nessas horas é com a meteorologia, né? Apanhei um pouco do clima bipolar da cidade. Prova de tiro na chuva. Putz! Ainda bem que a arma era de fogo, o que  esquentava a adrenalina. E o corridão na aula de educação física? Arre, do nada, meu nariz começa a sangrar... Fiz o que podia... Levantava a cabeça, olhava pro céu, tossia, engasgava... Às vezes é necessário diminuir a velocidade até dar uma estabilizada. Me recuperei no tempo certo e ainda consegui chegar junto com a turma. Ninguém quer ficar pra trás, sozinho e atrasado. Na chegada, alguns colegas se assustaram porque tinha sangue na minha camiseta e perguntaram preocupados se eu tinha sofrido algum acidente no caminho. Foi legal. Chato foram alguns probleminhas de ordem doméstico-sentimental-desnecessário-inconvenientes que conseguiram ludibriar a segurança do perímetro e atingiram em cheio meu desempenho em sala de aula. Imaturidade emocional e carência juntas é uma droga e a Academia ainda ri da tua cara. Fiz o que podia... Levantava a cabeça, olhava pro céu, tossia, engasgava... Às vezes é necessário diminuir a velocidade até dar uma estabilizada. Resultado: minha média caiu umas trinta posições no runking geral da escola em pouco mais de uma semana (havia um runking informal que os meninos atualizavam a cada nota divulgada e eu tava bem pra caramba!). Essa  média não deu pra recuperar, mas cheguei bem, graças a Deus, e sem sangue na camiseta. A hemorragia era interna.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Nova missão.


O último exercício do curso me fez pensar no quanto nos expomos nesse tipo de missão. Trata-se de chegar no trabalho pela manhã e ter de encarar uma coisa terrível, que pra mim é muito pior do que prova do CESPE: tem certas frentes de trabalho na polícia em que, se você marcar umazinha errada, vai anular todas as certas. E eu jurando que julgar verdadeiro ou falso fosse uma questão objetiva.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Pra quem quer saber.

Na vida real, o clarão da sua arma disparando um tiro é um relâmpago. E o barulho é um trovão. O resto é correria e gritaria no plano de fundo, porque o som principal é o seu coração disparado. Tum-tum, tum-tum, tum-tum...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Preparar...

 
 
  • O bonezinho é da polícia australiana de Queensland. Foi presente de um policial com quem trabalhei.
  • O abafador de ruídos e a submetralhadora foram fornecidos pela instituição que promovia o treinamento.
  • O colete foi comprado numa loja de artigos de pescaria, no interior. É uma adaptação funcional, porque era necessário cobrir a arma pequena (Isabella).
  • A blusa de manga cumprida é do Departamento de Polícia de Nova York. É da seção de crianças de uma loja de souvenirs.
  • A calça é a da PRF. Era parte do uniforme dos professores daquele curso no qual fui "instrutora". Foi comprada numa casa de coisinhas militares aqui na cidade onde trabalho.
  • O coldre, as joelheiras (que servem também pra andar de patins), os óculos de proteção e o boot são de uma loja especializada em artigos policiais também em Nova York.
  • O cinto é modinha militar, vendem super barato numa feirinha lá na minha cidade.
  • A munição é de verdade, mas os alvos são de mentirinha (papel e metal). 
  • O olhar é de uma colega que captou essa foto (sem photoshop) durante um treinamento e eu nem vi. Muita adrenalina. Se é assim na escolinha, imagina na vida real.

domingo, 13 de maio de 2012

Servir, proteger e acreditar!


Eu me lembro que o Agente Roger Murtaugh foi meu professor na Academia. É um antigão que esbanja classe. O cara é um gentleman! Além de temperar a aula com comentários perspicazes, ele se vestia impecavelmente bem e foi extremamente educado. Claro que prestei atenção na matéria, mas você sabe, mulher observa tudo e mais alguns detalhes. Estava aqui descaradamente levantando a ficha dele. Caprichoso... Trabalhou em várias áreas interessantes aqui da polícia. Lugares em que não é qualquer um que pode trabalhar, entende? Sei que ele cumpriu muita missão delicada por aí. Eu não vou definir "missões delicadas". Mas saiba que Jack Bauer se preparava para chefiar essa equipe, não tivesse o Zero-Um convocado Roger Murtaugh para emplacar o que me parece ser mais uma de suas desafiantes missões especiais. Porque certas operações têm um forte cunho, digamos, político-motivacional pra nossa Polícia. Jack Bauer não deve ter gostado muito dessa decisão, mas concordou em dar todo suporte ao colega. Agora, o que realmente me impressionou foi que o  Zero-Um deu carta-branca ao Roger para escolher quem ele quisesse pra compor uma equipe fixa só pra trabalhar nisso. E é aqui que eu entro. Estou morrendo de ansiedade enquanto aguardo o trâmite da papelada. O Agente Roger Murtaugh é o meu novo chefe.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Os três mosqueteiros.

Os instrutores do curso dos franceses eram três que chamarei de Athos, Porthos e Aramis e havia um quarto elemento que não era instrutor, apenas cuidava da parte administrativa do curso - o D'artagnan. A abordagem francesa nesta área em que trabalho é bem diferente da nossa. Eles têm um preciosismo impressionante com a forma e a estética do trabalho. Nós não. Somos orgulhosamente marrentos e por isso mesmo tivemos algumas dificuldades.

Nosso pessoal estava muito cético com relação a esses instrutores e sua doutrina.  Os alunos faziam corpo mole nas instruções e os atrasos eram constantes o que irritava bastante o corpo docente. Por outro lado, D'artagnan fazia muita propaganda dos equipamentos que eles tinham trazido o que irritava bastante os alunos. Havia um obstinado interesse comercial que bem poderia ter ficado menos evidente. O clima não estava nada bom. Houve até um princípio de discussão, porque um dos alunos entendeu que Athos, o professor da maior parte das aulas práticas (e o mais metidinho também) estava xingando os alunos em francês... Bom, se xingou não foi comigo. 

Na boa? Sei ser prática quando me convém. Me concentrei o tempo todo no que havia de bom e ignorava o resto. Sabe? Tipo "visão de túnel", fechada no que interessava e pronto. Tava nem aí se a tradutora da embaixada traduzia "paniquer" como "panicar". Na verdade os três mosqueteiros me conquistaram fácil. Primeiro porque eu não tenho a vivência dos mais antigos então qualquer coisa que eu aprender será lucro. Portanto, estava muito bem disposta nas aulas teóricas e práticas. Vibrando e transpirando aquela intensidade de quem não tem tempo a perder. E tava sempre atenta para aprender até nos intervalos, com a humildade pura de quem não sabe nada, mesmo... Eu sou assim naturalmente, burrinha e feliz. Segundo, porque eles faziam estudos de caso mostrando os próprios erros. Isso eu acho muito legal, sincero e raro nesse concurso de vaidades que é a polícia. Você já leu "Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumás? É uma leitura que recomendo. Mas leia as versões originais, mais grossas, e não esses livrinhos editados para o Jardim da Infância. Se você não sabe, o autor fala bastante em sexo, boemia, traição e bebedeira nesse livro. Realismo.

Ao final os alunos fizeram uma apresentação muito bem elaborada para o Zero-Um da Polícia e ele se mostrou muito satisfeito. "Coisa de cinema", ele disse. E, para nooooooossa alegria e surpresa três alunos do curso (eu, inclusive) foram escolhidos pelos instrutores franceses para fazer a "parte dois" desse curso em Paris, na França. Não sei dizer o quanto fiquei feliz. Não só pelo curso, pela Franca e por ter sido escolhida. Mas porque descobri que parece que levo jeito, ou melhor, tenho pelo menos uma certa afinidade com alguma área nesse vasto campo de trabalho que é a polícia. Mas também pode ser por causa das minhas pernas. Essa foi a explicação que ouvi de um colega lá do setor do Jack Bauer, para o fato de eu ter sido escolhida para fazer esse curso e ele não. Não sei se isso foi uma ofensa, uma cantada ou se ele tem celulite.

É, mas isso também não tem a menor importância, pois nenhum dos alunos selecionados vai fazer curso em Paris, apesar de meus esforços desesperados de colocar o Francês em dia. Porque alguém lá do alto-escalão, um corrrrrrrno filho de chocadeira desalmado, entendeu que fazer curso na França era missão para um delegado novinho que não trabalha na área e não participou de curso algum. Realismo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sobrou pra mim.

A última vez que o fascínio apareceu junto com esse sentimento de impotência eu quase tomei uma punição. Querer acertar é um desejo, não é uma garantia de que tudo vai dar certo. Na hora da decisão é você sozinho e uma angústia que gruda no seu pescoço a te sufocar e  a urgência! Sem treinamento, sem parâmetros, sem modelos, sem alguém que me puxe pelo braço nessas horas e diga “vem comigo que eu sei o caminho!”. Falta ar. Me sinto perdida, tateando, esmurrando no escuro e não encontro a saída. Por isso esse curso significou tanto pra mim.

Que bom pra você que foi trabalhar em áreas inóspitas e aprendeu a fazer de tudo um pouquinho. Muita gente fala isso e estufa o peito “Minha primeira lotação foi no Infeeeeerno, moleque”. Mas sabe que pra mim isso não quer dizer muita coisa? Hum rum, eu sei. É legal fazer clínica geral porque você tem a visão do todo e coisa e tal. Super-master-cool, mas nem levanto as sobrancelhas. Eu admiro mesmo é quem tem pedigree. O Clínica Geral sabe de tudo um pouco, mas sabe quase tudo mal. Concorda? E quando ele não consegue resolver o teu problema ele vai te olhar de forma mais oficial e vai te mandar para o especialista. E eu quero mesmo é resolver o problema. Chega de dúvidas! Eu quero é ter respostas. Quero ter certezas. Quero ter um nome, cujo sobrenome seja minha especialidade. Entendeu? Tipo assim: “Sabe a Márcia da Homicídios?”, ou “Me liga com a Carol da Entorpecentes”. Desculpa tá, mas eu quero ser o Romário que fica na banheira, mata a bola nos peitos, bate pro gol e pronto, está resolvido. Quero fazer vários cursos e  vários gols  na mesma área. Grande área.

Falando assim, dou a impressão de que tenho a vastidão da minha carreira policial toda seriamente traçada, né? Esta sou eu, mentindo pra mim mesma. Porque eu tô é batendo cabeça e atirando pra tudo quanto é lado. Desesperada. Flertando com várias delegacias ao mesmo tempo. Inquieta, me infiltro onde deixam a porta aberta. Sou tipo mulher que se apaixonou pelo amante. Devia estar cuidando da minha “casa”, trabalhando direitinho com aquele meu chefe amargo, que ouve "Yesterday" com Tom Jones. Mas vivo pulando as cercas dessa monotonia geométrica atrás de aventuras. É por isso que gosto de trabalhar com o Jack Bauer. Porque a porta lá sempre se abre milagrosa e irresistivelmente pra mim.

Meu nome não estava na lista de matriculados, obviamente. Porque esse curso é para esses caras que já têm nome na praça. Só que na sexta-feira, o bam-bam-bam de determinada região deu pra trás, sendo que o curso começaria na segunda-feira da semana seguinte. Ligou para o Jack e avisou que não viria porque tal e que não tinha ninguém pra indicar para a vaga dele no curso (Tente achar um servidor público em sua seção numa sexta-feira à tarde. Alguns até “esquecem” o casaco majestoso na cadeira pra dizer que estão na área...) Sem saber de nada eu entro na sala aproveitando a porta aberta pra dizer alguma coisa do serviço que achava que poderia ser importante. O Jack, que já havia feito sinal pra eu entrar com aquele jeito autoritário dele, após colocar o fone no gancho, perguntou sério, como quem não vê nada de cínico nisso: “Quer fazer o curso dos Franceses?”

sábado, 24 de março de 2012

Nem doeu!


Entendi o motivo de ter tanto colega meu que pode estar vendo o circo a delegacia pegar fogo, mas não move uma palha além daquilo que lhe é estritamente exigido. É uma coisa chamada desmotivação. É porque alguém em algum lugar do passado provou pra eles que não vale a pena lutar e fazer a diferença. Aquele famoso espírito de "novinho empreendedor", que deixa no ar aquele hálito de garra e motivação que arde em excitações dentro no peito, deixou-se matar. Aceitam tornar-se profissionais meia-boca, sucumbidos pelo medo de sofrer. Esqueceram-se dos gritos de guerra da Academia, e aceitam viver entre as quatro paredes da acomodação. Desistiram.

É assim que vejo a alma do meu chefe. Talvez eu estivesse um pouco distraída ou talvez seja ele mesmo que se esconde por trás daquela barba grossa e fechada.  Aquela plaqueta que identifica a mesa dele deveria conter a inscrição "Senhor Frustrado". Pelo fato de ele, um agente já da "Classe Especial", estar naquele setor fazendo o que faz, das duas, uma: ou ele apostou errado em algum ponto no passado da carreira dele, achando que ia se dar muito bem... ou ele é mesmo muito incompetente. É difícil trabalhar com um chefe assim, sem se deixar contaminar.

Por isso que eu fujo dele e insisto em trabalhar como reforço noutro setor. Vi que ele se sentiu diminuído quando o Jack me ofereceu a última vaga naquele curso dos Franceses (o povo aqui adora um certificado! Internacional, então...). E o olhar estranhamente frio dele quando precisaram de alguém que falasse outro idioma para aquela missão específica. Eu fui e ele ficou. Consegui entender por que ele se sente tão mal com isso. É porque ele é antigão, deve ter sofrido muito no início da carreira, então ele acha que eu não posso me dar bem porque sou novinha! Pronto, falei. Vocês acham que é fácil pra ele encarar o fato de uma guriazinha com tão pouco tempo de casa ter recebido um elogio escrito de um "Tiranossauro Rex" (chefe de polícia bacanudo)? Elogio esse que veio descendo a longa cadeia alimentar de comando até chegar nele pra depois chegar em mim?

É duro, sim! Aprendi que destacar-se por qualquer coisa boa no serviço público é uma manobra muito arriscada e pode te custar caro. Porque igual a uma cobra sorrateira que surge por atrás da moita (sossega mulherada!), ele esperou o momento exatinho para dar o bote certeiro. E esse momento, no meu caso, chama-se “avaliação de desempenho”. Acho que ele procurou até nos recônditos mais escuros de sua maldade algum item dentre os disponíveis na referida avaliação para me acusar de ter deixado a desejar em alguma área. E achou! Evidentemente não entendi o motivo de ele ter me avaliado a menor naquele item e perguntei: “Mas como? Por acaso eu faltei algum dia ao serviço?” Ele ironicamente respondeu que, de certa forma sim, porque eu trabalhava mais no setor do Jack que no setor dele. Logo, ele não poderia dizer que eu era assídua na "minha" seção...  Olha o naipe do veneno... Aí eu ri, né, argumentando que todas as solicitações de reforço que o Jack faz são devidamente documentadas, respaldadas e fundamentadas e que, em sendo assim, quem deveria fazer a minha avaliação era o Jack. E depois chorei de raiva, porque quem avalia o servidor é o chefe de direito, do setor onde você é lotado a maior parte do período referente à avaliação. E não o meu chefe de fato – Jack Bauer - Entendeu?

Mas que droga de probatóriooooooo!!!!

O que me revolta não é o prejuízo na carreira. Os pontinhos que ele tirou são praticamente insignificantes, tipo um 9,5 sabe? Mas a minha indignação e revolta é porque tem um quilo de APFs (Agentes de Polícia Frustrados) naquela porcaria daquela delegacia que só trabalha mal e quando quer e ele vem tirar ponto meu, que trabalho voluntariamente feito uma burrrrrra de carga, varando noites e tudo mais? Ahtelascá, né?

Espera sentado quem pensa que eu vou puxar saco de alguém pra tirar nota máxima em qualquer tipo de avaliação que supostamente possam fazer por aí. Já falei para o Jack que pra seção do meu chefe "de direito" (absurdo isso!) eu não volto! Se ele não conseguir me remover para o setor dele que me ajude então a ir pra SVU, ou pra qualquer outro lugar, tô aceitando até função de cão farejador! Mas para aquela delegacia, não volto mais! Morro, mas não me entrego!

sábado, 10 de março de 2012

Ninguém disse que seria tão difícil.


Queria reencontrar aquela professora de redação da Caixa e aquele professor de judô do SESI... Ah, e o instrutor de tiro da Academia da Polícia Civil e o professor de educação física da Academia da PM do meu Estado... A lista  é grande das pessoas que me ajudaram naquela fase tensa de preparação para o concurso. Queria que soubessem que reconheço tudo o que fizeram por mim, e queria assegurá-los, queria deixá-los tranqüilos, enfim, queria muito que eles tivessem certeza de que eu não vou decepcioná-los.

Eu não vou decepcionar você. Sei o que você representou nesta minha jornada até aqui. O primeiro empurrãozinho quando eu ainda nem imaginava um dia estar aqui. A tua força constante. Você foi comigo em todas as provas e vibrava com minhas vitórias. Você sempre segurou a onda numa boa. Relevou minha ausência. Me sustentou durante um bom tempo, e fez isso tão naturalmente, como se o fizesse por si mesmo. Sem drama e sem cobranças. Lembra que eu te ligava da Academia, chorando baixinho, morrendo de saudades de dormir com você? E você viajava pra ficar comigo nos finais de semana. Aquilo me fazia tanto bem. Você tem esse dom de fazer meu coração acelerado dormir no compasso certinho. Ok, eu já entendi que meras palavras não vão te convencer disso. Na ventania eu ouço os pensamentos desses teus “amigos” e estremeço. Eu vou insistir, tá? Agora é a minha vez de segurar as pontas e não vai ser fácil. Homem desempregado (estressado e deprimido) em casa, não é fácil. Olha, que se dane o que os outros fazem, falam ou pensam. Eu não vou decepcionar você.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Na própria carne.


 Tá se tornando difícil demais escrever. Mas também posso dizer que tudo não passou de mais um sonho ruim, não posso? Adiante. Noto que a maioria dos policiais escapam de falar sobre certas tristezas com as quais não conseguimos conviver muito bem. Também eu preferiria jamais ter que falar a respeito. Como se ninguém soubesse que isso acontece nas melhores policias. Ocorre que, visto de perto, o estrago parece ser bem maior. Mandado de prisão contra colega é de lascar! E o quê?! Eu fiz uma missão com essa garota e conversamos por um tempão naquela noite. Rimos muito e falamos das dores e delícias de sermos o que somos! E... pra variar, não percebi absolutamente nada! Será que nunca vou me sentir legitimamente policial? As letras estão escurecendo. Quero ficar sozinha e tentar limpar o sangue no olho. Não consigo  enxergar o momento desgraçadamente exato em que uma pessoa desmorona do nível: “policial novinha” para o nível "bandida perigosa e foragida".