sábado, 22 de agosto de 2015

Petulância.



Com tantas cidades no mapa, eu vim parar nesta. E com tantas operações rolando, eu vim trabalhar justo nesta. E com tantos colegas mais indicados que eu para escalarem, vim a ser chefe da melhor missão da minha vida.

Para pessoas normais, só havia uma vantagem em ser chefe: eu não precisava ficar na fila pra ser entrevistada pelo pessoal da coordenação. E a fila era grande, porque a missão era grande. Eles queriam saber quem tinha melhores condições de trabalhar onde, mas já me conheciam. Era a terceira vez que eu cumpria missão nessa cidade. Olha, sei pouca coisa sobre sistemas de informação de pessoal, mas evidentemente o nosso não serve pra nada. Sucesso.

Mas pra mim, ser chefe era a chance de fazer diferente, corrigindo os erros que plotei em todas as outras missões que trabalhei. Eu acho que é esse tipo de petulância que oxigena a polícia. Pelo menos tem algum novato tentando fazer melhor, concorda?

Nem todos concordam.

O primeiro momento tenso foi durante os reconhecimentos quando um dos antigões da minha equipe, o qual me olhava furtivamente, insinuou que eu tava exagerando. Ouvi, mas com todo respeito, continuei na mesma toada. Nesse tipo de operação eu tenho mais experiência que você, antigão, pensei.

Me deram 10 colegas pra trabalhar. Não conhecia nenhum deles. Distribuí as funções pelas habilidades que percebi em cada um. Respondi todas as perguntas deles no briefing, com fotos e informações precisas de tempo, distâncias, horários, nomes, motivos, etc. O antigão que não queria dar o braço a torcer, disse pra eu não me preocupar que tudo dá certo no final. Não sei se ele tá sendo otimista ou quer me provocar. Nem sempre dá tudo certo no final. E, hellooooo, meu papel é justamente não deixar nada dar errado.

O segundo momento de tensão como sempre acontece, foi "a aproximação" e isso era comigo. O cliente entrou comigo no elevador. Ele é bem agradável e elegante. Fez um elogio que mexeu profundamente com minha concepção do papel da mulher na polícia. Mas esse não é o tipo de elogio que a gente conta para os coordenadores da operação. Não vai constar nos meus assentamentos funcionais. Deixa quieto.

O terceiro momento crítico  se deu porque uma colega da equipe apontou um problema que eu não tava muito querendo ver. Tínhamos um elo fraco na equipe. É por isso que é difícil ser chefe. Quero muito o tutorial pra lidar com colega deslumbrado com o glamour desse tipo de operação. Pedi a ela apenas pra monitorar isso pra mim. Ela entendeu e colou no problema, neutralizando-o até o final. Acabei de conhecê-la e ela já se tornou minha melhor amiga na polícia.

O restante da operação fluiu muito bem. Com muito jogo de cintura, todos os nossos parceiros de outros órgãos e instituições corresponderam à altura, exceto um, que me deu um sonoro e áspero "não", quando eu pedi uma mãozinha, deixando claro que nossas linhas de raciocínio e prioridades são absolutamente incompatíveis. Mas tudo bem, porque o antigão estava certo, eu tava mesmo exagerando. Com isso, aprendi que, uns se expõem demais e desnecessariamente. Outros não querem se expor de jeito nenhum. Ok, porque eu não sei ainda onde começa um e termina o outro.

Foi, com toda certeza, a missão mais arriscada dessa minha vidinha policial. Um verdadeiro campo minado. Apesar de ter tido tanto pra dar errado, deu tudo certo e terminamos a missão com muita pompa, triunfo e Champagne na cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da cidade.

Tenho uma forte sensação de que Deus manda anjos de "Operações Especiais" para protegerem os meus pés de pisarem nos lugares errados. Só pode! Valeu, meu Pai!

Ps.: nessa missão, recebi um convite muito interessante para trabalhar fora do país e da polícia. Pensando muito sobre isso. Bora ver se rola?