quarta-feira, 21 de julho de 2010

Enquanto você rezava.

Eu: Mas por que ele?
Chefe: Porque ele é um dignitário do altíssimo clero, Novinha.
Eu: Mas por que eu?
Chefe: Porque você é mulher, fica uma segurança mais discreta.
Eu: Mas então o quê?
Chefe: "Então o quê" o quê, menina!?
Eu: Os anjos estão em greve?

sábado, 17 de julho de 2010

Efeito colateral.

Tinha alguém observando a diligência policial. Era uma menininha de uns 5 anos, creio. Ela me estende uma folha de caderno dizendo que é um presente. Era o desenho de uma mulher segurando uma arma enorme em uma das mãos. Horrível, mas era eu. E como odiei ser o que ela viu... Agradeci o presente e investiguei, na tentativa de minorar o estrago, "Ué... e essa arma enorme aqui, mocinha? Eu não estou segurando arma nenhuma..." falei deslizando os dedos pelos cabelos de boneca dela. "É, mas você tem uma 'iscudida', não tem?" Na verdade eu portava duas armas individuais, uma na cintura e outra na canela, sem contar as de uso coletivo que não estavam comigo naquele momento. Melhor mudar de assunto. "Você é muito linda e muito espertinha sabia?" Ela sorriu e eu insisti "Mas eu também não estou usando esses saltos altos chiquérrimos como você desenhou. Olha aqui a minha botinha". Eu me apegava a detalhes querendo convencê-la (ou me convencer) de que havia algum engano e que aquele desenho não podia ser eu. Então ela explicou direitinho que aquilo realmente era salto de modelo, que eu sou modelo para ela que seria, então, a minha estilista. Assim entendi que "monstra" não era eu no desenho mas essa baita responsabilidade.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Na cela dessas dores.




"Amar é um deserto e seus temores

Vida que vai na cela dessas dores

Não sabe voltar

Me dá teu calor"

(Djavan)


Dormi com o roupão que você me deu no dia dos namorados. E só. Ele é tão macio e tão gostoso, amor, mas não aquece o meu peito como você prometeu que ele faria em caso de você não estar por perto. A saudade está me machucando mais do que deveria. Procurei seu tornozelo pra encaixar o meu pé a noite inteira. Não veio o seu corpo me cobrir. Não senti a sua respiração pesada, perfeita, a me tirar o fôlego. Sinto falta do seu cheiro, do seu gosto e do jeito como você me desperta. Não foi você que me acordou hoje cedo, amor, foi a tristeza. Ela veio me perguntar, às cinco e meia da manhã, se eu tinha certeza que você me amava. Não dormi mais. Covardia, porque se eu estivesse aí ela não teria vindo. Levantei, tomei um banho pra limpar a mente, urgente mente, mas era só água brincando gostoso no meu corpo e dúvidas não saem no banho. Queria saber se a terra congelou ou se é só mesmo a sua ausência. Choveu cinzas ou é medo esse tom gris na paisagem? Você pode mandar um beijo quente pra mim, amor? Basta isso e devolvo quando voltar, com juros e tudo mais a que você tiver direito. São custos que as diárias das viagens a serviço não cobrem.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Me chama de lagartixa.

Não escondo quando sou fã de alguém. Tem um colega aqui na delegacia que exerce um fascínio sobre mim e sabe disso. E eu peço: "me ensina", "me ajuda", "me faz ser como você", mas ele não me dá a mínima atenção. Por um milhão de vezes saiu andando e me deixou falando sozinha. Ele me deixa sem respostas. Me deixa querendo. Dizem que é o jeito dele e ele pode ser o que ele quiser, porque ele é um agente bem mais experiente. Ele é um líder. Ele sabe. Ele simplesmente é. Já dei todas as dicas desse mundo, diretas e indiretas pra ele me levar pra trabalhar com ele naquela seção. Diz que me quer, mas não age. Acha que tenho potencial, mas me falta a bendita experiência. Certa vez, comentou com um outro agente nestes termos "Quando tiver uns dez anos de casa ela será uma ótima policial". Dez anos... é tudo o que ele tem a dizer a meu respeito. Então eu me alimento das migalhas que caem da mesa dele, como uma lagarta que não vê a hora de se transformar em borboleta.

Um dia, me chamou pra acompanhá-lo em uma visita muito importante. Entenda que se ele faz é porque é importante, senão ele mandava outro e ele manda muito bem. Chegamos ao gabinete de um político muito bem relacionado, mas terrivelmente encrencado. Nos identificamos formalmente e todas as portas se abriram, porque o figurão precisava da gente. Arrego! Como o mundo muda quando a polícia é necessária! Sentamos os três pra discutir um problema. Sabe quando você só pensa em não cometer nenhuma gafe e não atrapalhar nada? Não demorou pra eu chegar à conclusão de que era melhor ficar caladinha, pequenininha, conformadinha. Enquanto colocava a situação, o político deixava bem claro que a palavra "polícia", pra ele era sinônimo de "capacho para meus caprichos" dizendo: "Façam assim e assado, não quero que seja deste nem daquele jeito..." Até que encerrou o discurso com uma pergunta: "Estão entendendo bem?" Congela. E antes que eu me levantasse e fizesse uma continência gritando "Sim senhor!!!" (de onde tirei essa continência?!), meu colega, que ouvia tudo com cara de paisagem, fez uso da palavra. O que ele disse, num resumo prejudicado pela minha parca capacidade de síntese, foi isso: "Faremos o trabalho que nos compete do nosso jeito, ou seja, do jeito da polícia e não do seu jeito, excelência".
Todavia, meu colega era tão seguro, tão adequado, tão bem preparado, tão profissional, tão convincente, tão senhor da situação, tão incisivo, tão capacitado, tão eloquente, tão educado, tão nobre, tão articulado, tão necessário, tão MBA, tão forte, tão príncipe, tão perfeito, tão bonito, tão Jack Bauer que o político foi mudando o tom de voz e passou a nos perguntar como ele deveria proceder pra colaborar. Cruzei os braços, corrigi a postura para o modo "a-polícia-é-f.era" e assisti de camarote a dinâmica da conversa mudando ali na minha frente. Agora o figurão pedia a nossa autorização para fazer alguma coisa que nem nos cabia autorizar... e quase pede desculpas por ser um... político! Era um verdadeiro espetáááááculo de arena e meu colega Jack Bauer levantou-se viril, abotoou o terno Jack Bauer dele e saiu de cena com a mesma elegância Jack Bauer com que entrou, como se ser Jack Bauer pra ele fosse fácil, uma coisa banal. A fotografia que faço de meus 1,78 m de altura (O.k , eu tava de salto... Tá bom, um salto enorme!) ao lado desse colega gigante ao despedirmo-nos é a de uma grande promessa. Ele vai ter que me ensinar, ah vai.