sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Mas falem de mim.

Na polícia existe um arquivo onde fica registrado o seu conceito perante a instituição, a sua "ficha" ou a sua "pasta", acho que o termo correto é "assentamentos funcionais". É lá que guardam o seu termo de posse, seus dados pessoais, certificados, seus elogios, promoções e punições. Seu histórico. Mas isso é só uma formalidade. Eu acho que ninguém consulta essa porcaria quando precisa recrutar alguém para uma missão especial, como é feito nos filmes policiais. No máximo eles pedem um nada consta seu na Inteligência e pronto. Imagino. Mas acho que o que realmente conta aqui dentro é o que é falado a seu respeito nos corredores. Sério. Tem histórias de policiais aqui dentro que eu já ouvi várias vezes contadas por pessoas diferentes, em lugares bem diferentes. São as lendas. E pode acreditar, seu perfil interna corporis, digamos assim, começa a ser formado na Academia (cara... vai por mim, que eu sei o que estou falando). Isso me traz um certo pavor, porque não é um método muito confiável. Se é que existe algum método confiável de avaliar pessoas, né? As pessoas só contam os fatos sem narrar as circunstâncias, os motivos... Mas o Agente Roger Mutagh respeita muito essa análise que os colegas fazem uns dos outros. Pelo que entendi, foi devido ao meu conceito perante meus colegas que eu vim parar aqui (por indicação do chefe é que não foi...). Curiosa, descobri que foi um colega lá do setor do Jack Bauer, que sugeriu meu nome numa dessas conversas informais pra fechar os escolhidos desta equipe onde sou a única mulherzinha (Operação Branca de Neve e os sete anões). É lógico que eu fui tirar essa história a limpo com o Roger e ele confirmou dizendo que o colega avaliou assim o meu trabalho: "ela gosta muito e sabe fazer direitinho". Imagina "Ele" (meu amor) ouvindo isso a meu respeito. É melhor eu explicar, logo. "Amor, olha, não é nada disso que você tá pensando. O que meu colega quis dizer é que tem muita mulher que gosta, mas não sabe fazer, eu concordo com ele e digo mais, a maioria das que não gostam é justamente porque não sabem fazer, entendeu?". Não. Ok, porque essa realmente não seria uma explicação convincente. Não estou reclamando, confesso que gostei de ouvir isso e mais ainda de estar aqui. Mas vocês vão concordar comigo que uma frase dessas dita fora do seu contexto... aumentaria consideravemente a minha popularidade aqui dentro! Certeza!

Ps.: Senhores, tem texto novo na "Confraria"

terça-feira, 21 de agosto de 2012

É claro que o sol vai voltar amanhã.



Tem dias que portas e janelas estão fechadas e é só escuridão.  E eu torço para que essas canções depressivas, de melodia ruim, que só falam de um fim iminente, parem logo de tocar. Hoje, ele sorriu pra mim depois de um longo e frio período de inverno. Um sorriso macio de quase primavera, como há muito tempo eu não via no rosto dele. Riu sem tirar os olhos dos meus e eu não queria desviar o olhar pra não perder nem um segundinho daquele momento iluminado. Amei saber que consegui fazê-lo rir daquele jeito de novo pra mim. Mesmo que Ele tenha rido de mim. Nenhuma dor ou tristeza pode ser maior que um sorriso desses. Estamos vencendo essa depressão. Nossa. Eu tinha me esquecido de como era bonito o sorriso dele.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tá fácil pra ninguém não.



Falei pra vocês que aqui no meu setor umazinha errada anulava todas as certas, lembram? Mas depois, quando dei aquele balão espetacular na imprensa (e tem gente que ainda me chama de modesta), acabei achando aquela frase um tanto quanto exagerada. A má notícia é que infelizmente eu não estava exagerando. Um colega meu, aqui da equipe do Agente Roger Murtagh, o Dunga, acaba de ser dispensado. "Dispensado" é um eufemismo porque ele sequer teve a chance de exercer seu direito de defesa. Mal teve tempo de se despedir da equipe. Calma. Ele continua sendo policial, só não vai mais continuar trabalhando nesta equipe. Motivo: levou um balão espetacular de um jornalista... E porque eu deveria estar preocupada, né? Só porque não quero ser a próxima? Porque não quero ser devolvida para Aquela Delegacia? Ou simplesmente porque estou sentindo um cheiro de batata assando? Que nada... Tanto é que já reuni conteúdo para umas cinco páginas de estudo deste caso, apontando (para mim mesma, claro) falhas que poderiam ter dado causa a este erro e levantando possíveis posturas preventivas. Vou até sugerir a compra de novos equipamentos. Faltou, por exemplo, uma bola de cristal porque meu colega não tinha como advinhar o que iria acontecer. Seria muito proveitoso, também, colocar um cesto grande para os policiais deixarem do lado de fora todos os seus problemas pessoais enquanto estiverem em serviço (o Dunga tinha tido recentemente um considerável trauma familiar. Que ninguém considerou). Ah, e não poderia faltar também super óculos visão raio-xis! É claro que o Dunga não pisou na bola porque quis, né gente, ele foi enganado pelas aparências, ou circunstâncias. É, mas desde quando policial pode ser enganado? Sabe qual é o problema? Durante o probatório todo mundo conclui que não pode confiar em você porque você não sabe nada; depois do probatório eles também não vão confiar em você porque você não sabe tudo.

Créditos: essa é outra tirinha do Charlie. Thanks Charlie!

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Supremacia do interesse público.



Sabe quando há uma situação e você passa batido? Sabe quando você fica dias e dias ruminando frases que você poderia ter dito naquela ocasião? Sabe quando você decide não fazer alguma coisa quando poderia ou deveria ter feito? Sabe, né. Pois é, mas dessa vez não teve nada disso. Tudo dando errado e meu sangue já tava quente enquanto meu colega permanecia imóvel lá no fundão com cara de samambaia. "Quer saber?" Pensei. "Dane-se o plano A, o plano B e o plano C"! (será que tínhamos um plano "C"?). Era eu quem estava mais próxima da porta, então fui... Só uma perguntinha irritante: existe uso da força sem protestinhos indignados? Claro que não, mas juro que agi no estrito cumprimento do dever legal e viva o fim do probatório! Pane sanada, tomei a primeira escadaria de emergência que encontrei no prédio. Era isso ou voar pela janela... Desci desvairadamente os quatro andares e consegui chegar à garagem onde a área estava "limpa". Controlei a respiração, arrumei o cabelo, fingi que nem era comigo e ainda dei um sorrisinho para o vigilante gatinho (marketing profissional). Embarquei no carro do Imortal  e não falei palavra, como se toda aquela excitação alucinada fosse coisa de rotina. Na hora é puro êxtase, depooooois você começa a pensar: "nossa, e se der algum problema... e se isso, e se aquilo..." Até agora ninguém comentou nada. Acho que é um bom sinal. Pelo que ouvi na hora, os repórteres que presenciaram os fatos concluíram que eu era alguma funcionária abusada da casa anfitriã. Existe julgamento precipitado da imprensa? Porque eu não disse isso! Tá vendo porque é bom sempre ter uma mulher na equipe? A gente tem cara de tudo, menos de polícia.