sábado, 28 de agosto de 2010

Afogando as mágoas.

Eu o.d.e.i.o (profunda ênfase nessa palavra, por favor) quando eles saem para alguma operação e me deixam aqui de molho! Vontade infinita de crescer, fazer e aconte-SER, mas aonde?! Primeiro: como é que vou adquirir experiência cercada de paternalismo por todos os lados? Segundo: quando é que esses caras vão passar a me levar a sério? E terceiro, mas não menos importante, este blog tá virando emo?!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pais e filhos.

Meus dois neurônios não sabem mais o que dizer. Enquanto um lamenta a morte de mais um colega e se desespera o outro procura consolo e canta trechos fora de ordem de uma música triste:

Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe
O que aconteceu...


A Academia é o útero orgulhoso e exigente que gera os policiais "novinhos" e aborta sem dó os considerados inaptos.

Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito...

Com o brado de "NUNCA SERÃO!" ela embala os sonhos de quem quer vestir a camiseta de polícia mais linda desse mundo.

Dorme agora
É só o vento
Lá fora...

Pra ter a prerrogativa de portar este distintivo, você passa por um milhão de provas, sob um austero controle de qualidade. É urgente estar inteiro física, moral, intelectual e psicologicamente. E ai de quem não estiver bem preparado, pois durante o curso a Academia falta lhe pedir o coração numa bandeja, independentemente de sexo, idade, experiência, crença, convicção filosófica, condição financeira, partido político, estado civil, ou de sua capacidade de fazer beicinho.

Me diz, por que que o céu é azul?
Explica a grande fúria do mundo...

"Não sabe a resposta?!? Paga cinquenta flexões de braço! Não há desculpas... Não gostou??? Pede pra sair!!!". E você dá o sangue rindo, orgulhoso de fazer parte dos poucos que sobreviveram à saga do concurso policial e se joga!

Ela se jogou da janela
Do quinto andar
Nada é fácil de entender...

E ao bater no chão você percebe que era pura pirotecnia, porque depois que você finalmente toma posse, ainda com os joelhos ralados, encontra um número impressionante de policiais largados, abandonados, machucados, estuprados, decepcionados, alcoólatras, obesos, anabolizados, adulterados (Eu moro com a minha mãe mas meu pai vem me visitar), deprimidos, infartados, estressados, workaholics, solitários, insones, fracassados como pais (São meus filhos que tomam conta de mim...), suicidas em potencial, cheios de desculpas e o pior de tudo, armados!


Quero colo!
Vou fugir de casa!
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo, tive um pesadelo.
Só vou voltar depois das três...

Somos a noiva linda, maravilhosa e apaixonada que se prepara toda para o sonho do casamento e se cuida tão somente até o final da lua-de-mel, porque com o advento das decepções deixa-se destruir aos poucos igualzinho à mulher mal amada que toma raiva de si mesma e do mundo.


Isso me entristece um bocado não só por eles, mas porque estou ouvindo vozes dizendo "Eu sou você amanhã, Novinha". Será que você ainda não entendeu que eu não vou seguir seus passos? "Não me ensina a morrer que eu não quero"*.

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais
Não entendem
Mas você não entende seus pais...
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?


Que desgraça, antigão! Perdemos mais um colega... Vem, senta aqui perto de mim e me convença de que não foi ele mesmo que se matou.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar
Pra pensar
Na verdade não há...
(Legião Urbana)
*Marisa Monte em "Perdão, você"

domingo, 1 de agosto de 2010

Não me provoca.

E se eu te disser que conheço esse olhar, que percebo logo sua alegria tonta de meia satisfação disfarçada quando me vê chegar? Às vezes, não preciso olhar para ver que você está me olhando. E eu quero tanto esconder minhas vulnerabilidades e agravantes. Mas você quer deitar e rolar em cima disso. E se eu te disser que quem está vulnerável é você, guerreiro? Te flagrei desviando um olhar tímido e teimoso, como se relutante em me perder de vista. Você estava procurando o que no fundo dos meus olhos? Você não sabe. Não sabe que está completamente desarmado. É tanta força pulsando violentamente nas tuas veias endurecidas e me espanto em ver teu coração tão exposto, sonhando fantasias ao sereno. Você, claro, vai querer jogar a culpa em mim. Vai dizer que foi aquele dia em que pedi sua ajuda para imobilizar com um esparadrapo um dedo da minha mão que doía ao movimentar-se. Eu vi com olhos de mulher a tua boca trêmula tão logo recuei com uma expressão de dor. Você pediu desculpas por ter pressionado sem querer o local lesionado, mas a sua voz já tinha mudado. Era tarde demais. Era triste demais. Contato físico demais: regra número um! O ferido é você, parceiro. Você está delirando. Caiu ardente de febre pela minha dor, não foi? Se você quiser eu assumo a culpa... Pronto. Mea maxima culpa. Só não me provoca, te imploro como quem faz uma prece. Deixa doer... Não comece o que você não dá conta de terminar e me perdoe, mas não vou colocar poesia nenhuma neste texto.