sábado, 23 de março de 2013

O vestiário feminino.

Sabe o que as mulheres policiais mais fazem no vestiário feminino? Choram. Choram porque querem um amor; choram porque querem outro amor; choram porque não são reconhecidas; porque não são correspondidas; choram quando não conseguem atingir as expectativas de todo mundo; choram quando não querem corresponder às expectativas de ninguém; choram porque não conseguem conciliar vida pessoal e trabalho; choram porque se sentem culpadas;  choram de raiva; choram quando as tratam diferente; choram quando as tratam igual; choram quando querem o que não têm; choram de medo de perderem o que têm. As mulheres policiais também choram.
 
Chegou ao meu conhecimento de forma extremamente desagradável que há comentários a respeito de um suposto caso que eu estaria tendo com o meu chefe. Que maravilha, né? Era só o que me faltava. Tenho ódio de mim mesma quando me importo com essas questões xexelentas, mas é que fico preocupada com as outras pessoas envolvidas! Desagradável. Tanto, que abri o jogo com meu amor logo e contei tudo o que estava acontecendo.
 
Por que é tão difícil digerir o fato de que uma mulher pode trabalhar bem na policia? Quando não acham nada pra falar mal do seu trabalho, adotam um discurso pronto da marca mais vagabunda existente no mercado: fazer fofoca da sua vida pessoal. O resultado são estas pérolas do pensamento evacuadas: "Tem que ter algum motivo pra essa novinha ter sido escolhida pra trabalhar na equipe do Roger"; "Por que você acha que tanta gente naquele setor já foi substituído e ela não"; "Por que será que o Roger tá dando as melhores missões pra ela?"; "Por que o Roger protege a Novinha até na hora de pagar a multa que ela recebeu?".
 
Até agora não acredito que me dei ao trabalho de fazer uma postagem sobre isso...
 
Meu benzinho sabe quando eu fico abatida com alguma coisa. Sabe que eu não gostaria de ter que pedir pra sair do setor do Roger, mas também sabe que eu não seria capaz de permanecer lá sabendo que ele se sente de alguma forma desconfortável com uma situação dessas. Deixei pra ele decidir. Não sei se o Roger tá sabendo desses comentários e também não vou perguntar pra ele. Até porque agora isso também já não vai mais ser problema meu. Meu bem já disse que se toda vez que eu tiver esse tipo de problema eu pedir pra sair... vai ser fogo, né? E ele tem razão!
 
Se alguém extraiu alguma lição útil desse episódio tosco me avisa, porque eu não penso em mudar um til no meu comportamento por causa do que aconteceu. Não vou deixar de ser mulher pra evitar ser alvo de fofoca. Aliás eu já tô cansada desse suposto dilema de gênero na polícia "feminilidade versus cargo de autoridade". Vaskatar! Parece até que ser mulher, ou melhor ser feminina exclui a competência... 
 
Ao contrário do que pensa quem tá de fora, nem todas as mulheres bonitas que vejo na polícia querem fazer uma carreira levando vantagem em cima de seus atributos físicos. Vejo tanta menina na polícia que parece ver na própria sensualidade um problema. Outro dia mandei um abraço para um professor da Academia por intermédio de uma colega e ela respondeu pra eu mesma fazer isso porque o professor era casado... Quequéisso, gente!
 
Sério! Incrível, mas eu até arriscaria em dizer que parece que quanto mais feminina, delicada, sensual, bonita é a menina que quer trabalhar sério na polícia, mais medo ela tem de não ser levada a sério! Que praga! Será que eu é que estou errada? Porque pra mim, quanto mais preocupada com essas questões menor é o cérebro da mulher. Quer saber? A preocupação em ser respeitada é tanta, que muitas policiais dentre as que querem muito fazer um serviço de excelência aqui dentro, chegam ao ponto de querer meio que compensar suas características femininas com a adoção de um estilo masculinizado, o que imprime nelas uma imagem mais agressiva do que as outras colegas reconhecidamente delicadas, femininas, sensuais. O que elas não percebem, ironicamente, é que junto dessa imagem agressiva acabam demonstrando um comportamento grosseiro, irritadiço, arrogante que gera maior aversão e antipatia ainda dos colegas e superiores, tornando-as naturalmente evitáveis e menos provável sua progressão na carreira. Adianta?

domingo, 3 de março de 2013

Investimentos.

 
A diferença pode estar no fato de que eu vim de família pobre, né? Ganhava um salário mínimo por mês. Mas aquela empresa tinha um dos melhores planos de saúde que conheço e pagando um pouquinho a mais incluí minha família toda. Meu bem já está trabalhando de novo. Passou aquela depressão maldita. Já saímos do aluguel. Compramos nosso apartamento e, claro, estamos pagando as prestações. Também trocamos de carro. Faltou um pouco de dinheiro mas pedimos emprestado ao meu tio à época, e agora já está pago! Ajudo lá em casa sempre que surge algum imprevisto e contribuo com a faculdade da minha irmã, com muito prazer. É o mínimo que eu posso fazer como retribuição à força que ela me deu quando eu vim pra cá.  A minha irmã carrega água no jacá por mim, se eu precisar. Além disso, eu sei bem o que é não ter grana pra pagar a faculdade. Mesmo trabalhando em projetos sociais pra ganhar algum desconto nas mensalidades, às vezes atrasava, e também faltava grana pra pegar ônibus, pra lanchar, pra almoçar. Livro? Esquece... Praticamente morei na biblioteca estudando pelos livros da Reserva. E o peso em não poder decepcionar? Por isso que eu brinco com a minha mãe hoje, dizendo que ela fez o melhor investimento da vida dela: ela investiu em mim. Enfim, não posso reclamar de jeito nenhum! Deus é o meu Pai e ele tem me dado muito mais do que preciso. E quando olho para os lados, tenho consciência de que o que recebo é muito mais do que mereço. Então, se eu for parar pra pensar, já tenho motivos acumulados pra comemorar pela vida toda e o que vier é lucro.