quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pede pra sair.

Melhor ter sofrido um trote daqueles que demonstram logo o "tipo sanguineo" do "sangue novo" que chega na polícia, a ter que aguentar essa mulher. Mais velha e mais antiga na casa que eu, ela implica dia e noite com meu sotaque, desaprova meu estilo street wear, recrimina minhas convicções políticas, faz piada da minha fé e torce contra o meu time de futebol. Adora me provocar, mas sempre levei em banho-maria e procuro manter distância segura. Finjo que nem é comigo. Em qualquer lugar do mundo isso seria bullying, mas aqui é normal que peguem no pé dos novinhos, ou de onde vocês pensam que veio a frase "Nunca serão!"? Dá vontade de pedir pra sair, mesmo. Só que o delegado percebeu, me chamou na sala dele e perguntou se eu queria que ele interferisse na situação. Imagina! Claro que eu disse que não. E o quê? Delegado se metendo em guerra de agentes? Porém, ele me fez perceber que a situação era mais grave do que eu imaginava e agora consigo entender algumas coisas estranhas que aconteceram. Mesmo assim insisti: "Muito obrigada, chefe, mas meus problemas resolvo eu. Já sou grandinha pra saber me cuidar". Mentira, porque né? Depois que saí da sala dele chorei igual criança sozinha. Agora eu sei... dores que a gente não entende são mais difíceis de tratar.

sábado, 22 de maio de 2010

Não faço a menor questão de ser fofa.

O delegado passa por mim apressado, me entrega um papel com nomes e respectivos números de telefone. Pede pra ligar e cancelar a reunião da tarde. Motivo: viagem. Tá... Pego o primeiro nome da lista: Daniel Inácio (fictício, né, meu povo...). Chama. Mal o telefone toca o sujeito atende.
- "Alô". (Voz de homem).
- "Oi, bom dia, o senhor Daniel Inácio, por favor".
- "Quem gostaria?" Ele perguntou. Só disse que era aqui da polícia e ele continuou. "Então você quer falar com o CORONEL Daniel Inácio"?
- "Por favor". Respondi, analisando o esmalte das unhas. E alguém quer saber a patente dele? Pensei.
- "Hummm, só um minuto, vou transferir pra ele". E a ligação caiu... Eu ligo de novo. Essas coisas acontecem. E ouço a voz do mesmo atendente.
- "Alô".
- "Oi, falei com você agora mesmo, pedi pra falar com o coronel Daniel Inácio e a ligação caiu". A cor e a textura desse esmalte são realmente fabulosas.
- "Ahhh, agora sim!!!" Comemorou ele. Tirei os olhos do esmalte e ele continuou: "Então você quer falar com o CORONEL Daniel Inácio??? Pois pode falar". Descruzei as pernas, me ajeitei na cadeira com os cotovelos na mesa, franzi a testa e conferi pra ver se estava entendendo direito. Onde é que fica o coronel na hierarquia militar? Não sei. Perguntei pausadamente:
- "Espera... então O SENHOR é o coronel Daniel Inácio?" Olhei de cantinho para o Parceiro que estava lendo alguma coisa. Ele já olhou pra mim rindo... Pisquei pra ele como quem diz "aguarde".
- "Sou eu mesmo. Agora você pode falar, minha filha". Gente, quase não acreditei!!! Será que esse corno pensa que é a rainha da Inglaterra? Pior! Esse sujeito tá se achando no direito de me enquadrar porque eu não o chamei de coronel??? Respirei fundo e a maldade já estava expressa no sorrisinho de um lado só da boca. Eu disse:
- "Ahhmm, não precisa mais não, viu? NÃO É NADA IMPORTANTE, CORONEL? NADA!" E pá! Bati a porcaria do telefone na cara dele, atendendo ao consagrado princípio da reciprocidade muito prestigiado no relacionamento entre as polícias.
Assim, um coronel veio marchando sozinho pra reunião que não teve, pra deixar de ser babaca. Palhaço!
Moral da história: Secretárias precisam dominar a arte de lidar com as vaidades; Agentes de polícia, não. Mulher na polícia é o quê?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Prerrogativas do cargo.

Ultimamente tenho tido pesadelos frequentes envolvendo morte em operações. Sonho que fui baleada, que estava desarmada, que a arma estava quebrada, que meu parceiro é bandido, que não consigo correr, que não consigo gritar, que não consigo. Então ele me abraça, me cura e me deixa dormir no melhor lugar do mundo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Relatório de missão.

Só posso descrever meu estado como ebriedade profissional. Foi bom, intenso e muito gratificante participar da missãozinha chata, na qual ninguém acreditava, e que por isso mesmo caiu de bandeja no meu colo. E embora um delegado constasse como chefe da operação e houvesse discutido comigo cada ponto do plano, tinha que fazer outras coisas e acabei, por ironia do destino, assumindo o rock n' roll todo. Era eu tentando ensaiar meus passinhos tímidos na imensidão do universo policial. Todavia, o susto foi grande porque a operação evoluiu. Aumentaram o som, as cores e a moral da história. Pelo fato de ter acompanhado tudo desde o início era eu que tirava dúvidas dos colegas no brieffing (pasmem!). Por alguns instantes realmente senti toda a beleza de fazer parte de uma equipe de polícia, tal qual uma peça bem engrenada na força da máquina..., mas ainda é cedo. Segue. Me lasquei de tanto trabalhar e de tanta pressão porque se "tocasse o barata voa" (abafa!) eu não sei nem se saberia por onde começar. Oi, aquela fase de curso de formação acabou, baby. Não tem nenhum instrutor aqui pra tirar a gente do desespero e é terminantemente proibido errar! Não. Claro que meus erros não passaram em branco. Fizeram críticas quanto à "estética da coisa". Ok, não poderia passar sem críticas, mas logo sobre estética!? Se todo o resto estava bem então isso foi um tremendo elogio! Eu acho graça porque era uma missão impossível de dar certo. Mas deu e a causa era nobre! Graças a Deus pude dormir em paz. Hoje, meu coração acordou em ritmo de fé, pronto para novos horizontes, porém antes tenho que lavar essa camiseta suada que por vezes me deixa encharcada de orgulho.