
Em um jantar de casais, discuti, não-sei-pra-quê, com um amigo meu. Um professor de História que foi meu namorado. Ele criticou, por mera indução semiológica, a ação de um policial militar noticiada na TV. Contestei veementemente a teoria dele e quando dei por mim já estava bastante alterada questionando o seu espectro limitado marcado ridiculamente por inclinações negacionistas, histéricas e apedeutas. Mas na verdade eu estava brigando era comigo mesma. Eu não me aguento mais! Ele não deve ter entendido nada, coitado. Achou que ainda estava falando com aquela universitária que trabalhava com meninos de rua. Sabe, a gente pode até voltar pra casa um dia, mas não volta como era antes. Volta diferente. A atividade policial (inclusive a Academia) às vezes mexe com certas coisas dentro da gente... É como um corte profundo que fica latejando inflamado por um bom tempo. Se alguém encosta você grita! Grita porque dói, porque irrita, porque sim, oras... Eu sei lá por que... Eu sei que tenho que tentar equilibrar as coisas, e não está sendo fácil. Num momento você tem que ser sensível pra aceitar as mãozinhas do seu filho fazendo carinho no seu cabelo. E daqui a pouco tem que se endurecer para não ouvir o choro de uma mãe que está vendo o filho dela ser preso pela polícia. É complicado fazer essa transição.