A última vez que o fascínio apareceu junto com esse sentimento de impotência eu quase tomei uma punição. Querer acertar é um desejo, não é uma garantia de que tudo vai dar certo. Na hora da decisão é você sozinho e uma angústia que gruda no seu pescoço a te sufocar e a urgência! Sem treinamento, sem parâmetros, sem modelos, sem alguém que me puxe pelo braço nessas horas e diga “vem comigo que eu sei o caminho!”. Falta ar. Me sinto perdida, tateando, esmurrando no escuro e não encontro a saída. Por isso esse curso significou tanto pra mim.

Falando assim, dou a impressão de que tenho a vastidão da minha carreira policial toda seriamente traçada, né? Esta sou eu, mentindo pra mim mesma. Porque eu tô é batendo cabeça e atirando pra tudo quanto é lado. Desesperada. Flertando com várias delegacias ao mesmo tempo. Inquieta, me infiltro onde deixam a porta aberta. Sou tipo mulher que se apaixonou pelo amante. Devia estar cuidando da minha “casa”, trabalhando direitinho com aquele meu chefe amargo, que ouve "Yesterday" com Tom Jones. Mas vivo pulando as cercas dessa monotonia geométrica atrás de aventuras. É por isso que gosto de trabalhar com o Jack Bauer. Porque a porta lá sempre se abre milagrosa e irresistivelmente pra mim.
Meu nome não estava na lista de matriculados, obviamente. Porque esse curso é para esses caras que já têm nome na praça. Só que na sexta-feira, o bam-bam-bam de determinada região deu pra trás, sendo que o curso começaria na segunda-feira da semana seguinte. Ligou para o Jack e avisou que não viria porque tal e que não tinha ninguém pra indicar para a vaga dele no curso (Tente achar um servidor público em sua seção numa sexta-feira à tarde. Alguns até “esquecem” o casaco majestoso na cadeira pra dizer que estão na área...) Sem saber de nada eu entro na sala aproveitando a porta aberta pra dizer alguma coisa do serviço que achava que poderia ser importante. O Jack, que já havia feito sinal pra eu entrar com aquele jeito autoritário dele, após colocar o fone no gancho, perguntou sério, como quem não vê nada de cínico nisso: “Quer fazer o curso dos Franceses?”