segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O casamento da minha melhor amiga.


Há situações na vida que fazem a gente se sentir um artista de picadeiro. "Senhoras e senhores, uma salva de palmas pra Novinha! Ela acaba de perder sua melhor amiga por causa de um amante dela" (da amiga, hein!).

Onde já civil... Arrisquei a amizade de uma vida (ou talvez uma vida de amizade, sei lá!) pra salvar um casamento e consegui! Marido e mulher fizeram as pazes, estão se entendendo sozinhos, como tem que ser. Os filhos agradecem. De nada. Porém, nenhum dos dois quer mais falar comigo. Ok, ok! Não está mais aqui quem só falou a verdade! Adiós, amiga... Em frente.

(Sou do tipo de pessoa que nessas horas pensa seriamente se não deveria ter investido meu precioso tempo no amante. Ops!)
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ninguém é insubstituível.


Além de elogios e do reconhecimento institucional, existem sim, muitas outras formas bem mais sutis, mas não menos importantes, de você se sentir verdadeira e excitantemente prestigiado na polícia.
 
Já tinha ouvido o nome dela ser pronunciado várias vezes por outros colegas da polícia. São essas interligações cognitivas positivas que dão sentido racional ao termo "policial de renome" que ela é. Antigona, daquelas que fazem parte da escola de policiais que, apesar de tudo, escrevem em caligrafia impressionantemente artística sua história na polícia. No mesmo nível do Jack Bauer, do Roger Murtaugh, da Cigana, ela tem lugar de honra na minha Galeria de Heróis Policiais Vivos. 
 
Casada com um também respeitável colega da minha gloriosa polícia (o marido dela é outra lenda!). Têm filhos. É atiradora de elite em várias modalidades de tiro. Pra você ter uma noção, ela é tão especial que dá aulas na Academia, mas só em cursos selecionados para quem já é policial especializado. Dá aula pra novinho não, entendeu? Tudo na vida dela parece que foi simbioticamente selecionado. E mais: ela tem aquela cara metafórica de "decifra-me.ou.te.devoro". Esse equilíbrio poético que ela vive me inspira melancolicamente, me estimula a querer crescer. Quero muitomuitomuito ser igualzinho a ela quando crescer.
 
Tivemos uma conversinha rápida por esses dias. Além de linda, notei nela uma simpatia singular! Mas o melhor de tudo é que, pra minha surpresa, é ela quem está me substituindo lá no setor onde eu trabalhava antes. Ou seja, sem chance de eu voltar pra lá quando terminar esse meu período temporário aqui. Mas te juro que não tive o menor problema com isso. Fiquei feliz. Fiquei sim!
 
Segue a tríade do meu pensamento dissertativo em prol dos motivos que me restam para rir da minha própria tragédia, drama's.queen.
 
Primeiro porque aquele lugar é "peruado". Muitos colegas homens queriam trabalhar lá. Mesmo assim, colocaram outra mulher no meu lugar (Às vezes passava pela minha cabeça que eu só estava lá por um capricho do Roger. Porque soube que se a equipe fosse do Jack, nenhuma mulher teria a menor chance - por puro machismo, óbvio!) Se eu tivesse pisado na bola, a minha saída seria uma oportunidade para generalizarem e defenderem que ali não é lugar pra mulherzinha. Só que não. Mesmo que o Roger já esteja aposentado, o chefe atual manteve a ideia de ter pelo menos uma mulher entre os oito.

(Roger recebeu uma senhora proposta na iniciativa privada, e se aposentou enquanto eu estava fazendo aquele curso com os militares).
 
Segundo porque se ela está lá, aquela função é realmente estratégica, é política. Ou seja, não é pra quem quer é pra quem não vai atrapalhar o que já foi conquistado. Pelo fato de ela ter sido designada pra trabalhar lá, eu posso te garantir que a função está sendo muito valorizada. Pode crer.
 
Terceiro, se ela foi pra lá, pelo menos teórica e metafisicamente falando, é pra dar continuidade ao que eu vinha fazendo, certo? (risos e ataques histéricos de euforia).

Conclusão: caraca, moleque... isso pra mim é a glória.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Madrinha de casamento.

 
Vou todos os meses à minha cidade pra me consultar com meu médico (que na verdade é o médico da minha família). Estou gastando horrores por não ter conseguido encontrar um médico da minha confiança nesta cidade, mas em contrapartida, tenho tido mais oportunidades de rever meus amigos antigos. Era pra ser uma vantagem.
 
Só que, numa dessas viagens, uma grande amiga minha me contou que tinha recém traído o marido. Por que ela me contou isso? Porque somos confidentes, temos essa mania adolescente de confessamos mutuamente os nossos piores segredos. Por quê? Porque nos conhecemos bem, ao ponto de sabermos que por pior que tenha sido o deslize cometido, não haverá julgamentos, nem apedrejamentos, nem lições hipócritas de moral. Ou seja, ela não esperava que eu fosse tomar as dores do marido dela que também é meu amigo.
 
Dei corda, perguntei como isso aconteceu e ela se esqueceu de que estava, até então, fazendo o gênero arrependida.perdida.e.sem.saber.o.que.fazer. Me contou uma história muito de cinema. Lembrou-se até da trilha sonora que era a música da Adriana Calcanhoto que rolava no apartamento do cara, quando ela decidiu ficar com ele naquela tarde... Aquele momento em que você entende que sua amiga foi abduzida para o mundo fantástico da ilusão.
 
Preciso avisar que sou dessas que ficam querendo tomar as rédeas da vida da pessoa quando vejo a vaca indo para o brejo... Podia ter dito pra ela refletir um pouco sobre suas ações; podia ter dito pra ela procurar ajuda psicológica; podia ter dito pra ela se proteger... Só que não. O que eu disse foi: "Liga pra esse cara agora e termina essa palhaçada. Não vou sair daqui enquanto você não acabar com isso". Eu sei, eu sei, eu sei, mas oi! Eu fui madrinha desse casamento. Ela? Riu da minha reação, né, e inventou uma desculpa qualquer pra não ligar naquela hora, reconhecendo que isso era uma loucura e prometendo que poria, sim, ~depois~, um fim nessa história. Não sei dizer porque eu achei que tava com essa moral toda, mas foi meio que  mais forte do que eu.

Daí que me deu um medo danado, uma indignação esquisita e uma vontade de falar: "ô minha filha... Você tá casada porque quis". Ah, gente, pôxa... não tem dor pior do que traição, tem? Mas me lembrei de que ela sabe exatamente como é a dor de ser traída, porque foi o marido dela quem traiu primeiro. Deixei quieto. Porque ela sabe como é essa dor de ser traída. Foi o marido dela quem traiu primeiro.
 
Cara, enfim. Estou contando essa história apenas pra dizer que além de estar atolada em serviço até a tampa, ainda preciso parar tudo o que estou fazendo pra atender o marido dela, meu amigo, que me telefona chorando várias vezes durante o expediente, se contorcendo em desespero, angústia e dor. Ela mesma contou pra ele.